José Carlos Pedreira ZÉ COÍÓ (marca do jornalista) Santanopolitano Proprietário do jornal "Feira Noite & Dia" |
Pedro Burrinha cortando o cabelo de João Marinho |
Entre tantas personagens com as quais convivi muito de
perto, escolhi um cabeleireiro/barbeiro famoso para trazer à lume neste
trabalho. Ele foi a primeira pessoa que conheci, quando aqui cheguei Pedro
Burrinha. Era um homem alto, esguio, charmoso, muito elegante. Foi proprietário
da mais conpleta e mais bonita barbearia da Cidade: a “TRÊS AMÉRICAS”.
Como sócio ele tinha dois ex-Prefeitos, comerciantes, João Marinho Falcão e seu
filho Newton da Costa Falcão.
Eu havia acabado de chegar em Feira de Santana e o meu irmão, Laudelino Pedreira, levou-me para cortar o cabelo com o Pedro Burrinha. Analisei-o um homem notável, contador de histórias e estórias, criador de pássaros cantadores.
Eu sempre fui “enganjento” para cortar o cabelo; tinha horror à cadeira de barbeiro e chorava quando isso acontecia. Não foi diferente como Pedro. Mas ele, espontaneamentc, resolveu fazer a minha cabeça; a primeira frase que ele me disse foi a seguinte: “- Você leva jeito para ser um ótimo jogador de futebol...”- e acrescentou: “- Se você ficar quieto durante o corte de cabelo, prometo que lhe darei uma chuteira de presente.” - e passou a contar-me histórias dos grandes craques do nosso futebol.
Fiquei amigo daquele homem. Tão íntimos nos tomamos que, posteriormente, em novembro de 1948, fiz urna grande reportagem com o título: A FIGURA DA MANICURE.
Contou Pedro: “Certa feita chegou aqui na
barbearia, que era considerada de luxo, um cliente que o “oficial” de ajudante
de barbeiro me chamou a um canto e me disse: - Seu Pedro, tem aí um cidadão que quer cortar o cabelo,
mas ele está descalço; mando ele se retirar? - Achei aquilo uma humilhação; fui
lá no fundo da barbearia, peguei um par de sapato meu que havia mandado
engraxar para ir a uma festa naquela noite, mandei que o homem calçasse e
viesse sentar-se que eu iria cortar o seu cabelo. Na sua hora ele sentou-se e
eu cortei o seu cabelo e barba; ele pagou a conta e eu distraído, nem notei que
ele saiu e esqueceu de tirar os meus sapatos. Levou o meu par de sapatos novo e
nunca mais voltou”. Mas
voltemos à verve da história: a figura da manicure: Eu havia acabado de chegar em Feira de Santana e o meu irmão, Laudelino Pedreira, levou-me para cortar o cabelo com o Pedro Burrinha. Analisei-o um homem notável, contador de histórias e estórias, criador de pássaros cantadores.
Eu sempre fui “enganjento” para cortar o cabelo; tinha horror à cadeira de barbeiro e chorava quando isso acontecia. Não foi diferente como Pedro. Mas ele, espontaneamentc, resolveu fazer a minha cabeça; a primeira frase que ele me disse foi a seguinte: “- Você leva jeito para ser um ótimo jogador de futebol...”- e acrescentou: “- Se você ficar quieto durante o corte de cabelo, prometo que lhe darei uma chuteira de presente.” - e passou a contar-me histórias dos grandes craques do nosso futebol.
Fiquei amigo daquele homem. Tão íntimos nos tomamos que, posteriormente, em novembro de 1948, fiz urna grande reportagem com o título: A FIGURA DA MANICURE.
Naquela época, tínhamos uma sociedade cheia de preconceitos. E foi exatamente na TRÊS AMÉRICAS QUE APARECEU A FIGURA DA MANICURE. Bom contador de histórias, Pedro começou, com seu jeito agradável: O primeiro problema apareceu com a manicure que eu havia contratado. Lourdes, era o seu nome, começou a trabalhar sob elogios de todos. Afinal era a primeira manicure em um salão de barbearia em Feira de Santana.
Uma semana depois, quando já acumulávamos no currículo mais uma vitória profissional, eis que chega uma senhora, carregada de desaforos, e dá início a um “bafafá”, perguntando aos gritos: “- Seu Pedro, que história é essa do senhor arranjar essa cabrocha para cortar as unhas e ficar alisando as mãos do meu marido? “, eu retruquei: “- Minha senhora, não se trota disso...” - antes que terminasse a frase, ela partiu agressivamente: “- Seu Pedro, o senhor é um imoral; esse alisa-alisa aqui não vai dar certo, eu pego essa “nigrinha” e dou-lhe umas tapas e mando ela procurar o seu lugar “- Fui duro com ela, mas nada acalmou sua fúria; aconselhei: “- Por que a senhora não corta as unhas do seu marido? “- A sua resposta foi mais violenta: “- O senhor faça o favor de não se meter na minha vida particular, se eu corto ou não as unhas do Oscar não é da sua conta! “.
Na porta da barbearia já se encontrava cheia de gente assistindo aquele triste espetáculo. Pedro Capoteiro, motorista de taxi, que também assistia a cena, intrometeu-se e perguntou: “- O que está acontecendo aqui? “- Amulher tomou a palavra e respondeu: “- E o senhor não se meta onde não é chamado. Pode ir embora!... Afinal o senhor faz parte dessa quadrilha que arranja mulheres para homens pois, como taxista, o senhor é quem deve carregar as “nigrinhas “para os homens!!! “.
Depois desse “causo”, Pedro contou-me outras aventuras, inclusive com seus pássaros de estimação. E prosseguiu: “- Um dia o grande Luiz Gonzaga esteve aqui em Feira e veio cortar o cabelo aqui na barbearia: ouvindo o canto de um canário-da-terra que eu tinha, se apaixonou tanto que tive de lhe dar de presente. De Outra feita o Sr Carlito Bahia esteve aqui com oprofessor Joselito Amorim, acompanhando o ex-governador Carlos Lacerda. Naquele dia, eu estava com um fantástico cardeal aqui no salão. O ex-Governador se apaixonou pelo pássaro e o Sr Carlito Bahia disse: “- Pode levá-lo de presente, Governador”. Me doeu no coração, mas... Vinícius de Moraes também esteve em Feira e foi à barbearia porque também era criador de pássaros e foi conhecer o meu criatório. Resultado. tive que presentear a grande figura nacional com mais um bom pássaro. Outro que aqui esteve foi Jorge Amado, que era outro criador; e afinal fui presenteando toda essa gente até ficar resumido a estes, e espero que você não goste de alar pássaros...
Despedi-me do Pedro e quando já estava a alguns metros ele me disse: “- Olha, quando tiver um tempinho, passa por aqui para eu lhe dar aquela chuteira que lhe prometi quando você era menino - cá,cá,cá, ... sorrimos juntos.
Transcrito da revista
"História e Estórias dos Séculos XIX e XX (Escritas a cinquenta mãos).
Edição Especial do
Instituto Histórico e Geográfico de Feira de Santana - 2015 p. 119/120
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