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FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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quarta-feira, 15 de abril de 2020

AS MALUQUICES DO IMPERADOR

NETÔNIO BEZERRA MACHADO
Desembargador  aposentado. Membro da Academia Sergipana de Letras Jurídicas e da Academia de Letras de Pão  de Açucar(Al).  Ex-presidente do Instituto Sergipano de Estudos da Constituição.
                                                                                                       

Talvez  por alguma conexão cerebrina vem-me à memória a leitura que fiz, há muitos anos, do livro de autoria do escritor Paulo Setúbal, falecido em 1937, cujo título adotei para este texto.


                       Ali  há relatos das estripulias protagonizadas  por Dom Pedro I , muitas delas expondo-o ao ridículo.
                        Para ficar apenas numa das diversas registradas pelo  autor do livro,  assinalo uma passagem interessante.
                        Uma companhia de teatro fazia uma das suas exibições  na principal casa de espetáculos  do Rio de Janeiro (se é que havia outras, naquela época).
                       Na platéia,  a entourage da Corte e as famílias mais aristocráticas da Capital do Império.
                        Como parte da apresentação artística, uma jovem  bela e sedutora  integrante do elenco da Companhia,  cantava e bailava, rodopiava e trinava, com absoluta harmonia nos gestos e na ondulação  da voz em suas inflexões mais perfeitas.
                          Magnífica apresentação!
                        Evohé,  era a expressão dos mais exaltados, que dominava o ambiente.
                        Dom Pedro, que não se fazia acompanhar  da sua esposa Dona  Leopoldina, tomou-se de repentina e explosiva paixão pela cantora e dançarina e, assim arrebatado,   já aguardava na coxia o fechar da cortina para prostrar-se, de joelhos, ante a sedutora jovem e declarar-lhe todo o seu amor e devoção.
                        E foi o que fez.
                        Esquecera, porém, Sua Majestade,  de um detalhe  que, no caso, dada a importância simbólica do personagem varão,  transfigurar-se-ia num ridículo atroz:  quando um artista em cena  é efusivamente aplaudido pela platéia as cortinas que  acabaram de fechar-se são reabertas para suas novas mesuras de agradecimentos e para deleite dos que o aplaudem.
                        Reabrem-se, então, as cortinas e o Imperador é flagrado pelo público naquele burlesco  gesto impulsivo que, mesmo os jovens, se precatam em fazê-lo publicamente. 
                        Foram vários e igualmente nocivos para Sua Alteza e para o Brasil, os arreganhos inconsequentes  do Imperador.
                         E mais não ocorreram graças à sobranceria  e pertinência de um José Bonifácio de Andrada e Silva, consagrado mais tarde como o Patriarca da Independência.
                        Hábil, culto, respeitadíssimo na ambiência política e fora dela, com coragem cívica e desapego a títulos,  credenciara-se para confrontar as estultices de  Sua Alteza; habilitara-se  a tentar despertar-lhe a consciência das suas  imprecações.
                        Obteve algum êxito em seu propósito de racionalizar o Imperador, embora este mesmo o tenha mandado para o cárcere certa feita.
                         Contudo, tanta era a dignidade de José Bonifácio que, num dos seus lampejos de lucidez Dom Pedro I, ao deixar o Brasil  e retornar para Portugal, o nomeara  tutor  do seu filho D.  Pedro II.
Antônio Edson
Atualmente estamos assistindo a um torneio de insanidade, aguardando o surgimento de um novo José Bonifácio, se não para eliminar, ao menos para conter alguns  desses ímpetos de insensatez.
Texto enviado pelo santanopolitano Antônio Edson.    

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