Hugo Navarro Silva |
Volta e meia Feira de
Santana torna-se palco de fatos estranhos, extravagantes, misteriosos, que até
sumir no tempo vão ganhando contornos surpreendentes, levados pelos exageros
populares, causando estupefação e às vezes justas revoltas. Causou espanto e frenesi
o caso do “ouro dos frades”, quando pessoas de certo destaque quase derrubam
casa da Praça da Matriz com largas e profundas escavações em busca do ouro – um
vasto tesouro semelhante ao dos piratas do Caribe – que frades teriam ali
enterrado em priscas eras.
A corrida do ouro atraiu pessoas que largavam
“croisé”, colete, calças de flanela, cucos e cartolas para ingentes e quase
secretos esforços ao cabo de pá e picareta, a começar do jornalista polemista e
temido poeta satírico Cristovam Barreto, que se valeu da condição de afamado
antropólogo para mascarar suas atividades, havidas por busca de ossos,
cerâmicas, instrumentos e outros traços de índios que aqui teriam vivido desde
tempos imemoriais.
Sem querer falar do “lobisomem da avenida” e de
outros fantasmagóricos freqüentadores de nossas ruas, quando chegava a
madrugada, lembramos o estranho “caso das caveiras”, escândalo que ultrapassou
as fronteiras do pais, liquidou, moralmente, um bando de rapazes da sociedade
local e nunca foi devida e completamente esclarecido.
Outro caso intrigante aconteceu na noite de 5 de
dezembro de 2006, quando irrompeu, na
Rua Sales Barbosa, pavoroso incêndio. Apesar de esforços populares e de intenso
trabalho dos bombeiros o fogo devorou, rapidamente, quase uma dezena de casas
comerciais, causando enormes prejuízos e enchendo a cidade de apreensões.
A
Sales Barbosa, há tempos, vem criando ambiente para sinistro de vastas
proporções. Estreita, transformada em calçadão onde não podem circular
veículos, atulhada, completamente, de barracas e incrível tralha de vendedores
ambulantes, formada de casas geralmente antigas, com precárias instalações
elétricas, a qualquer momento poderia, como infelizmente aconteceu,
transformar-se em terrível fogueira.
A polícia, entretanto, descobriu os culpados. Em
operação de rotina, quando ouvia conhecidos arrombadores, três deles, sem
grande esforço da parte da polícia, confessaram o crime com detalhes rocambolescos
e com enorme facilidade. Não possuíam mandato popular, nem eram ladrões da
República, mas simples larápios, vagabundos, pés-de-chinelo. Segundo o
noticiário, numa rua cheia de vigilantes noturnos e de ambulantes que ali
passam a noite a vigiar barracas, os ladrões tentaram arrombar porta de
comércio. Não conseguiram. Resolveram, então, atear fogo a tábua e o incêndio
se alastrou de forma devastadora. A polícia, surpreendida diante do inesperado,
levou os supostos incendiários ao Ministério Público para que confirmassem a
estranha confissão, com o ar de quem poderia dizer: achamos o “ouro dos
frades!”
No Brasil de hoje nada surpreende. Não deixaram de
causar espanto, contudo, declarações de pessoas de alguma responsabilidade
lamentando que a polícia, ao invés de meter os supostos incendiários,
imediatamente, em galés perpétuas, deixou-os em liberdade. Querem,
brasileiramente, um estado policialesco.
Muito mais espantoso, entretanto, é que no intenso
noticiário sobre o assunto ninguém falou da preservação do local do suposto
crime, mexido e remexido por curiosos e saqueadores, e nem de longe houve
referência a exames periciais obrigatórios, em tais casos, que poderiam
determinar a causa do sinistro e o sítio de origem se conduzidos de forma
competente e honesta.
Ao que tudo indica a confissão dos ladrões resolve
tudo. Logo a confissão, a “rainha das provas” nos tempos da Inquisição, mas que
nos dias do hoje, longe da certeza, só levanta dúvidas?
Hugo Navarro da
Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis.
Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte".
Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida
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