Símbolos do Santanópolis

FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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quarta-feira, 4 de março de 2020

ÁUREO DE OLIVEIRA FILHO

Joselito F. Amorim
Santanopolitano
Como o dever: Finca no teu chão uma semente e procedes para que os frutos, além de sadios, sejam úteis ao teu povo.

Atendendo prazerosamente à solicitação do recém criado Instituto Histórico e Geográfico de Feira de Santana, que solicita um pronunciamento a respeito de prof. Áureo de Oliveira Filho, o faço com um misto de orgulho e satisfação. Vários são os motivos que me deixam feliz. Primeiro por se tratar de um dos feirenses mais ilustres e com maior parcela de serviços prestados a sua comunidade. Em segundo lugar, por constatar que, a nossa Terra, sem jamais relegar sua vocação comercial - um dos nossos orgulhos e a razão do seu ser, ampliada ainda pela nova e indispensável vocação industrial e, mais ainda pela recente vocação cultural - que nos parece - seja em futuro o seu maior polo de desenvolvimento, já não pensa apenas no vil metal.
Que poderei dizer além do que já foi dito a seu respeito por amigos, admiradores e ex-alunos, em livro editado por ocasião do centenário do seu nascimento - 2002? A sua obra educacional, primeiro ginásio oficializado do interior do Estado, tornou-se não um fato histórico, porém um fato de grande repercussão, não só para a cidade, projetando-a, como de grande utilidade para a juventude interiorana, que não tinha outra alternativa, a não ser a capital do Estado.
Foram milhares e milhares de jovens que para aqui acorreram em busca do saber. E que resultado! Quantos médicos, advogados, dentistas, engenheiros, agrónomos, comerciantes, industriais, governadores, ministros, deputados, etc. Quanta gente boa!
Áureo não foi só o dono do colégio, foi acima de tudo um grande mestre, um sonhador, um idealista, um grande educador. Presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino da Bahia e Sergipe por longos anos, Áureo vivia os problemas de sua cidade. Estudava-os. Debatia-os e lançava-se à luta. A batalha pela energia, que era deficientíssima. A luta pela água encanada. A luta pelo asfaltamento da rodovia Feira-Salvador. A luta pelo telefone. A luta pelo Aeroclube de Feira, do qual foi presidente.
A luta pelo Frigorífico de Feira, tão mal equacionado. Em todas elas, ele estava na linha de batalha. Feira ressentia-se da falta de um hotel, Áureo o construiu. Feira não tinha um auditório, Áureo o fez. Quantos e quantos jovens pobres foram amparados pelo seu colégio. Enquanto muitos enriqueceram com o ensino, Áureo, mesmo sendo o pioneiro, morreu pobre.
Constatando serem limitados os horizontes da cidade, na qual foi vereador, torna-se deputado estadual, para melhor servir a sua comunidade. E o faz de modo brilhante. Orador oficial do Poder Legislativo, líder do Governo, defensor e reivindicador de melhoria para seu povo. Defensor da criação da Universidade, do parque industrial, de mais escolas para a juventude, de casas populares para o povo e de tantas e tantas outras justas reivindicações.
Conheci o Dr. Áureo Filho quando, após concluir a quinta série primária, trabalhava no Ginásio Donato de Souza, recém criado, para poder custear meus estudos na escola de comércio do Prof. Donato, à noite. O prof. Áureo ensinava Ciências Físicas e Naturais, jovem brilhante, entusiasta, voz de timbre firme e vibrante, como que a vender esperança.
Não tendo êxito o Ginásio Donato de Souza, por falta de registro no Ministério da Educação e Cultura, o Dr. Áureo aproveita, ou melhor, faz com que a semente plantada pelo Prof. Manoel Donato de Souza passe a germinar no Ginásio Santanópolis, que surge devidamente reconhecido pelo MC, em 1933. Cinquenta alunos na sua primeira turma, da qual tive a oportunidade e o prazer de participar.
Áureo teve a felicidade de formar um corpo docente de primeira linha, recrutando o que de melhor havia na cidade: Gastão Guimarães, Fíonorato Bonfim, Pedro Américo, Mons. Amilcar Marques, Renato Santos Silva, Prof. Antônio Matos, Profa. Edelvira Oliveira, Hermengarda Oliveira, Ten. Abdon Souza, Isabel Alexandrina de Carvalho, José Joaquim Lopes de Brito. Mais tarde com o reforço de Geraldo Leite, Osvaldo Requião, José Maria Nunes Marques, Lourdes Brito, José Soares, Edelvito Campeio de Araújo e de tantos e tantos outros mestres que os sucederam com as mesmas qualificações. Primeiro corpo docente, que mesmo sem formação pedagógica, nada ficou a desejar. A faculdade de filosofia que se incumbia da formação de professores para o ensino médio, surgiu alguns anos depois, por volta de 1940, por iniciativa de outro grande educador, que foi o Prof. Isaías Alves de Almeida.
O Santanópolis cresce a passos agigantados. Ginásio, Colégio (segundo grau), Escola de Comércio. A sua eficiência comprova-se pela classificação nos certames de cunho cultural, de âmbito estadual e nacional. Áureo não media esforços para que seu colégio participasse, fazia todas as despesas. O ingresso dos seus alunos nas Universidades, na maioria das vezes sem os, hoje, afamados cursinhos para vestibular. Além disso, quantos e quantos jovens tiveram oportunidades de desempenhar funções importantes, graças à formação recebida.
Áureo defendia uma educação integral; Física - Moral e Intelectual e assim a praticava no seu colégio. O Regimento Interno com deveres e direitos dos corpos docente, discente e administrativo, era a cartilha de todos os dias, de todos os momentos. Pena que, hoje em dia, a escola cuide apenas da parte intelectual, e olhe lá! A formação ética foi relegada a plano secundário. Que falta está a fazer... Os dirigentes que o digam... Pobre País!
No momento em que o ensino público, se já não se encontra sucateado, porém em marcha célere e, quando se alega falta de recursos para reformá-lo, ou melhor, ressuscitá-lo, acho que o primeiro passo não requer grandes dispêndios. Basta competência e boa vontade. Direções eficientes: - Implantação e execução dos regimentos internos em todos os estabelecimentos de ensino, nos quais se estabeleça direitos e deveres de professores, alunos e funcionários. Cartilha de ética. Acompanhamento para que os programas curriculares sejam ministrados na íntegra. A melhoria e ampliação do seu quadro físico e funcional viria em seguida. Encontrando todos aptos e com disposição para desempenharem seus deveres funcionais.
Ao constatar o surgimento espontâneo de mais uma entidade de cunho cultural - o Instituto Histórico e Geográfico de Feira de Santana -o que muito nos alegra - fico a pensar na nossa pequenina Feira, na sua origem. - Uma Fazenda - hospedaria, dos seus fundadores: Domingos Barbosa de Araújo e Ana Brandoa, a quem rendemos homenagem.
Hospedaria - Cidade residência, assim foi Feira por longos anos. A sua feira livre, o seu comércio a transformaram em Cidade Comercial, da qual muito nos orgulhamos, e, tornou a razão do seu ser. O seu crescimento, a necessidade de ampliar o mercado de trabalho para os jovens, a fizeram também um grande polo industrial. Maravilhoso. Polo económico!
Feira clama pelo ensino superior. Toda sua população mobiliza-se. Surge a Universidade, que em poucos anos torna-se uma das mais eficientes do Estado. Surgem novas Faculdades, Academias de Letras e Artes, jornais diários, rádios, televisão e tantas e tantas outras entidades de cunho cultural. Volto a pensar: será que a nossa Feira ainda não se encontrou? Cidade residencial, comercial, industrial e já agora para mais uma alegria. Cidade Universitária.
Feira, pelas facilidades que apresenta: cidade ampla, plana, sistema viário de primeira, cidade ordeira e pacata, com toda infraestrutura, material humano de qualidade e disponível, próximo da Capital, tem tudo para se transformar num grande centro educacional. Assim vemos Feira de Santana, em marcha célere, em busca de novos horizontes, tentando redefinir sua vocação. CIDADE UNIVERSITÁRIA. Construir-se-ia, em futuro próximo, junto à Universidade, em Maria Quitéria, uma vila universitária, com 4 ou 5 mil unidades residenciais, alojamento para alunos e professores, quadras esportivas, biblioteca, teatro, piscina olímpica, etc. Seria a maneira mais fácil e útil de iniciarmos o resgate da dívida imensa, que temos com a célula Mater. Sonho de Áureo Filho.

Replicando: Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Feira de Santana Ano I nº 1 2004 

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

FEIRA DE SANTANA E SUAS DATAS

Joselito F. Amorim
No dia 18 deste foi comemorado a data magna de nossa cidade, como existe discussão quanto a dia correto da fundação de Feira de Santana, transcrevo artigo de nosso colaborador, o Santanopolitanos Joselito Falcão Amorim - nota do Blog.
Compelido pelo amor à Feira, impulsionado pelo trepidar do coração, e, pelo fervilhar do sangue, depois de muito meditar, resolvi finalmente abordar alguns temas, que de há muito me atormentam a alma e que não posso e não devo deixar de externá-los. Se bem que procuro respaldo, olho ao redor de mim e não encontro. Não sendo pesquisador, professor de história, jornalista, arquiteto ou engenheiro, como tecer comentários em áreas especificas e merecer crédito? Observo a sabedoria de alguns adágios populares: “Cada macaco no seu galho” e “Quem não quer se molhar não vai para a chuva”.
Seja como for, mereço ou não fé, afirmativas ou indagativas, lanço-me à arena. Antes, porém, um esclarecimento: não desejo melindrar ou ofender a quem quer que seja, são meros comentários desprovidos de pirotecnia. Se não úteis hoje, poderão ser no amanhã.
O comentário de hoje diz respeito às datas de Feira de Santana
Assisti a uma conferência de um grande mestre feirense, que dissertou sobre a vida e obra de Monsenhor Renato de Andrade Galvão. Belo trabalho, digno de aplausos e concordância de todos.
Conheci Galvão nos idos de 1965, quando aqui chegou como pároco da Catedral de Santana. Não fui cumprimentá-lo, porque não soube da sua posse, porém o recebi logo depois na Prefeitura. Qual não foi o susto, quando ele com aquele vozeirão, ao cumprimentar-me afirmara que era meu colega três vezes. Perplexo fiquei: “- Eu, padre! Não!”- Afirmara: “- Prefeito, professor e inspetor federal”. Aí voltei à realidade: Ele acabara de renunciar à Prefeitura do município de Cícero Dantas e estava reiniciando suas atividades religiosas em Feira. Tudo correto: Prefeito, Professor e Inspetor Federal de Ensino.
Convivi pouco com Galvão, logo depois em 1967, transferi-me para Salvador, a fim de colaborar com o Governador Luiz Viana Filho, o que não impediu que observasse o seu belo trabalho, principalmente na área social e acadêmica.
Quando da criação da Universidade Estadual de Feira de Santana, na constituição do Conselho Universitário, o Governador Luiz Viana Filho pediu-me que indicasse dois nomes para compor o mesmo e o fiz: Monsenhor Renato Galvão, pela sua competência e interesse por Feira e a Professora Maria da Hora Oliveira, titular da cadeira de Metodologia, pelo seu valor e em homenagem à Escola Normal.
Voltemos ao conferencista. Após bela e longa explanação, ao concluí-la, afirmou que dentre outros fatos importantes realizados em Feira por Monsenhor Galvão, corrigiu um grande erro histórico, pois a cidade estava comemorando erradamente sua maior data, a 16 de junho (data da elevação da vila à categoria de cidade). Com seu prestígio conseguiu que a nobre Câmara Municipal adotasse a data correta, 18 de setembro (data da primeira sessão do Conselho Municipal) criado com a vila de Feira, por Decreto Imperial, por sinal sessão realizada na igreja. Concluo daí a preferência do Monsenhor Galvão. Tenho lido sobre o assunto, consultado mestres: Rolle Poppino, Pedro Tavares, Raimundo Pinto, Oscar Damião e o próprio Monsenhor Galvão e fontes outras, donde concluí que Feira de Santana tem três datas importantes:
1- 13 de novembro de 1832 - assinatura do Decreto Imperial que criou a Vila de Feira de Santana, desmembrando-a da cidade de Cachoeira, por sinal com 12.000 km2.
2- 18 de setembro de 1833
- data da realização da primeira sessão da instalação do Conselho Municipal (prevista para 6 de agosto, adiada para o dia 14 e finalmente realizada no dia 18 de setembro).
3- 16 de junho de 1873 -
data da lei que elevou a Vila à categoria de Cidade.
Como se vê, são três datas importantes e como tal devem ser referenciadas. A minha discórdia é quanto à afirmativa de ser ”18 de setembro a mais importante”. Todas elas o são. Embora nossa Câmara Municipal tenha seguido a orientação do Monsenhor Galvão, ponho o assunto em discussão, nas mãos de pesquisadores, historiadores e professores da área, que melhor do que eu têm condições de opinar. Hoje temos uma Universidade com curso de História, não seria importante que a mesma fizesse urna reflexão sobre o tema?

Admito que possa estar errado, e, como tal procuro argumentos convincentes...
Transcrito da revista "História e Estórias dos Séculos XIX e XX (Escritas a cinquenta mãos).
Edição Especial do Instituto Histórico e Geográfico de Feira de Santana - 2015 pag. 125/126.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

CARTA DE AMORIM PARA TORRES - AMBOS SANTANOPOLITANOS PROFESSORES DE MATEMÁTICA

Joselito Falcão Amorim
Raimundo Torres
Raimundo Torres, professor de matemática da UFBA, certo dia professando aula, comentou que o melhor professor de matemática que teve em todo trajeto escolar, foi um professor do interior chamado Amorim. Presente o filho de Amorim,  identificou-se.
 Envaidecido Amorim fez a carta abaixo, pedi licença para publicar. Afinal os dois são Santanopolitanos.


caro Raymundo,
Malba Tahan
Mestre dos Mestres
Deve ter notado a minha ausência, é que estive com a saúde abalada, inclusive com internamento. Sanado o problema volto à atividade, porém com uma grande dose de preguiça. Não me esqueci do nosso convite para o almoço, continua valendo, só não pode ser dia de domingo ou feriado, vamos programar.
Dito isso vamos ao assunto do dia. Como você sabe, até meados dos anos 60 o Ministério da Educação comandava não só o ensino superior, como o secundário, ficando o Estado e Municípios com o curso primário. Era o MEC que autorizava a criação dos ginásios, desde que atendesse a exigências como salas com boa ventilação, iluminação, no mínimo um metro quadrado por aluno, biblioteca, laboratórios, gabinete médico biométrico, área para esportes, além do quadro de professores, que deveriam atender a certos requisitos, geralmente pessoal de nível universitário existente no município[1]. O MEC, desejando melhorar o nível do ensino, criou um curso para certificar esses professores – o CADES. Este curso, de 60 dias, era realizado nas férias escolares e os participantes eram submetidos a uma prova, e se aprovados, teriam Registro com autorização para ensinar, já que as Faculdades de Educação não atendiam à demanda de formação de professores[2]. Em 1956/57 o MEC realizou na Bahia um desses cursos. Arlete, minha esposa, lecionava História no ginásio e não tinha formação universitária e veio para Salvador fazer o curso no Colégio da Bahia. A essa altura, eu já tinha feito o curso e obtido o registro Definitivo. Como o professor de matemática era o MELO E SOUZA – o MALBA TAHAN, resolvi tentar fazer o curso como assistente. Fui ao coordenador, que por sua vez, encaminhou-me ao Professor Malba Tahan[3] que concordou com a minha solicitação. Passei então a atuar como seu assistente, ajudando-o no quadro negro. Tendo recebido no inicio do curso, com dedicatória, o livro de sua autoria “Meu Caderno de Matemática”. Foram 60 dias maravilhosos, de grande aproveitamento, que facilidade de ensinar, que didática, ele intercalava nas aulas contos e fatos curiosos da matemática, despertando o interesse de todos. No dia do encerramento, recebo um novo livro com dedicatória – “FOCLORE DA MATEMÁTICA” assinado por ele e todos os alunos mestres do curso. Creia, foi uma das maiores homenagens que já recebi. Uma honra.
Como soube que o Mestre, como titular da cadeira de Matemática da Escola de Arquitetura da UFBA, fez referências elogiosas à minha pessoa como seu professor de matemática em Feira de Santana, venho agradecer-lhe a generosidade, achando que não sou merecedor de palavras tão bondosas. Diante disso, achei por bem remeter-lhe uma copia da homenagem recebida do grande Mestre Malba Tahan. Confesso-lhe que foi a segunda flor colhida no “Jardim da Vida”. Falei em flores, não falei em espinhos. Espinhos houve e muitos, porém isto é outro capitulo, como também a primeira flor.
Renovo meus agradecimentos, desejando-lhe felicidades e que mantenha esse coração generoso aberto para a vida.
Cordialmente, seu velho mestre,
            Joselito Falcão de Amorim                     




[1]  Sobre as exigências do MEC, na época, ao lado no Blog, ver Tese de Doutorado de Sandra Nívea, como eram severas.
[2] Idem, ibidem
[3] Júlio Cesar de Mello e Souza  (Rio de Janeiro6 de maio de 1895 — Recife18 de junho de 1974), mais conhecido como Malba Tahan, foi um professor, educador, pedagogo, conferencista, matemático e escritor do modernismo brasileiro,[1] e, através de seus romance infanto-juvenis, foi um dos maiores divulgadores da matemática do Brasil. Wikipédia

terça-feira, 6 de agosto de 2013

MARIA QUITÉRIA A HEROÍNA ESQUECIDA - II

Joselito Falcão Amorim
Para mim, segundo algumas evidências, as tropas aquartelaram-se num povoado próximo ao riacho Pojuca, tendo em vista a existência de uma grande lagoa nas proximidades. Povoado esse que veio a se chamar de Fortaleza, o hoje distrito de Jaiba. Lagoa essa denominada de Berreca, por ser o nome do proprietário das terras.  Segundo, porque Maria Quitéria ficou órfã de mãe logo cedo, tendo seu pai Gonçalo se casado em seguida. Afirmam que Quitéria não vivia bem com a madastra e por isso passava muito tempo com os parentes no distrito de São Vicente, hoje Tiquarussu. São Vicente era próximo de Fortaleza e tudo faz crer que Quitéria tenha dado um saltinho até Fortaleza, para ver a tropa e quem sabe, se o coração balançou ou o civismo brotou. Aí! Só ela.
Terceiro, eu morava com meus pais numa chácara na Primeira Travessa da Boa Viagem, hoje respectivamente Rua Aloísio Resende e Prof. Geminiano Costa, perto da Queimadinha. Na chácara trabalhava um velho de nome João, quando indagado onde morava dizia sempre que era na Terra dos Soldados. Meu pai, mais tarde descobriu que ele morava em Fortaleza. O fato é que as tropas chegaram a Cachoeira dias depois.  Maria Quitéria corta o cabelo, toma a roupa emprestada do cunhado e incorpora-se às forças de Labatut, com o nome de soldado Medeiros. Seu primeiro batismo foi em Cachoeira, ao atacarem uma corveta vinda de Salvador para bombardear Cachoeira, o que fez a mesma recuar. A história registra sua bravura nas lutas travadas, não só no recôncavo baiano como na periferia de Salvador: Lobato, Pirajá e Cabrito. Seu desempenho nas tropas de Labatut mereceu destaque especial. As tropas patrióticas, embora em número inferior, foram eficientes e, com a ajuda do corneteiro Lopes, que em momento de inferioridade ao invés de tocar retirada, como ordenara o comando, tocou avançar, motivando a tropa, fazendo com que o General Madeira, com suas tropas recuassem e abandonassem a luta. A Bahia assim, a 2 de Julho de 1823, com a derrota e retirada das forças leais às Cortes, consolidou em definitivo a Independência do Brasil. No episódio não se pode omitir o papel de João das Botas, em Itaparica.
Consolidada a Independência, D. Pedro recebe Maria Quitéria, cujo nome era Maria Quitéria de Jesus, conferindo-lhe o posto de Alferes, com o respectivo soldo.
Toda essa história foi para lembrar aos feirenses que não devemos deixar de reverenciar a nossa heroína – Maria Quitéria. Quero esclarecer que aos noventa e três anos ainda existe sangue nas minhas veias, oxigenando o meu patriotismo com a mesmo vigor que vivi por ocasião da Segunda Guerra Mundial, atendendo ao chamamento da Pátria, que mesmo sendo filho único e como tal isento dessa obrigação, a ela servi.  Não tenho interesse em criticar, muito menos em ofender, mesmo porque reconheço o belo trabalho realizado no Município. O faço de modo respeitoso, solicitando até permissão, pois estando de viagem marcada, não posso partir vendo a nossa Heroína esquecida, amputada e invadida. Reconheço uma tentativa de homenageá-la, que se fez com a melhor das intenções, porém homenagem invisível a olho nu. Convém lembrar que a cidade, à época, terminava na Av. Senhor dos Passos (ex Barão de Cotegipe) e foi o Prefeito Bernardino Bahia quem abriu a Avenida com a denominação de Maria Quitéria (a hoje Getulio Vargas). Em frente à Prefeitura havia uma igreja com um cemitério. Em uma esquina ele iniciou a construção da igreja Senhor dos Passos e, na outra esquina, iniciou a construção do atual prédio da Prefeitura. Assim o prédio da prefeitura está em cima da antiga igreja e do cemitério. A avenida cresceu e cresceu e hoje é um dos cartões postais da cidade. No governo do Prefeito Agnaldo Boaventura, que era trabalhista e admirador do presidente Getulio Vargas, mudou-se o nome de avenida Maria Quitéria para avenida Getulio Vargas. Como se abria na época um grande loteamento, de Dona Guilhermina Almeida Mota, segunda esposa do ex-prefeito Agostinho Frios da Mota e o engenheiro da Prefeitura, Dr. José Joaquim Lopes de Brito, havia projetado uma grande rua, o Prefeito Agnaldo transferiu Maria Quitéria para lá. Não sabendo ele, que o tempo faz justiça e deu à heroína Maria Quitéria, a maior e mais bela avenida da cidade.
Já que falei, e olhe que estava seguindo a sabedoria chinesa, quando nos adverte que temos dois ouvidos e uma boca só e, como tal devemos preservá-la. Assim, estava eu sendo todo ouvido. Porém, como deixar de chorar pela nossa Heroína (amputada) e invadida e, também pelo Maestro Estevam Moura, que embora tenha nascido em Santo Estevão, escolheu Feira para viver e aqui realizou sua grande Obra Musical, reconhecida não só no meio musical nacional, como no exterior. Quem não se recorda da “Filarmônica 25 de Março”, com seu garbo, musicalidade, e sonoridade inconfundível, sob o comando do Maestro Estevam Moura. Num município onde surgem todos os anos centenas de novas ruas não faltam espaços para homenagear os amigos.  Mérito a quem tem mérito.  Jamais ofuscá-lo. Assim, como último dever cumprido, concluo esperando que o episódio da Independência seja reestudado, dando-se ênfase nacional ao “2 de Julho” e que Feira seja mais ufanista e ame mais e mais a sua heroína Maria Quitéria e que o distrito que tem o seu nome, não a tenha como órfã abandonada.

quarta-feira, 31 de julho de 2013

MARIA QUITÉRIA - A HEROINA ESQUECIDA I

Joselito Falcão Amorim
Em sete de setembro de mil oitocentos e vinte e dois, o Príncipe Regente D. Pedro, ao retornar de uma viagem a Santos, já às margens do Ipiranga, em São Paulo, recebe mensageiro com carta urgente de Portugal, exigindo seu retorno imediato à Corte, que já havia solicitado e não obedecido.  D. Pedro, num gesto de revolta, pois suas ordens não mais estavam sendo acatadas por algumas províncias, levadas não sabemos, se pelo coração, pelas riquezas que vislumbrava no Brasil ou por amor, declara de imediato o Brasil desligado de Portugal, ocorrendo assim, às margens do Ipiranga, o grito da Independência.  INDEPENDÊNCIA OU MORTE – tão bem retratado naquele magnífico quadro de Pedro Américo.
Separado assim, Brasil de Portugal, nem todas as províncias acataram; houve resistência na Bahia, Maranhão, Piauí, Grão-Pará e Cisplatina, sendo que a maior delas ocorreu na Bahia, com longa duração, grandes lutas e derramamento de sangue. Convém lembrar o 18 de fevereiro de 1822, com a troca de comando do Forte de São Pedro, quando o comandante brasileiro foi substituído pelo General português Madeira de Melo, o que ocasionou revolta e luta, dando lugar ao episódio heróico da sóror Joana Angélica, abadessa do Convento da Lapa. Devem ser ressaltado ainda, o 14 de junho em Santo Amaro e o 25 de junho em Cachoeira, fatos esses que anteciparam o 7 de Setembro. Com a Independência, os brasileiros partidários ou solidários a D. Pedro, sentiram-se ameaçados, sendo alguns aprisionados. Muitos foram castigados e obrigados a abandonar Salvador, refugiando-se em Cachoeira e Santo Amaro, não só pela facilidade, como também por serem as cidades de maior porte, à época. Em Cachoeira, eles começaram a se organizar, recrutando voluntários com a finalidade de ocuparem Salvador, expulsando as tropas sob o comando de General Madeira (há historiadores que afirmam que ele era Almirante). Crescia dia a dia em Cachoeira as forças patrióticas favoráveis à independência. D. Pedro, ao tomar conhecimento, manda à Bahia o General Labatut, com pequeno contingente para ajudar. Labatut era um oficial francês com grande experiência em lutas, travadas em outros países, pois a época, devido às constantes guerras, haviam tropas que podiam ser contratadas para defender qualquer país, as forças mercenárias.  
Labatut com sua frota, em chegando a Salvador, tenta desembarcar em Itapuã, o que não consegue pela presença de forças do General Madeira. Desloca-se para a Praia do Forte, mas lá também se encontravam tropas leais a Portugal, o que fez Labatut rumar para Alagoas, onde desembarca pacificamente. Como seu efetivo era reduzido e com pouco suprimento, ele sobe com suas tropas para Pernambuco. Refeito da viagem, com víveres e maior efetivo, retorna por terra para a Bahia. Passa na região de Pedrão, onde recebe a adesão, não só de soldados, como de vaqueiros, o que deu lugar a formar o pelotão denominado “OS ENCOURADOS DE PEDRÂO”. Dando continuidade a sua marcha chega a Feira de Santana onde instala o seu Quartel General, dizem que em Pojuca um riacho existente nas proximidades do distrito de Fortaleza, hoje Jaiba. Não se tem certeza do local exato em que o General instalou o seu comando, tarefa para os historiadores e pesquisadores. No entanto, quanto a sua estada em Feira de Santana não há duvida, pois existe registro documental e correspondência do Quartel General de Feira dirigida ao Comando das forças patrióticas instalado em Cachoeira, segundo relata o Professor Pedro Tomaz Pedreira, membro do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, em seu livro “Município de Feira de Santana (Das Origens às Instalações)”. O oficio remetido ao Comando tem o seguinte teor:
“IImos. e Exmos. Srs. - Sendo repetidos os ataques do inimigo nos pontos de Pirajá e Cabrito, e por conseqüência mui grande o consumo de pólvora nos ditos pontos, Vs. Exas. farão remeter para ali, com maior brevidade possível, 100 barris de pólvora, da que existe nessa Vila, para ser entregue ao Tenente-Coronel Comandante daquela força, Joaquim Pires de Carvalho e Albuquerque.                                                                                                                                                        Deus guarde a Vs. Exas. -  Quartel-general de Feira de Sant`Ana, 28 de Outubro de 1822. (a) LABATUT, General.”
                                      
                                                     Joselito Falcão de Amorim
                                                    Ex-Professor – Ex-Prefeito - Ex-Combatente
                                                     E Soldado de minha Terra

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

COMENDA CONCEDIDA A JOSELITO FALCÃO AMORIM

Discurso do Santanopolitano Joselito Falcão Amorim por ocasião do recebimento da COMENDA MARIA QUITÉRIA, concedida pela Câmara de Vereadores de Feira de Santana.
Assista até o fim, uma das mais belas falas proferidas por um COMENDADOR, é histórico e emocionante. PARABENS AMORIM.

Filme do Santanopolis dos anos 60