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FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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domingo, 3 de fevereiro de 2019

QUEM FOI O ALCAGUETE?

Evandro J.S. Oliveira

Quando descobrir o sacripanta, energúmeno, f. da p., que anda me dedurando, tocarei fogo nos seus cabelos de baixo para ficar estalando, mesmo que graveto no fogo em pasto no verão. Martiniano estava realmente fulo de raiva, era sua característica quando começava com xingamentos excêntricos e terminava com palavras de baixo calão. Pessoa muito austera, severa, disciplinador fora da “25 de março”. Nesta filarmônica saia da sisudez e se transformava num ser fidalgo, de excelente humor, um humor teatral – foi ator no grupo de teatro amador do Monte Pio Feirense – não contava piadas, representava casos que dizia verídicos, porém se alguém os repetisse não tinha graça, só Martiniano contando, digo representando, era hilário. Filarmônica 25 de Março, anteriormente o clube social da elite feirense, apogeu das Filarmônicas. Aqui havia três, a dita, a Euterpe e a Vitória. Na época desse destemperamento de Martiniano, já não existia praticamente a parte musical, quando muito, se reuniam todos os músicos e com ajuda da banda militar, para tocar numa comemoração de algum antigo sócio. Mas o quente era o carteado, frequentado pelos maiores comerciantes, políticos e profissionais liberais que passavam tardes/noites jogando, como divertimento.
            Contudo voltemos ao motivo: destempero de Martiniano, achava ele que alguém estava quebrando um dogma da 25, contando suas andanças à esposa. O clube não tinha telefone, propositalmente, para que não incomodasse aos jogadores, nem existia celulares, portanto entre outros benefícios servia como álibi quando alguém fazia uma farra e perdia o horário para chegar em casa. “O JOGO ME PEGOU E NÃO VI A HORA PASSAR”, esta era a desculpa que sempre pegava, porque a maioria das vezes era verdade.
            Semi – como ele chamava carinhosamente a esposa - está sabendo quando é desculpa ou quando é verdade, dizia Martiniano a João Caneiro. Ele não acreditava que se fizesse brincadeira tão pesada, se bem que Bubu colocou um retrato, daqueles que as meninas de circo vestidas de roupas sumárias vendiam aos espectadores, com dedicatória e cheio de perfume no carro de Antônio Santos, deu um rebu danado, a felicidade foi que alguém viu e avisou a Antônio, mas o carro teve que ser lavado 3 vezes, pois alem disso jogaram perfume barato dentro do veículo. Antônio era de fazer o mesmo com os outros, não Martiniano, que dizia não ser desta estirpe, ninguém ousaria, João Carneiro ponderou se não era impressão dele, pois como contou, D.Semi nunca disse nada, mudava apenas de atitude. “Ora Seu João, eu a conheço demais para saber, que quando está zangada, passa a me chamar de Martiniano e não de Tino como de costume, fecha a cara e fala monossilabicamente o essencial, e o pior seu João é que dura uma semana inteira”.
Depois de matutar e dentro da sua avaliação repassou a centena de amigos frequentadores, e não conseguiu achar nenhuma indicação, mesmo assim inquiriu aos dois maiores “moleques” Bubu e Brito, mas estes negaram peremptoriamente. O jeito foi acusar Saul, que além de tocar prato na Filarmônica era o gerente do jogo, e que entre outras funções tinha a de levar a culpa, de qualquer coisa estranha, que não tivesse explicação. Ameaçou de todas as formas, mas nada adiantou, se recolheu um pouco, deixou passar um tempo, mas quando uma farrinha pegava, olha D. Semi sabendo, trocava o tratamento de Tino por MARTINIANO.
Chegou até a virar abstêmio, para não contrariar Semi, pois gostava demais dela para passarem uma semana inteira rusgados. Mas, uma noite o jogo o pegou e ele chegou tarde, já estava quase dormindo quando viu D. Semi levantar-se silenciosamente pegar seus sapatos e verificar as solas. Pronto estava elucidado o enigma. A Filarmônica 25 de Março é um prédio antigo e o 1º andar, local do jogo, é assoalhado e encerado com cera vermelha, a famosa Parquetina, que deixava o solado do sapato de quem pisasse vermelho.
            Daí em diante Martiniano toda vez que intencionava uma farrinha primeiro ia 25 e arrastava os pés no piso do 1º andar e ficava despreocupado, NÃO SERIA MAIS ALCAGUETADO PELO PRÉDIO.

Este texto foi publicado no jornal "Noite & Dia".

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