Símbolos do Santanópolis

FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

domingo, 14 de agosto de 2022

POLÍTICA DE ANTÃO - XXIII


POLÍTICA DE ANTÃO - XXII
 

MARCOS PÉRSICO – Santanopolitano, cineasta, teatrólogo, escritor.

QUE HOUVE COM DEOCLECIO

[...] Eu havia prometido contar sobre a emboscada que Qeoclécio armou pra seduzir afilha do delega­do. Então vamos aos fatos [...]

          o TEMPO PASSOU e muitos acontecimentos marcaram o tem­po em Nossa Senhora das Dores.

    Era o ano de 1966. A seleção brasileira de futebol estava embar­cando para a Inglaterra pra disputar mais uma copa do mundo.

Seu Florentino estava de malas prontas para assistir ao evento e com ele também ia Rodolpho, com ph de pharmácia.

O governo do estado estava em transição, e assim que o novo governador foi nomeado, mandou logo um novo delegado para a cidade.

Era um delegado em fim de carreira, casado, e veio com ele, além da esposa, uma filha.

Dr. Roque era o seu nome. Sua esposa se chamava Raimunda e a filha Rosa Maria.

Era uma moça de estatura mediana, corpo bem definido, sor­ridente, cabelos claros e soltos e tinha o hábito de andar sempre de saia um pouco mais curta que o de costume na cidade. Isso cha­mou logo a atenção dos rapazes, que faziam fila para entrarem no porão da sala de aula e ficarem afastando o tabuado do piso com a finalidade de ver a calcinha da filha do delegado. Tudo isso era feito no maior silêncio para não serem descobertos.

Deoclécio estava sempre de olho em Rosa Maria e um dia, en­controu com ela no caminho da escola e deu uma tremenda can­tada na moça. Ela, de maneira educada o descartou, dizendo que não podia ter nada com ele, pois havia deixado em Recife um na­morado, pelo qual se dizia apaixonada.

Deoclécio então resolveu aceitar aquilo como um desafio, e re­solveu a qualquer custo conquistar Rosa Maria.

Fazia de tudo para chamar sua atenção e Rosa Maria o ignora­va, ou fingia que nada daquilo chamava a sua atenção.

Ele sabia dos seus hábitos, pois estava apaixonado por ela, mas não queria admitir esse sentimento, talvez até por excesso de ma­chismo.

Certo dia, ele resolveu armar uma emboscada para seduzir Rosa Maria. Como sabia que aos domingos ela saia de bicicleta para a zona rural e o seu caminho era sempre o mesmo, Deoclé­cio resolveu pegá-la na estrada que passava por um dos lados da fazenda.

Acordou cedo e saiu sem tomar café. Estava excitado, suas per­nas tremiam e seu coração disparado. Andou por mais de meia hora até chegar ao ponto que ele sabia que Rosa pararia para des­cansar e voltar à cidade.

O que ele não sabia é que o delegado havia resolvido sair junto com Rosa para esse passeio de bicicleta.

Passado algum tempo, Deoclécio avista Rosa que vem ao lon­ge, mas como o delegado vinha um pouco atrás, não deu para per­ceber que ela estava em companhia do pai.

Ela parou, desmontou do veículo, encostou a bicicleta em uma árvore e desceu em direção à fonte para beber um pouco de água. Deoclécio a agarrou por trás e tentou seduzi-la. Os dois rolaram pelo chão e Deoclécio, por cima dela deu um beijo. Ela, não sei se pelo cansaço ou pela sedução, se deixou beijar. O fato é que a cena estava ficando quente, quando o delegado, de pé, ao lado dos dois, pigarreou e disse:

-     Posso saber o que é isso?

Deoclécio deu um pulo e muito assustado resolveu correr. O delegado gritou:

-     Pare! Senão eu atiro.

-     Deoclécio sentiu um frio na espinha. Sabia que a coisa era sé­ria. Ele, definitivamente estava encrencado. Voltou, as pernas tre­miam tanto que teve que sentar. Seu rosto estava em chamas. O delegado então disse olhando para a filha: Então é isso que a senhora vem fazer aqui todos os domingos. Como pode fazer isso comigo? Sua mãe sabe dessa pouca vergonha?

Rosa Maria tenta explicar e diz:

        -   Mas pai, eu nunca me encontrei com ele aqui, ele me agarrou e eu não pude fazer nada...

        -  Ora minha filha, eu não nasci hoje. Você acha que vou acre ditar que não queria, depois de tudo o que vi?

E olhando para Deoclécio falou:

        -  E o senhor? Não vai me dizer nada? Ou vai me dizer também que é a primeira vez que isso acontece?

        -  É a primeira vez, sim senhor.

       -  Respeite a polícia cabra safado... Eu sou um delegado experiente, tenho mais de 30 anos de profissão, estou acostumado a casar sujeito safado como o senhor na delegacia com a mulher já embuchada e sempre tem a mesma conversa...

        -  Mas delegado... Eu não fiz nada...

        -  Não fez porque eu cheguei a tempo de evitar... E quando eu não cheguei? O que vocês já fizeram?

Olhou pra filha e gritou:

       - Monte já naquela bicicleta e vá pra casa, eu vou ficar aqui com esse cabra safado pra acertar os reparos que do que já foi feito.

        - Mas pai...

        - Não tem mais e nem menos... Você vai pra casa e não saia de lá antes de eu chegar...

Rosa Maria montou na bicicleta e retornou apressada. Deoclécio estava pálido e sentado, não conseguia levantar.

O delegado enfurecido perguntou:

        - E então cabra safado, vai me contar tudo?

        - Eu não tenho o que contar delegado. Só teve o que o senhor viu...

        - Vamos ter que reparar isso de qualquer maneira. Qual o seu nome?

        Deoclécio.

        -  O que você faz da vida pra se manter?

        Eu sou estudante.

        E ganha dinheiro como?

        Meu pai me dá mesada.

        Quem é o seu pai, cabra safado?

        Sou filho do coronel Salustiano, o prefeito.

O delegado gelou.

        - Então o senhor é filho do prefeito, dono dessas terras aqui?

        Sou sim senhor... Agora posso ir?

 O delegado vislumbrou um futuro pra filha.

      - Pode sim... Mas antes quero te dizer uma coisa. Ninguém molesta minha filha e fica por isso mesmo. O senhor vai ter que se casar com ela... Antes que a barriga cresça. Entendeu?

Deoclécio, morrendo de medo responde:

        -  Entendi sim senhor...

Passou por debaixo da cerca e sumiu no mato.

O delegado pegou a sua bicicleta e voltou pra casa.

No caminho, seus pensamentos estavam voltados para a cerimônia do casamento da sua filha, com o filho do prefeito.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Filme do Santanopolis dos anos 60