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O Missionário da Paz
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ransporto-me para o tempo dos meus dez, doze anos, em Salvador. Próximo à Praça da Sé, descortinava-se o prédio do IPASE, extinta repartição pública, onde trabalhava minha tia, Hildete Pompa, chamada carinhosamente de Detinha, e que tinha como colega Divaldo Franco.
Divaldo Franco
Santanopoliano
Não sei quantas tardes, semanalmente, estava lá,
brincando com a máquina de escrever e mostrando deveres da escola a ela. No
meio da tarde, a gente ía merendar nas lanchonetes e passeava na rua Chile, o
coração palpitante da velha Salvador. Nunca pensei que aquele rapaz elegante,
tão amigo da minha tia, com o qual ela se aconselhava, de vez em quando, fosse
se tornar um renomado espírita. E muito menos pensava que, anos mais tarde,
seria um dos seus admiradores. Mas, afinal, quem é Divaldo?
Em Feira de Santana, no dia 5 de
maio de 1927, nasceu Divaldo Pereira Franco. “Di” era seu nome para os
familiares e amigos íntimos. Desde menino, demonstrava rara sensibilidade.
Vivia feliz no seio de sua família que, apesar das dificuldades, era unida. O
menino Di adorava brincar e ficar no quintal. A beleza da natureza o encantava.
O verde da mata, as flores exuberantes, um córrego de águas límpidas, um
pôr-do-sol dourado e o som de sinos que vinha de longe motivavam a imaginação
do menino. Tudo isso enlevava sua alma infantil, além da distração com o doce
“espírito-criança”, Jaguaraçu. Uma programação das entidades superiores já se
fazia visível no desenvolvimento espiritual de Divaldo. Sua mãe nunca o
abandonou. Mesmo depois de desencarnada, acompanhava e visitava seu filho, o
que contribuiu, afora outras ajudas, para a superação de crises interiores e
obstáculos de toda ordem. Cursou a Escola Normal de Feira de Santana, recebendo
o diploma de professor primário. Sua iniciação religiosa deu-se na Igreja
Católica, porém, continuava a ter visões. Nos anos 40, inicia, com segurança, a
prática mediúnica, desenvolvendo-se cada vez mais, tanto no sentido físico,
quanto no espiritual, anunciando, assim, missões futuras.
Mudando-se para Salvador, conhece
Nilson de Souza Pereira, companheiro eterno e D. Nanã que contribuiu na sua
formação espírita. Junto com Nilson e outros amigos, aprofunda-se no estudo da
Doutrina Espírita, aplicando o conhecimento adquirido para autodesenvolver-se e
atender aos necessitados, conforme sua destinação. Em 1947, ao lado de
afeiçoados, funda o Centro Espírita Caminho da Redenção. Em 1951, com coragem e
força de vontade, inaugura a Mansão do Caminho. Daí em diante, como obreiro de
Cristo, empenha-se arduamente nas tarefas da mediunidade e nas assistenciais,
envolto pelo véu da mensagem de Allan Kardec: “fora da caridade não há salvação”.
Vários espíritos se apresentaram
ao menino Di, que evoluindo interiormente desde as primeiras aparições e
comunicações, passou pela adolescência com determinismo e chegou à fase adulta
consciente de seus compromissos éticos. Joanna de Ângelis é uma constante em
sua vida. No último livro, Triunfo
Pessoal, da série psicológica, a mentora fundamentada, principalmente, em
Jung, discerne sobre questões do Bem e do Amor, da criatura e do Criador.
Saltitando pelas antigas vielas e
trilhas da ex-pacata cidade de Feira de Santana, no devaneio por entre a
natureza do quintal de sua casa e estudante atento da antiga Escola Normal
Rural de Feira de Santana, o menino resolve pôr seu leme para Salvador,
movimentando-se da metrópole baiana para o Brasil e para o exterior,
tornando-se Cidadão do Mundo.
Por certo, a analogia que
encontramos entre Fernão Capelo Gaivota, da obra de Richard Bach, e o médium é
pertinente, visto que, ambos voam, cada um a seu modo, superando as mazelas da
vida, em vôos sempre mais altos.
Com nítida visão sobre os horizontes e pés plantados na
terra, Divaldo é um SER AGLUTINADOR. Um SER de CUIDADO.
Faço minhas as palavras de Chico Xavier “Divaldo tem uma estrela na boca”. Com a licença do querido Chico,
completo: “Ele tem cinco estrelas no céu
da boca”. E acrescento: “Divaldo é o
trator de Deus na mata da vida”. (Chico Xavier)
Posso afirmar, convicto, que “a
causa de Divaldo Franco estende-se além do campo espiritista. Tendo como meta a
conscientização do homem, aplica, de várias maneiras, a mensagem do Evangelho:
“Conhecereis a Verdade e a Verdade vos
Libertará”, “Amar a Deus sobre todas
as coisas e ao próximo como a ti mesmo”, mostrando que cabe ao ser humano
(re)descobrir o seu papel neste planeta chamado Terra. O seu compromisso é
altamente significativo, como obreiro da fraternidade, da solidariedade, do
respeito entre os povos, no atendimento das necessidades básicas do homem, no
alcance da almejada Paz. Uma conduta voltada para o bem, rompendo as algemas
materiais do “demasiadamente humano” eleva-se em degraus espirituais,
sustentado por ações ético/fraternais, num processo autoconsciente e revelador
de seu papel como um dos construtores de uma nova ordem social, vivenciando,
assim, os princípios da Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec.
A noite de três de julho de 2002,
no CCAAm, - inesquecível, imperdível. Quando Divaldo Franco disse “Professor Raymundo, meu amigo, meu benfeitor...”,
controlei a emoção e as lágrimas, diante de tão notável humildade. Lá fora, o
sopro do frio de inverno. Mas, dentro do Centro Cultural, em todo o recinto, a
atmosfera era cálida, primaveril, com anjos tocando harpas e flautas. Intenção
e concretização de mãos dadas, unidas, na presença aglutinadora de Divaldo
Franco, sob as retinas da Universidade que lhe abriu as portas e de todos os
que foram vê-lo e abraçá-lo. O bom e o meigo olhar superam os olhares de
soslaio e dúbios. Lembrar é uma forma de amar.
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