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FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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domingo, 28 de agosto de 2022

POLÍTICA DE ANTÃO - XXIV

POLÍTICA DE ANTÃO - XXIII
 

MARCOS PÉRSICO – Santanopolitano, cineasta, teatrólogo, escritor.

A VIAGEM DE RODOPHOLFO

(COM PH DE PHARMÁCIA)

[...] Vamos aos fatos do romance de Tibúrcio com o filho do dono da pharmácia. Por que tudo foi ocultado [...]

SEU FLORFNTINO, FARMACÊUTICO, ERA fanático por fu­tebol. Como 1966 seria o ano do tri campeonato, pois a seleção havia vencido a copa de 1958 na Suécia e 1962 no Chile, agora era a vez da vencer na Inglaterra.

Seu florentino resolveu viajar para assistir aos jogos e voltar tri campeão.

Rodolpho já estava com 19 anos e resolveu ir junto com o pai para este passeio. Quando comentou com Tibúrcio que ficaria mais de um mês ausente da cidade, ele (ou ela) quase morreu de ciúme.

Se sentiu abandonado, traído, desprezado, um objeto, essas coisas de viado. Mas era a situação real, ele tinha mesmo que se conformar. Na noite que antecedia a viagem, saíram para come­morar a despedida. Beberam, se beijaram, prometeram fidelidade, cumplicidade. Tibúrcio fez Rodolpho prometer que lhe seria fiel, que escreveria assim que chegasse a Londres... Essas frescuras.

Na madrugada, antes de cada um ir pra suas casas, resolveram transar ao lado do coreto. Aquela seria uma noite romântica para Tibúrcio. Dar a bunda à luz do luar.

Quando estavam nas vias de fato, (muito mais no fato do que na via), o delegado dá um flagrante nos dois e ordena a prisão de ambos. Tentaram se explicar, mas não teve diálogo. Cadeia.

Ao amanhecer, o delegado chega à delegacia e vai logo para a carceragem conversar com os dois.

Ao entrar no corredor da carceragem, Tibúrcio chama logo o delegado e diz:

-    Por favor, delgado, solte logo Rodolpho, ele tem uma viagem pra fazer com o pai dele. Vão até Recife embarcar para Londres. Não é justo o senhor manter ele preso aqui dentro.

-    E por que não pensaram nisso, antes de fazer o que estavam fa­zendo em praça pública? Aquilo lá é lugar do senhor dar a bunda?

-    Mas delegado, eu assumo. A culpa foi minha, solte Rodol­pho, por favor.

O delegado olha pra Rodolpho e pergunta:

-     O senhor é filho de quem?

-     Sou filho do dono da Pharmácia.

-    O senhor é filho de seu Florentino, um homem honrado, um homem sério, de respeito... Se prestar a um papel desses com um viado, vagabundo que nem pai tem? O senhor devia ter vergonha de se misturar com esse tipo de gente. Vou soltar o senhor, mas esse viado vai ficar aqui, pra aprender a respeitar a cidade alheia...

Mandou abrir a cela e Rodolpho saiu. Tibúrcio começou a chorar ao ver seu amor sair sem se despedir dele.

O delegado voltou pra sua sala.

Mais tarde, como a notícia já havia chegado ao bar do seu Zeca, não demorou muito, o prefeito ficou sabendo que seu filho Tibúrcio estava preso, só não contaram o motivo da prisão.

O prefeito mandou chamar o delegado até a prefeitura pra sa­ber o que havia acontecido.

Dr. Roque, o delegado, se fez anunciar e teve a permissão de entrar no gabinete do prefeito, que por sinal, não estava com cara de muitos amigos. Foi curto e grosso.

-    O senhor agora deu pra perseguir os meus dois filhos, dele­gado? Que história é essa de prender meu filho?

-    Boa tarde Sr. Prefeito. Não prendi seu filho. Prendi por aten­tado violento ao pudor o filho do Sr. Florentino, dono da pharmá­cia, e um homossexual qualquer. Os dois estavam fazendo sexo ao lado do coreto. Pelo que sei, seu filho é muito macho, haja vista o que estava tentado fazer com a minha filha.

O prefeito orgulhoso da masculinidade dos filhos, disse:

-    Graças a Deus, meus dois filhos saíram ao pai. Macho. Não podem ver um rabo de saia.

-               Dois filhos coronel?

-               Sim. Dois filhos. Deoclécio, seu genro e Tibúrcio o meu filho do meio.

-               Como é esse seu filho do meio?

-               É um cabra macho. Parece muito comigo. Comedor. Vive encangado com o filho de seu Florentino. Os dois juntos aterrorizam a meninas dessa cidade. Aquele sabe viver...

-               O senhor tem uma foto dele pra me mostrar. Eu acho que não conheço.

-               O prefeito tirou uma foto de dentro da carteira e mostrou pro delegado. Nesse instante o delegado engasgou com a própria saliva, começou a se sentir mal. Pediu licença e saiu da sala. O prefeito o acompanhou.

-               O senhor está melhor, delegado?

-               O delegado sem saber o que fazer pra contar o ocorrido:

-               Estou sim, prefeito... Estou melhor... Acho que o senhor deve ir comigo até a delegacia.

-               Fazer o que lá? Está com medo de morrer engasgado?

-               Não senhor, prefeito... Quem pode morrer engasgado é o senhor.

-               E saíram em direção à delegacia.

-               No bar do seu Zeca já estava o maior burburinho. Na porta da prefeitura então...

-               Seu Zeca não poderia perder esse flagrante, fez um lanche e foi levar para Tibúrcio na carceragem. Era a forma de ficar bem perto dos fatos. Conseguiu entrar graças a uma propina que deu ao carcereiro. Já em 1966 se corrompia carcereiro.

-               O delegado e o prefeito entraram. Dr. Roque estava transpirando acima do normal. Sentou-se, mandou o prefeito se sentar e começou uma conversa estranha com o coronel.

-               Sabe coronel, tem coisas que os filhos da gente fazem e nós temos que relevar.

-               Eu sei delegado. O ocorrido com o meu filho e a sua filha é coisa da juventude. Nós já tivemos aquela idade.

-               Pois é coronel. Mas se alguma coisa não deu certo com um filho, não significa o fim do mundo. Não criamos os filhos para nós, criamos para o mundo.

-               Eu sei disso delegado. Eu, graças a Deus, criei meus filhos ensinando sempre o correto. Sempre fui muito enérgico com eles. Os meninos são homens, tem que aprender a se virar. Já a filha moça, a gente tem que ter certo cuidado, na verdade é a mãe quem educa a filha e o pai educa o filho macho.

-               É verdade, coronel. Mas nem sempre dá certo, né?

-               Dá certo sim, delegado. Tem quer ser enérgico pra educar filho homem. Tem que ter pulso firme... Senão vira boiola... O senhor me entende?

-               Entendo sim prefeito... Entendo muito bem.

-               O prefeito olhou para os lados, se certificou de que não tinha mais ninguém por perto e falou baixinho:

-               O delegado tem filho homem?

-               Tenho um filho que mora em Recife, vai se formar este ano.

-               Ainda bem baixinho:

-               Por acaso o seu filho se despombalizou? Virou frutinha?

-               Não entendi, prefeito.

-               Vou ser direto. Por acaso o seu filho é viado?

-               O delegado deu uma gargalhada. Não se conteve.

-               Não Sr. Prefeito, o meu filho é homem, cabra macho.

-               Ainda bem... Já pensou que desgosto pra um pai ter um filho viado?

-               Deve ser horrível coronel.

-               Deve ser.

-               O delegado resolve entrar no assunto.

-               E se o senhor descobrisse que um filho seu é viado?

-               O coronel sorriu:

-               O senhor não imagina o que eu seria capaz de fazer...

-               O que faria coronel?

-               Eu confesso que mato... Eu não aceito isso... Eu mato.

-               O delegado tentou se livrar do problema.

-               Bem coronel, a conversa está boa, mas eu vou pra casa. Obrigado por ter me ajudado a me livrar daquele engasgo, Já estou bem melhor.

-               O coronel querendo ver o filho, pergunta:

-               Mas é verdade que meu filho foi preso pelo senhor?

-               Não é verdade. Alguém deve ter contado uma história errada. Foi o filho do farmacêutico e um viado que eu prendi. Seu filho jamais entraria aqui.

-               Saíram juntos.

-               O delegado colocou a mão esquerda no ombro do prefeito e caminharam boa parte do tempo assim.

-               Como bons amigos.

-               Mais tarde, o delegado retornou à delegacia e mandou soltar Tibúrcio, mas não sem antes passar um sermão.

-               A noite já tinha caído e Tibúrcio chorando, caminhou pela praça sozinho.

-               Não havia Rodolpho, não havia ninguém.

-               Apenas um andar solitário.

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