[...]
Eu havia prometido contar sobre a emboscada que Qeoclécio armou pra seduzir
afilha do delegado. Então vamos aos fatos [...]
o TEMPO PASSOU e muitos acontecimentos marcaram o tempo em Nossa
Senhora das Dores.
Era o ano de 1966. A seleção brasileira de futebol
estava embarcando para a Inglaterra pra disputar mais uma copa do mundo.
Seu Florentino estava de malas prontas para
assistir ao evento e com ele também ia Rodolpho, com ph de pharmácia.
O governo do estado estava em transição, e assim
que o novo governador foi nomeado, mandou logo um novo delegado para a cidade.
Era um delegado em fim de carreira, casado, e veio
com ele, além da esposa, uma filha.
Dr. Roque era o seu nome. Sua esposa se chamava
Raimunda e a filha Rosa Maria.
Era uma moça de estatura mediana, corpo bem
definido, sorridente, cabelos claros e soltos e tinha o hábito de andar sempre
de saia um pouco mais curta que o de costume na cidade. Isso chamou logo a
atenção dos rapazes, que faziam fila para entrarem no porão da sala de aula e
ficarem afastando o tabuado do piso com a finalidade de ver a calcinha da filha
do delegado. Tudo isso era feito no maior silêncio para não serem descobertos.
Deoclécio estava sempre de olho em Rosa Maria e um
dia, encontrou com ela no caminho da escola e deu uma tremenda cantada na
moça. Ela, de maneira educada o descartou, dizendo que não podia ter nada com
ele, pois havia deixado em Recife um namorado, pelo qual se dizia apaixonada.
Deoclécio então resolveu aceitar aquilo como um desafio, e resolveu a qualquer custo conquistar Rosa Maria.
Fazia de tudo para chamar sua atenção e Rosa Maria o ignorava,
ou fingia que nada daquilo chamava a sua atenção.
Ele sabia dos seus hábitos, pois estava apaixonado por ela,
mas não queria admitir esse sentimento, talvez até por excesso de machismo.
Certo dia, ele resolveu armar uma emboscada para seduzir
Rosa Maria. Como sabia que aos domingos ela saia de bicicleta para a zona rural
e o seu caminho era sempre o mesmo, Deoclécio resolveu pegá-la na estrada que
passava por um dos lados da fazenda.
Acordou cedo e saiu sem tomar café. Estava excitado, suas
pernas tremiam e seu coração disparado. Andou por mais de meia hora até chegar
ao ponto que ele sabia que Rosa pararia para descansar e voltar à cidade.
O que ele não sabia é que o delegado havia resolvido sair
junto com Rosa para esse passeio de bicicleta.
Passado algum tempo, Deoclécio avista Rosa que vem ao longe,
mas como o delegado vinha um pouco atrás, não deu para perceber que ela estava
em companhia do pai.
Ela parou, desmontou do veículo, encostou a bicicleta em
uma árvore e desceu em direção à fonte para beber um pouco de água. Deoclécio a
agarrou por trás e tentou seduzi-la. Os dois rolaram pelo chão e Deoclécio, por
cima dela deu um beijo. Ela, não sei se pelo cansaço ou pela sedução, se deixou
beijar. O fato é que a cena estava ficando quente, quando o delegado, de pé, ao
lado dos dois, pigarreou e disse:
-
Posso saber o
que é isso?
Deoclécio deu um pulo e muito assustado resolveu correr. O
delegado gritou:
-
Pare! Senão eu
atiro.
- Deoclécio sentiu um frio na espinha. Sabia que a
coisa era séria. Ele, definitivamente estava encrencado. Voltou, as pernas tremiam
tanto que teve que sentar. Seu rosto estava em chamas. O delegado então disse
olhando para a filha: Então é isso que a senhora vem fazer
aqui todos os domingos. Como pode fazer isso comigo? Sua mãe sabe dessa pouca
vergonha?
Rosa
Maria tenta explicar e diz:
- Mas
pai, eu nunca me encontrei com ele aqui, ele me agarrou e eu não pude fazer
nada...
- Ora
minha filha, eu não nasci hoje. Você acha que vou acre ditar que não queria,
depois de tudo o que vi?
E
olhando para Deoclécio falou:
- E
o senhor? Não vai me dizer nada? Ou vai me dizer também que é a primeira vez
que isso acontece?
- É
a primeira vez, sim senhor.
- Respeite
a polícia cabra safado... Eu sou um delegado experiente, tenho mais de 30 anos
de profissão, estou acostumado a casar sujeito safado como o senhor na
delegacia com a mulher já embuchada e sempre tem a mesma conversa...
- Mas
delegado... Eu não fiz nada...
- Não
fez porque eu cheguei a tempo de evitar... E quando eu não cheguei? O que vocês
já fizeram?
Olhou
pra filha e gritou:
- Monte
já naquela bicicleta e vá pra casa, eu vou ficar aqui com esse cabra safado pra
acertar os reparos que do que já foi feito.
- Mas
pai...
- Não
tem mais e nem menos... Você vai pra casa e não saia de lá antes de eu
chegar...
Rosa
Maria montou na bicicleta e retornou apressada. Deoclécio estava pálido e
sentado, não conseguia levantar.
O
delegado enfurecido perguntou:
- E
então cabra safado, vai me contar tudo?
- Eu
não tenho o que contar delegado. Só teve o que o senhor viu...
- Vamos
ter que reparar isso de qualquer maneira. Qual o seu nome?
- Deoclécio.
- O
que você faz da vida pra se manter?
- Eu
sou estudante.
- E
ganha dinheiro como?
- Meu
pai me dá mesada.
- Quem
é o seu pai, cabra safado?
- Sou
filho do coronel Salustiano, o prefeito.
O
delegado gelou.
- Então
o senhor é filho do prefeito, dono dessas terras aqui?
- Sou
sim senhor... Agora posso ir?
O
delegado vislumbrou um futuro pra filha.
- Pode
sim... Mas antes quero te dizer uma coisa. Ninguém molesta minha filha e fica
por isso mesmo. O senhor vai ter que se
casar com ela... Antes que a barriga
cresça. Entendeu?
Deoclécio,
morrendo de medo responde:
- Entendi
sim senhor...
Passou
por debaixo da cerca e sumiu no mato.
O
delegado pegou a sua bicicleta e voltou pra casa.
No caminho, seus pensamentos estavam voltados para a cerimônia do casamento da sua filha, com o filho do prefeito.
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