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FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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domingo, 21 de julho de 2019

QUERELAS LITERÁRIAS DE ANTIGAMENTE I.


Lendo o jornal  “A FLÔR”, coletânea histórica deste hebdomadário  do ano de 1921, organizado pelos santanopolitanos Carlos A.A. Mello e Carlos A.O. Brito, patrocinado pela Fundação Senhor dos Passos – Núcleo de Preservação da Memória Feirense Rollie E. Poppino, me deparei com uma contenda de cinco colunistas no mesmo jornal.
Quando nós lemos história, a primeira questão é tentar se enquadrar à época em que o relato se deu. É interessante verificar o mais ou menos semanário, dado que o espaço destinado a esta briga tomou dezenas de páginas, para um transbordamento de egos com violência verbal de todos os participantes. Como a briga é longa, dividi em capítulos.
A PEDIDO
DE COMO GUIOLARDO FAZ ARTIGOS

Há já pouco ano que o jovem e talentoso académico de medicina-Guilardo Cohim, se vem apresentando como meteoro raro neste nosso restrito âmbito intelectual, aonde muitíssimo recopilada é a pleiade dos que cuidam da cultura literaria, logrando por esta circunstancia sairem ilesos de critica os seus artigos, julga o rapaz que está produzindo custosas joias de literatura.
Mais eu que tenho o defeito de obrar segundo as minhas ideas naturalmente opostas as dos meus religionarios, eu que costumo dizer mal de tudo quanto a mim não me parece bom, eu que penso ser a critica indispensável ao desenvolvimento da arte e da ciência, não posso de modo nenhum esquivar-me de proceder ligeira referencia acerca das suas excelentes produções, apezar de que me eu julgo também suscetível a critica.
Foi no salão nobre do grémio litero-dramatico Rio Branco, ora derrocado, que o jovem Guilardo Cohim proferiu estraordinaria conferencia literaria, versando em tése sobre a legendária Grecia de Solon, de Xenofonte, de Platão e de Temistocles, sugestionando o seleto auditorio com o vigor do seu verbo eloquente de orador predestinado.
Falou-se, falou-se então de Guilardo como se fala de um sabio portento. A gente do Rio Branco, mui pouco apercebida na matéria, vibrou de entusiasmo, aplaudiu calorosamente o novel e já tão esclarecido letrado, que discorreu com tão grande sabedoria e veracidade.
Mas eu parece-me que lia então o colosso historico de Cesar Cantu e o Helenismo de Oliveira Martins, não podia jamais concordar com as opiniões estravagantes de Guilardo. E se eu assim o não hovera feito, teria antes que renegar os historiadores mais ilustres. Hoje té me rependo depois que as não segui. Vejamos agora de como Guilardo falou das ciências, artes e tetras dos antigos helénicos, de sob as teorias insensatas de historiadores mediocres.
Disse o jovem academico na sua eletrisante conferencia, maculada de erros gramaticaes, foi Demostenes o mais celebre tribuno da era antiga. Diante desta sua justa e sabia clasificação de moço versado em altos conhecimentos de historia universal, fiquei desde logo percebendo a sua debilidade intelectual e minguada cultura cientifica e literaria, para dizer algo sobre a patria de Homero e de Aristoteles.
Sem duvida Guilardo é o primeiro historiador que não crê na existência do eminente autor das «Catilinarias,» e o critico profundo para quem o vulto ciclopico de Pericles, não passou de uma vaperosa sonbra de creança.
Honcken o grande historiador alemão, procedendo em erudição e criterio a Cesar Cantu e Victor Coussin, resalta a superioridade de Pericles sobre Demostenes. O adepto aplicado depois de um estudo minuncioso, procura então equipara-los e tirar a ilação de qual dos dois é o verdadeiro principe da arte oratoria. Diz o illustre latinista dr. Cesar Zama na sua obra intitulada “Os Trez Grandes Oradores da Antiguidade,” que, logo após o autor das primorosas «Cartas a Coerelia,» surge a figura respeitável de Pericles.
Demostenes foi íncontestavelmente um génio, e Pericles, sobre ser tarmbem um genio, era um artista original e insuperavel.
Nem mesmo sobre Demostenes que é o seu Deus e o seu homem, Guilardo Cohim não discerniu com exatidão e clareza.
Esqueceu-se Lisias o fecundo orador que preduziu mais de trezentos discursos, como fez a Isocrates o famoso retor ateniense que defendeu Friné, acusada no tribunal por pretender introduzir no paiz uma nova religião. Esqueceu-se também de mencionar os debates poeticos entre Pindaro e Cerina, esqueceu-se de Teocrito o bucolico, de Aspasia que fundou uma escola aonde ela mesma insinava eloquência e retórica: e, mais tarde condenada pelo tribunal por arrastar donzelas à sua casa para satisfazer a lubricidade de seu esposo Pericles, foi brilhantemente defendida por este, que, para liberta-la, alçou-se aos pinaculos da eloquencia e da retórica. Deixou aparte o velho Diogenes e o seu disciplo Antistenes, procedendo igualmente para com Zeno que foi o predecessor do Darwinismo, e Aristotelis que juntou a filosofia e a metafisica num só corpo, e foi sucedido na Inglaterra por Spencer, o objetivista.
Foi assim que Guilardo Cohim falou sugestivamente da arrojada e esclarecida Grécia.
Agora surge-me ele de novo, fazendo-se jornalista de pulso forte, com façanhas de Rochefort, citando Palas a deusa da guerra e da sabedoria, e Vargas Vila o trágico liberalista.
Devido porém ao limitado espaço deste jornalsinho, deixo de lhe esclarecer minunciosamente aos senhores as duas faltas gramaticaes em que Guilardo incorreu.
Diz ele no seu primeiro artigo: « ... Nós que cedo aprendemos a admirar o passadode nossa terra...não podiamos deixar de chorar...
O segundo é no seu derradeiro artigo.
“O glorioso exercito nacional não desmentiria jamais as suas tradições excelsas de grandeza aquelles cujo sangue regou os campos do Paraguay...”
A sua conferencia é o que são os seus artigos; verdadeira xaropada de farmacologo reles.
Aluizio de REZENDE
Notas do Blog: 1) os erros por acaso encontrados, são do português da época ou da tipografia. Na sequencia da série, notaremos a briga de acusação de erros da língua.
2) este texto é um Facsimile do jornal "A FLÔR" edção nº12 de 10 de julho de 1921. pag. 2, 3

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