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FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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quarta-feira, 27 de novembro de 2019

AMAZÔNIA 10X2 “CIVILIZAÇÃO” V

Evandro J.S. Oliveira

Transamazônica, uma rodovia que não leva a lugar nenhum


A Rodovia Transamazônica, ou BR-230, foi construída durante a presidência de Emílio Garrastazu Médici. As obras começaram em 1969, só que se estenderam até 1972, sendo chamadas de “faraônicas”, devido à sua grandiosidade. Fazia parte dos grandes projetos, do Governo militar, tornando a Amazônia produtiva, de valor muito maior para as contas nacionais, sem perder sua condição nacional.
Realizada durante a Ditadura Militar, é a 3ª rodovia brasileira em extensão, posto que mede 4.260 km. Ela liga as cidades de Cabedelo, na Paraíba, a Lábrea, no Amazonas.
Ela é tão grande que corta sete Estados, a saber: Paraíba, Ceará, Piauí, Maranhão, Tocantins, Pará e Amazonas. Considerável parte dela ainda não é asfaltada, ficando praticamente intransitável no período das chuvas.
A intenção de se construir a Transamazônica foi ligar a Região Norte com o restante do Brasil. Inicialmente era uma estrada bem planejada e que interligaria as regiões Norte e nordeste, com o Equador e o Peru.
Ela teria oito mil quilômetros asfaltados, só que foi inaugurada em 27 de agosto de 1972 ainda inacabada. Diante das muitas dificuldades enfrentadas e da falta de recursos, o trajeto foi diminuído para 4 977 km, até Benjamin Constant. No final das contas, no entanto, as obras se interromperam em Lábrea, no Amazonas, totalizando apenas 4.260 kms.
A Transamazônica é considerada uma rodovia transversal, posto que corta o Brasil no sentido Leste-Oeste. 3ª mais longa rodovia brasileira, ligando Cabedelo/PB a Lábrea/AM.
Ela passa por importantes cidades paraenses, como Altamira, Marabá e Itaituba. Na Paraíba, ela liga João Pessoa, Campina Grande, Patos, Pombal, Sousa e Cajazeiras. Essas cidades têm um grande desenvolvimento econômico, além de propiciarem a circulação de mercadoria e de pessoas.
Foto - 1
No trajeto pela Paraíba (foto 1), a estrada tem 147,6 quilômetros de extensão asfaltados e duplicados. Essa excelente infraestrutura contribui para o escoamento das riquezas produzidas na região. Mas a parte que não está ainda pavimentada fica intransitável na época das chuvas, que é entre outubro e março.
A Transamazônica tem também um saldo negativo, posto que propiciou um genocídio de várias nações indígenas. Houve também um estímulo ao desmatamento, já que a região da estrada perdeu considerável cobertura vegetal.
A Rodovia Transamazônica foi um ambicioso programa de desenvolvimento de reassentamento econômico. Só que para muitos é considerada um grande fracasso, tendo em vista o que nela se gastou e o resultado não alcançado. O presidente Médici estava disposto a combater a miséria no Nordeste e para isso teria que promover uma reforma agrária. Criou então um Plano de Integração Nacional, dando prioridade à construção da Transamazônica. A intenção era instalar meio milhão de colonos na floresta Amazônica.
O plano era assentar essa gente toda ao longo da rodovia, posto que viveriam em agrovilas construídas a cada 10 Kms. Cada família receberia uma gleba de 100 hectares, além de um salário-mínimo por um tempo. Em contrapartida, teriam que transformar a floresta em terras agrícolas.
Ocorre que não se pensou na preservação ambiental, desconsiderando-se que a camada fértil do solo é estreita. Com a falta de nutrientes, o solo se esgotou com rapidez. Por outro lado, sem a cobertura da floresta, a erosão avançou e tornou a terra inútil. Some-se a isso a falta de pavimentação da estrada, que a tornava intransitável por metade do ano[1].

Vale descrever trechos do repórter Fernando Morais em sua viagem à BR230, logo após sua inauguração, percorrendo toda a sua extenção, produzindo a reportagem com o título “O SONHO DA TRAZAMAZÔNICA ACABOU”.

...A estrada começou a piorar cada vez mais. Às vezes a erosão provocada pelas últimas chuvas tinha feito estragos tão grandes que sobrava apenas uma estreita faixa de terra, exatamente da largura de um carro de passeio. Em ambos os lados a estrada ti­nha desabado completamente. Num desses trechos, a camioneta de um engenheiro do incra que então nos acompanhava (para mostrar o funcionamento do sistema de colonização) quase des­pencou.
...Seguindo o roteiro de viagem feito para nós pelo DNER em Belém, deveríamos almoçar e reabastecer o carro em Rio Repartimento, no quilômetro 410. Com alguma surpresa descobrimos, por volta do meio-dia, que Rio Repartimento é apenas uma pe­quena favela de tapiris de pau-a-pique, à beira da estrada, onde não havia nenhum restaurante. A única coisa que conseguimos foi renovar o estoque de água mineral e reabastecer o carro, en­chendo o tanque e os dois galões sobressalentes.
Por volta do quilômetro 460, passamos com o carro em bai­xa velocidade, na esperança de poder fotografar índios das tribos paracanã e curucuruí. Com as reservas da Funai perto de Mara­bá fechadas por causa do surto de meningite no Sul, temíamos o que acabou mesmo acontecendo: atravessar toda a Transamazônica sem ver um índio sequer. Na região do rio Curucuruí - al­guém nos disse antes - costumava-se ver alguns índios na beira da estrada, “vigiando a terra”. Ali é uma antiga reserva da Funai, delimitada antes da abertura da estrada. Sem saber disso, o INCRA incluiu as terras dos índios entre as glebas a serem distribuídas pa­ra os colonos. Por três vezes, as 86 famílias curucuruís e paracanãs ameaçaram invadir as glebas e expulsar as cinquenta famílias de colonos. O impasse só foi resolvido com a remoção dos colo­nos para outra área, alguns quilómetros adiante, fora da reserva.
Passamos devagar por aquela região, mas só perdemos tempo.
A média de velocidade que conseguíamos desenvolver nes­se trecho era bem mais baixa do que a do trajeto Estreito-Mara­bá. Das 36 pontes sobre igarapés construídas entre Marabá e Altamira, apenas sete sobreviveram ao inverno deste ano. Tivemos que parar o carro 29 vezes para atravessar as pinguelas colocadas no lugar das pontes destruídas.
Às duas da tarde paramos num barzinho miserável em Arataú, junto ao marco divisório da colonização. Até lá, a responsa­bilidade é do INCRA de Marabá, e, dali em diante, do INCRA de Altamira. O bar tinha geladeira, que não estava funcionando. Como almoço, carne de veado (que parecia ter sido caçado semanas an­tes, de tão ruim) e farinha. Mas não tínhamos escolha: ou comía­mos ali mesmo ou teríamos que resistir em jejum até Altamira.
Num canto do bar, deitado em uma rede, um demarcador de terras do INCRA comentava que, ao tentar fazer uma demar­cação na mata, a quatro quilômetros da estrada, ele tinha encon­trado uma pequena tribo de índios, mas todos pacíficos. A tem­peratura devia girar em torno dos quarenta graus, e o homem contava essas histórias sem muito entusiasmo, preguiçosamente espichado na rede. Do outro lado do bar, nós ouvíamos, beben­do cerveja quente.
...Mas nem todo o esforço dos jovens agrônomos do INCRA foi bastante para apagar as marcas dos erros cometidos pelo governo há três anos, no início da colonização. A atração de colonos, que deveria ter sido feita paulatinamente, à medida que houvesse  condições de recebê-los em poucos meses lodos os lotes à beira da estrada estavam ocupados, e não havia casas nem infra-estrutura para receber tanta gente início da colonização.
Os colonos que não conseguiram lotes à beira da estrada e tiveram de se contentar com terrenos nas estradas vicinais estão em situação ainda mais desesperadora. Para que houvesse acesso, todos os lotes “de fundos”, o governo deveria ter construído cerca de 3 mil quilômetros de estradas vicinais. Mas até agora há menos de mil quilômetros de vicinais abertas. E, mesmo assim, as estradinhas que já foram abertas praticamente desaparecem após três invernos amazônicos.
A pergunta que se fazia na época da inauguração era:

PARA QUE SERVE A TRANSAMAZÔNICA[2]

 Dinheiro pessimamente aplicado, hoje quase toda destruída, devastadas em milhares de quilômetros, aumentando doenças tropicais para os récem moradores e levando as doenças da “civilização”, aumentando o extermínio dos selvículas.

Em tempo, o atual governo pretende retomar a construção desta estrada.


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