O principal objetivo de Artur
eram os estudos. Fazia as tarefas de casa com responsabilidade, ele sabia o que
queria. Estava concluindo a quarta série ginasial, e depois seria transferido
para Salvador, para fazer o científico no Colégio Antônio Vieira. Não tinha
dúvidas, queria ser médico. Mas, enquanto esse dia não chegava, nas horas vagas
adorava um baba no colégio, no Tênis ou no Cajueiro, os clubes sociais da
cidade. Era bom de bola, todos o queriam escalar para seu time.
Vadinho e Laurinha foram a Salvador matricular
Artur no Colégio Antônio Vieira. Inicialmente, haviam pensado em colocá-lo no
internato do Maristas, mas a irmã de Laurinha Amanda, e Antônio Peixoto, seu
marido, que moravam na Rua Oito de Dezembro, na Graça, não permitiram. O apartamento
deles não era grande, mas tinha três quartos e poderiam colocar os dois filhos,
Paulinho e Carlinhos, de oito e dez anos num quarto, e Artur, em outro. Era um
prédio de três andares, sem elevador, sem garagem, apenas um banheiro por apartamento.
Mesmo acostumado com casa grande e ampla, com vários quartos, grandes áreas e
jardins, no início parecia um pouco desconfortável, mas logo Artur se acostumou.
No início, ia a Feira de
Santana apenas de quinze em quinze dias, tinha seus amigos, suas paquera e namoradinhas.
Adorava ir para casa, podia dirigir o carro do pai, ir às boates sempre tinha
um assustado, uma festa surpresa, com radiola na casa de alguém conhecido. Na
cidade, todos se conheciam, e o acesso aos clubes era quase livre.
O ensino no Vieira era muito
puxado, nem sempre era possível deixar de estudar nos finais do semana. Tinha
provas e testes todas as semanas, mas, mesmo assim, Artur se organizava para ir
à sua cidade.
Como era apaixonado pela
bola, fazia parte do time de futebol de salão do colégio e da turma da rua Oito
de Dezembro. Iam até as areias do Porto da Barra ou do Farol, logo se entrousou com os colegas. No início, sua tia não permitia que saísse á noite, era
muita responsabilidade, um menino com apenas 15 anos, que pouco conhecia a
capital, mas com tempo foi pegando confiança, permitia que fosse jogar babas
até às dez da noite.
Na verdade, o bom era ir a
Feira de Santana, festas, boates, carros, garotas para paquerar e muitas
namoradas . Artur era desejado por todas, bonito, estudioso, família boa, conversa
boa, enfim, um bom partido, mas ele não queria nada sério. Seu Vadinho sempre
lhe chamava a atenção. “Engravidando ou não, tem que se casar, e aí, todos
os seus planos irão por água abaixo, namorada não é para comer../’.
Com novas amizades em
Salvador, do colégio ou do bairro, mesmo sem ser sócio conseguia o ingresso
para entrar na Associação Atlética. Inicialmente, para bater o baba, e depois para
as festas de final de semana e para a boate. Conheceu algumas garotas, algumas
paqueras, mas nada de namoro firme.
Para ir ao Colégio Antônio
Vieira, pegava um ônibus na Rua da Graça que o levava até Campo Grande, e de lá
ia andando até o Bairro do Garcia, no horário da tarde.
Quase sempre voltava andando até o Palácio dos Cardeais, no Campo
Grande, e pegava um ônibus de volta para a Graça, mas, se encontrasse algum
colega, voltava pelo Vale do Canela a pé.
No ponto de ônibus do Campo Grande, ficou impressionado com a
beleza de uma garota. Morena clara, cabelos lisos e compridos, olhos castanhos
bem clarinhos, corpo torneado e rosto muito bonito, alegre, quando sorria
mostrava todos os dentes, aparentava 15 aninhos. Ele a via às segundas, quartas
e sextas, sempre acompanhada de outra garota, branquinha e de cabelo um pouco
louro, algumas sardas, bonitinha. Aguardavam o ônibus do Campo Grande para
Graça, desciam no mesmo ponto que ele, atravessavam a rua e entravam na Rua da
Flórida. Um dia, resolveu segui-las, para ver onde moravam, e viu a morena
linda entrar em uma casa de dois andares, e a lourinha em uma casa em frente.
Ficou ansioso para chegar o dia de encontrar novamente com aquela coisinha
linda, alegre e risonha, afetada, brincalhona, que fazia de conta que ele não
existia. Passou mais de três meses só observando as meninas. Já sabia os nomes,
o da morena era Ângela e o da colega, Suely. Um dia, tomou coragem e puxou
conversa, estava próximo do final do ano, as aulas estavam acabando.
— E aí, tudo bom? Seu nome é Ângela?
Ela sorriu e confirmou com a cabeça.
— Como você sabe?
— Há mais de três meses pegamos o mesmo ônibus, e sempre que
possível me sento próximo de vocês.
Uma olhou para a outra, sorriram, gargalharam. Ele perguntou onde
estudavam, afirmou que sabia que estudavam inglês no EBEC.
— Estudamos o primeiro ano do científico nas Sacramentinas —
respondeu Suely.
— Eu também faço o primeiro ano, no Vieira.
Desceram do
ônibus, foram seguindo a pé até a entrada da rua da casa delas, e depois ele
desceu a Oito de Dezembro, feliz da vida, tinha dado certo, mas infelizmente ou
felizmente o ano estava acabando, e teria que passar as férias em sua cidade,
reencontrar a família. Só retornaria no início de março, quando recomeçariam as
aulas.
As férias em Feira foram adoráveis, clubes, festas no Largo da
Kalilândia, festa de Santana, lavagem da Lenha, procissão de Santana, carnaval
em Serrinha, babas quase todos os dias, no Tênis ou no Cajueiro, banhos de
piscina, sinuca, alguns dias na fazenda com toda a família ou simplesmente
acompanhando Vadinho e Dedé em cavalgadas, ferrando o gado, pescando,
caçando. Às segundas-feiras, acompanhava o avô ao Campo do Gado, e, às vezes, à
Fazenda Pé de Serra. Passava algumas tarde no armazém, tinha o carro à
disposição todas as noites, muitas namoradas, algumas idas ao brega, algumas
aventuras mais apimentadas, foram dias inesquecíveis.
Mas tudo que é bom, acaba. Tinha que voltar para Salvador, para o
apartamento da tia Amanda. Estava
com saudade dos estudos, dos primos Pedrinho e Carlinhos, da praia, do baba e,
principalmente, do ônibus e da paquera das segundas, quartas e sextas-feiras. Pensava em Ângela. “Será que ela está com
saudades?”
Segunda-feira,
primeiro dia de aula, muitas tarefas para casa, o professor de física avisa:
"não podemos perder tempo, temos que começar logo”. Volta pelo mesmo caminho de sempre, a pé até o Palácio dos Cardeais, pega o ônibus para a Graça, mas Ângela não está lá. Desce na Graça, decide ir até a Rua da Flórida, onde mora agarota linda, passa pela porta da casa, que está fechada e com a luz da sala acesa, mas não encontra nem Ângela nem Suely. Chega ao prédio, Pedrinho e Carlinhos estão brincando de bola no playground, brincam um pouco, ouve mais histórias das férias deles na ilha de Itaparica, encontra com alguns colegas de pelada, conversam, Cada um conta suas aventuras das férias e finalmente combinam de bater um baba tu próxima quarta-feira.
(Continua em o reencontro)
Trecho do livro: 100 ANOS DE AMOR, PAIXÃO E SEXO. "Coisas do amor" LUXÚRIA.
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