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FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

HISTÓRIA SIMPLIFICADA DO NASCIMENTO DE FEIRA DE SANTANA

Lajedinho
ANTONIO MOREIRA FERREIRA - Poeta, escritor, memorialista e jornalista, autor de diversos livros, Membro da Academia Feirense de Letras e Vice-Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Feira de Santana.




Antiga Rua do Meio, depois Rua Conde D'Eu
posteriormente Rua Manoel Vitorino e atual
 Marechal Deodoro (Arquivo de Elnando Simões)

Não! Não vou contar a sua longa e deslumbrante história, pois isso já foi feito, com inusitada perfeição, por Rollie Poppino em uma monografia da sua graduação no Departamento de História da Universidade de Stanford, com o livro “Feira de Santana”, em 1950, quando pesquisou, profunda e incansavelmente, todos os arquivos da Bahia, deixando para o historiador Raimundo Antônio Pinto o encargo de prosseguir dos anos 1950 a 1971, com o livro “Pequena História de Feira de Santana”.
Hoje já contamos, que eu conheça, dois grandes trabalhos, ambos mais profundos nas pesquisas: originários de dissertação de mestrado, já mencionados, “Origens do Povoamento de Feira de Santana - Um Estudo de História Colonial”- da Profª Celeste Maria Pacheco de Andrade (UFBA1990) e “Nem Tanto ao Mar Nem Tanto à Terra - Agropecuária, Escravidão e Riqueza em Feira de Santana, 1850-1888”, de autoria do Prof. Luiz Cleber Moraes Freire, também oriundo de uma dissertação de mestrado defendida em 2007 no programa de Pós-Graduação em História Social da UFBA.

O Padre e Acadêmico Renato de Andrade Galvão trouxe, através de pesquisas pela porta principal da História, os Livros das Igrejas, fatos como a localização da Capela de Santa'Ana, a verdadeira data da emancipação política, além de deixar na Universidade Estadual de Feira de Santana um grande acervo histórico que confere, ao pesquisador e à UEFS, um altíssimo grau de singularidade e excelência.

Muitos são os historiadores que contribuíram, e contribuem, para enriquecer a História da Princesa, a exemplo das Professoras Neide Almeida da Cruz e Marília Queiroz da Silva que, a quatro mãos, escreveram o histórico movimento da educação a partir do ano de 1860.

Embora esteja certo de que vou cometer o erro da omissão involuntária, justificado pelo curto espaço de tempo que usarei, gostaria de citar alguns nomes dos muitos escritores, poetas e jornalistas que contaram, em prosa e verso, vários momentos da memória da Princesa, como Godofredo Filho, Franklin Maxado, Helder Alencar, Georgina de Mello Erismann, Alberto Alves Boaventura, Antônio Lopes, Amold Silva, Cesar Oliveira, Adilson Simas, Lélia Fernandes, Gastão Guimarães, Nilton Bellas Vieira, Godofredo Leite, José Carlos Pedreira, Oydema Ferreira, Eduardo Kruschewsky, Carlos Melo, Hugo Navarro, Dival Pitombo, Raimundo Gama, Floriano Melo, José Olympio Mascarenhas, Egberto Costa, Eurico Alves Boaventura, Milton Brito, Alpiniano Reis, Irma Caribé e dezenas de outros que falaram sobre a vida da majestosa Feira de Santana.

Sem nenhum demérito para os nossos escritores e poetas, que muito fizeram e continuam fazendo pela memória da Princesa, cabe aqui um destaque para o trabalho de pesquisa, verdadeira garimpagem cultural, que fizeram Carlos Brito e Arcênio Oliveira, trazendo ao acervo cultural de Feira a publicação, em um livro, com os jornais de 1877 a 85, que nos esclarece muitas dúvidas da história.

Também ao grande mestre Oscar Damião, de saudosa memória, que, após pesquisar, escrever e publicar várias edições do Dicionário Personativo, deixou-nos um legado de incomparável valor histórico, com a publicação do primeiro e único “Dicionário da Feira de Santana”.

Para não fugir ao assunto a que me propus falar, de maneira sucinta, começaremos por lembrar o ano de 1555, quando o pau Brasil da Mata Atlântica era insuficiente para exportação, os portugueses resolveram povoar a sua Colónia e, para tanto, determinaram que se tentasse produzir cana de açúcar e procurar minérios de grande valor.

Assim, cada desbravador foi em busca dos seus objetivos, sendo que, aqueles que optaram pela agricultura, tinham um caminho mais fácil de percorrer, por vias marítimas e fluviais.

Mas, para plantar cana, necessário se tornava encontrar o tipo de solo adequado, principalmente o massapé (ou massapé), tipo de solo argiloso e preto. Diogo Álvares Correia, a pedido do Imperador foi o cicerone.

Dentro da Baía de Todos os Santos estava a mais próxima estrada para a entrada no interior desconhecido: a foz do Rio Paraguaçu. E foi por ali que os desbravadores iniciaram a viagem que um dia chegariam às nossas terras.

Subiram o rio explorando minuciosamente os diversos tipos de solo, entre matas e manguezais, até chegarem a uma cachoeira (atual Pedra do Cavalo), que determinava o final da parte navegável. Descobriram que, até aquela cachoeira, o rio sofria os efeitos da maré, com boa profundidade, tomando o local um porto seguro, de onde podiam ir e vir a São Salvador para aquisição de alimentos e materiais de trabalho.

Dali partiram e encontraram as terras do recôncavo, onde deram início ao plantio de cana, cuja produção brasileira, 40 anos depois, iria substituir o uso do mel na Europa.

Exatamente em 1595, o fidalgo Paulo Dias Adorno adquiriu uma parte de terras, por sesmaria, doada por Martin Afonso de Souza, e implantou uma grande fazenda onde, consequentemente, nasceu uma povoação a qual, 73 anos depois, foi elevada à “Freguesia de Nossa Senhora do Rosário do Porto da Cachoeira”.

Após a descoberta da continuação navegável do Rio Paraguaçu, na parte posterior à cachoeira, ainda durante a povoação de Cachoeira e com grande parte do Recôncavo ocupado com o cultivo da cana, com muitos engenhos em franca produção, prosseguiram a exploração de mais terras. Assim, chegaram ao encontro dos rios Paraguaçu e Jacuípe, onde também encontraram uma grande área, divisora das matas com as caatingas: um tabuleiro em um planalto. Nesse extremo sul do tabuleiro, formou-se um acampamento onde, mais tarde seria a povoação de São Gonçalo da Cachoeira.

De acordo com o inventário sumário do Acervo Histórico da Cúria Diocesana de Feira de Santana, publicado pela UEFS em 1995, pag.85, “A primeira ocupação de terras ocorre em 1615. As sesmarias de João Peixoto datam de 1655 e o ato da concessão fala da Capela, casa forte, gado, plantações, sobrado e povoamento”. Isto comprova que o Distrito de Maria Quitéria tem quase 400 anos. Esperamos que, em 2015, se comemore.

Ali, conhecido pelos índios Tapuias e Paiaiás como ita- pororocas, pelas serras que se formam, ao fundo, em forma ondulada, tornou-se o primeiro entroncamento das estradas que se abriam pelos desbravadores, entre a cidade e o interior.

Ainda segundo o livro citado, em 1685, os livros da Igreja de São José das Itapororocas já registram celebração de casamentos e batismos na Muchila, Capela de Nossa Senhora dos Remédios e “Oratório de Santana”, com a presença do sertanista João Peixoto Viegas.

Com esses assentamentos, fica clara a existência de outras áreas nas proximidades, que certamente foram incluídas nas terras que estavam sendo vendidas a fazendeiros maiores
.
É oportuno esclarecer que as primeiras fazendas tinham suas sedes sempre próximas uma da outra, como prevenção de uma defesa coletiva, em caso de ataque dos índios, os quais, ao longo do tempo, foram quase extintos por João Viegas.

Entre 1705 a 1710, o casal Domingos Barbosa e Ana Brandoa encontraram nesse tabuleiro o local excelente para criatório, vez que havia muito capim nativo, hoje conhecido por “capim amargoso”, muitos minadouros, além de mais de dez lagoas, cujo local já era conhecido dos viajantes pelo nome de “Olhos D’Agua”.

Hoje, fazendeiros não mais criam gado com esse capim, (que continua abundante aqui no tabuleiro), porque não servem para a engorda do gado atual. Mas, naquela época, o gado era pequeno e rústico, e engordava tão bem quanto engordam hoje a raça zebuína em capins especiais. Aquele gado ficou conhecido como “pés-duros”.

Foi nesse local que eles adquiriram uma área de terras com seis quilómetros de comprimento por três de largura, e ali construíram uma casa sede da fazenda, uma capela em homenagem aos Santos Domingos e Ana, de acordo com a devoção do casal, além de algumas casas menores para abrigo de trabalhadores e vaqueiros.
A fim de encurtar caminho e ter mais pasto e água, indispensáveis aos boiadeiros, os viajantes que antes descansavam em São José das Itapororoca, mudaram de caminho, passando a fazer ponto de parada e descanso junto à Fazenda Olhos D’Agua.
Logo alguém construiu uma barraca de palha para vender cachaça e fumo de corda, outro o fez para vender caças, outro e mais outro para vender carne, farinha, enfim atender às necessidades dos viajantes que aumentavam dia após dia.

Já se encontrava tão povoado o local em torno da capela que, no dia 28 de setembro de 1732, no cartório da então Vila de Nossa Senhora do Rosário do Porto de Cachoeira, o casal Domingos Barbosa e Ana Brandoa fizeram a doação de 100 braças de terras, em quadro, para os Santos Domingos e Ana. Naquele ano, involuntariamente, com o ato da doação construíram o berço onde nasceria a Princesa do Sertão.

O tempo vai passando, o movimento para a “Bahia” cresce, os boiadeiros fazem do local o ponto estratégico para recuperação do gado, aproveitando a água e capim abundantes para melhorar o aspecto dos animais. Depois seguiam para Capuame (hoje Dias D’Ávila) onde se realizava a grande feira de gado da época.

Mas alguns comerciantes de Capuame começaram a antecipar as compras de gado, vindo para a povoação comprar mais barato, e vender mais caro na feira da atual Dias D‘Ávila. Ficaram conhecidos como atravessadores. Outros e mais outros também fizeram o mesmo trabalho, o que culminou com a troca da feira de gado de Capuame para a feira em Santana dos Olhos D’Água.

Faltando apenas poucos dias para o centenário de nascimento, eis que a Princesa é presenteada com um Decreto do Imperador D. Pedro II, elevando-a a vila, criando, destarte, o Município.

Foi assim que, após alguns problemas políticos, no dia 18 de setembro de 1833, quando a Princesa já contava com um século de nascimento, com um grande memorial, foi instalada a Vila e a primeira Câmara Legislativa, com a posse dos Vereadores.

Ainda de acordo com as professoras Neide e Marília, em 1860, vinte e sete anos após a sua elevação a Vila, a sede possuía apenas três escolas, sendo duas para abrigarem, separadamente, os sexos masculino e feminino, e a terceira se destinava ao ensino de gramática latina para rapazes, sendo esta fechada cinco anos depois.

No setor de saúde a situação não era diferente: até 1863, só se contava com algum médico, vindo de Salvador, que fazia consultas nos dias da feira livre. Somente vinte anos depois, por casualidade, tivemos o Dr. Joaquim Remédios residente na Vila. Mas a Santa Casa de Misericórdia, hoje Hospital D. Pedro II, começou a funcionar no citado ano de 1863.

Foi assim que nasceu e está crescendo a nossa Feira de Santana. Daqui para a frente os historiadores feirenses contarão sobre seu desenvolvimento, sua gente e os acontecimentos que os nossos descendentes irão conhecer.
Replicando: Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Feira de Santana nº 16 

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