e-book, clique em cima e-book em letras diferentes e abre toda a "Revista MESTRAS HOLÍSTICAS E OUTRAS CRÔNICAS"
REMINISCÊNCIAS
Eli Oliveira
“Mirei no meu coração, vi os outros, vi meu sonho, encontrei o que queria.” Cecília Meireles
Um interregno imposto pelas circunstâncias, esta coluna retorna. Um dos seus objetivos vem sendo alcançado – mirar movimentos do passado que deram frutos. Os que estão, hoje, desenvolvendo atividades holísticas passam a compreender melhor que os fios trançados, ontem, numa rede benéfica, contribuíram para o trançado da rede de hoje e para o que virá depois.
Diga-se, de passagem, que grupos feministas, ao resgatar a força da mulher, tiram-na do baú do esquecimento resgatando, inclusive, seus feitos, suas construções. É por aí, também, que estou indo. Anteriormente, comentando pioneirismos no campo das chamadas terapias alternativas, enfoquei duas figuras plácidas, na placidez antiga desta cidade – Carminha e Elda (Corpo/Mente, n°9 e 10). Agora, Eli oliveira. Idos de 70, em viagem pelo interior da Bahia, como Técnico em Educação, pela Secretaria da Educação e Cultura, coordenando, juntamente com colegas da SEC, atividades pedagógicas, no Colégio Estadual de Feira de Santana, em um dos grupos, de Educação Artística, conheci Junília Oliveira – Eli. De logo, estabeleceu-se entre nós um diálogo em torno da arte musical e de questões espirituais.
Professor da UEFS, reencontrei-a. Conheci Dr. Herval, seu esposo, e Ângela Oliveira, filha do harmonioso casal. Tinha início uma sólida amizade. Levaram-me para conhecer a Escolinha de Dança Criativa U que funcionava na residência da família, à Rua Castro Alves, n° 792. Demorei-me naquele espaço muitas tardes, deliciando-se com a atmosfera infantil reinante – tudo ali dançava! Minha filha, Marília, ensaiava então seus primeiros passos do ballet em direção à futura EARTE.
Com o funcionamento da EARTE (1979), outros cursos, ao lado da dança, foram implantados – ginástica, musculação, capoeira, karatê. A intenção de Eli e Ângela iria mais longe. Não apenas cursos isolados, mas, ações globalizadoras, vivências de cada um, de cada grupo, caminhos diversificados em busca de uma meta maior – a unidade latente em todas as coisas. Numa prova disso, a criação, mais tarde, do projeto Arte e Movimento. Os encontros sabatinos abrangiam Dança/Poesia/Música, com Grudefs, Grutearte, Minigrudefs, Seminário de Música. Em uma das apresentações do Seminário, do qual fiz parte muitos anos, aconteceu a performance dos grupos da EARTE e do Seminário, comigo na flauta doce e Clóvis Rodrigues e Jairo Nascimento, com clarinetes – um dos momentos de fruição artístico-espiritual, dança e música integradas.
Eli e Ângela espraiando a cultura de uma maneira abrangente/integradora continuavam presenteando a comunidade feirense com propostas desafiantes. Na bagagem das excursões pelo Brasil e pelo exterior, a jovem trazia danças variadas, alimentação natural, yoga, acupuntura, músicas, massagens.
Eli que, nos anos sessenta, estudou música no Seminário (ligado à UFBA, depois à UEFS), aqui, em Feira de Santana, teve como professores, dentre outros, Hildebranda Káteb, Hamilton Lima, Georgina Lima. Ao tempo em que concluía o curso de yoga com De Rose, em Salvador, iniciava-se como instrutora e continuava dando aulas de música.
No início dos anos 80, investindo no campo das terapias alternativas, Eli, auxiliada por Ângela, convidou focalizadores e profissionais, possibilitando vivências integradoras, inclusive orientais, visando o equilíbrio físico-mental-emocional-espiritual. Assim é que a vinda do Engenheiro Agrônomo, Edson Hiroshi, com experiências de artes marciais e de projetos ecológicos, a do mestre sufi Gurudev Sing Khalsa, com Kundalini Yoga, a quem muito devo o aprendizado nesse campo e dos estudos teóricos e práticos sobre os Chakras. É oportuno dizer que, durante alguns anos, mantivemos contato, e um dos seus discípulos, Sat Nam, vez em quando, hospedava-se em nossa casa, proporcionando-nos diversas práticas, na condição de intermediário do mestre Gurudev. Graças também a Eli e Ângela, visitou-nos o médico naturalista salvadorenho, José Efraim Melara, outra iniciativa que ampliou o horizonte, com respeito à medicina natural e ao naturalismo.
E a EARTE vicejava graças à qualidade das sementes e dos cuidados que lhe destinavam. Infelizmente, em outubro de 1983, no cenário, a falta de Ângela Oliveira, vítima de acidente automobilístico. De repente, um hiato na vida de Eli que, a todo custo, pondo à prova sua força interior, tenta recuperar-se, administrando a perda, em trabalho constante. Passa uma temporada em Salvador, à busca de novos caminhos. Nas viagens para Figueira, um novo horizonte. Eli encontra um modo de viver compatível com suas experiências anteriores e seus anseios, continuando a navegar pelos mares da vida, com esperança e muita fé. Residindo, agora, em Lavras (MG), semanalmente, vem desenvolvendo atividades musicais no espaço coordenado por trigueirinho.
Eli, por estes dias, está entre nós, vamos abraçar, ver de perto uma das guerreiras da paz que mantém a esperança no paraíso que está dentro de todos nós e que precisa ser (re)descoberto. E como disse, neste jornal, na edição de dez./2001/n° 10: “Pessoas e grupos subindo os degraus da nova consciência contribuem para o estabelecimento de um bem pensar – ecológico e espiritual – na Terra”. Seja bem-vinda Eli.
Nenhum comentário:
Postar um comentário