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FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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quinta-feira, 6 de outubro de 2022

MARIA FELIPA

EDUARDO KRUSCHEWKY

UMA MULHER, UMA SAGA E A FALTA DE
RESGATE DA NOSSA HISTÓRIA.


        Confesso sem pejo que fui um menino “malino” (adjetivo que os mais antigos usavam para qualificar o menino endiabrado, impossível de ser domado), era um “menino que tinha outro por dentro” devido a enorme excitação que me assaltava todas as vezes que via algo que me despertava a curiosidade. Hoje compreendo o porquê disto e agradeço a Deus esta inquietude infantil. Isto me fez procurar acumular um cabedal que dinheiro nenhum compra: o Saber. Se O Supremo Arquiteto do Universo não me deu bens materiais, mas dotou-me de uma fome insaciável de aprender mais e mais. Para mim, o importante não é apenas “conhecer”, mas “saber”. Pois bem...
        Ouvia falar de uma figura histórica fascinante, mas pouco conhecida, as referências eram de que ela houvesse sido uma mera coadjuvante na Independência na Bahia e do Brasil: Maria Felipa de Oliveira. Sempre que lia algo sobre ela, via nas entrelinhas que a História não lhe fazia justiça. Mesmo tendo sua saga contada de geração a geração pelos habitantes de Itaparica, ela era, apenas, uma mulher tida como bandoleira e prostituta por alguns e alijada por ser negra, do sexo feminino, semianalfabeta e pobre. Se por um lado, a população da Ilha se enchia de orgulho por conhecê-la de perto, por outro havia o medo de represálias, o preconceito, a ponto de Dona Zizi, nativa da Ilha de Itaparica e uma das suas bisnetas, acreditar que seria presa se contasse a estranhos as façanhas de sua antepassada...

UM POUCO DA HISTÓRIA DE MARIA FELIPA

        A diáspora que cercava Maria Felipa começou a ser desfeita e sua história tomar forma a partir de 2002, quando pesquisadores (professores e alunos) das Faculdades Integradas Olga Metting, de Salvador-Bahia, com a parceria de entidades como EWG; SEBRAE; CDL; Hotel Nativos-Aratuba e COMAB, passaram a pesquisar in loco a vida da personagem, num trabalho de reconstituição histórica em 32 comunidades da Ilha de Vera Cruz, apoiado pela prefeitura local de Itaparica-Bahia. Este grupo garimpou documentos raros, encontrados em arquivos dentro e fora da Ilha e fez surgir, embora ainda cercada de mistérios e lendas, a história de uma verdadeira heroína que parecia condenada a ser uma “vaga lembrança”.
        Diziam os mais antigos que Maria Felipa era uma bela mulher! Nascida na Ilha de Itaparica, muito atraente e, além do elegante porte físico, era conhecida como valente, possuindo habilidades de capoeirista, o que muito a ajudou a luta corpo a corpo com os portugueses. Costumava se apresentar na linha de frente das lutas com as saias amarradas nas pernas, o que lhe facilitava os movimentos nos passos da capoeira. Os portugueses ficavam surpresos com a agilidade dela e de outras mulheres e isso facilitava a fácil vitória dos nativos. Descendente de africanos sudaneses, vivia da comercialização de mariscos, embora alguns lhe acusem de ser prostituta. Tinha, então, na época da Guerra pela Independência da Bahia, segundo se presume, a idade de 22/23 anos. Esta mulher simples, sempre de saias rodadas, torso sobre a cabeça, vestindo bata e calçando sandálias, ela figura entre os heróis da luta pela liberdade em nosso país, sendo considerada a “Matriarca da Independência de Itaparica”. 
Forte de São Lourenço.
 (acervo do autor)

        Estive na Ilha de Itaparica e, atraído pelo mistério que cerca a história de Felipa (ah, doce vontade de saber mais...), fui conhecer mais sobre esta formidável mulher, conversando com alguns nativos. Ali visitei, também, o Forte de São
Lourenço construído em 1631, por ocasião das invasões holandesas. No Forte, fomos ciceroneados por um guia que nos acrescentou um pouco mais da história da resistência do povo ilhéu e da importância estratégica da Ilha em relação à capital do Estado, o que justificara a construção do forte. Em 1647, a fortificação foi ocupada pelos neerlandeses, que fizeram dali uma base para ataques à capital baiana. Fustigados pelos portugueses, em 1648, não sem antes destruir as fortificações, os invasores holandeses se retiram para Recife. Só em 1711 é que o forte foi recuperado, por ordem do Vice-rei D. Pedro Antônio de Noronha Albuquerque e Souza, mas, depois de anos sem serventia, foi fechado na segunda parte do século XX. Finalmente, após permanecer 45 anos fechado, a prefeitura de Itaparica, reformou-o inteiramente e transformou-o num museu em homenagem à Independência da Bahia (embora ainda com acervo resumido e em fase de coleta de material, recomendo a visita).
        O forte está localizado na ponta da Baleia, extremo norte da Ilha de Itaparica, atual Praça Getúlio Vargas s/n. Ao chegarmos, vemos, à porta do forte, placa do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia em memória dos heróis da Independência da Bahia, além de um painel em azulejo, que reproduz trecho da obra de Ubaldo Osório.

MARIA FELIPA E SEUS FEITOS HERÓÍCOS

        Como todo brasileiro sabe, em 7 de setembro de 1822, o Imperador D. Pedro I proclamou a Independência do Brasil, mas, sem muito sucesso, pois havia três séculos de escravidão de africanos e o poder nas mãos de poucos. O ato de D. Pedro não foi aceito por algumas províncias comandadas por governadores portugueses com a sustentação de tropas. Dentre estas províncias, nossa Bahia. Para formação de um exército brasileiro, o imperador viu-se forçado a contratar líderes estrangeiros pois as tropas portuguesas recebiam ordens diretamente de Portugal. Além disso, havia a negativa de senhores de escravos em cedê-los para servir ao Brasil... A insatisfação aumentou e escravos fugiram, unindo-se a grupos formados por brancos, mulatos, índios, todos juntos em nascentes movimentos libertários, surgidos a partir de populares brasileiros, à margem da lei portuguesa.

(continua na próxima postagem)



 

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