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FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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quinta-feira, 19 de maio de 2022

POLÍTICA DE ANTÃO - XI

MARCOS PÉRSICO – Santanopolitano, cineasta, teatrólogo, escritor.

 POLÍTICA DE ANTÃO - X

ASSUMINDO

[...] Bastante inseguro esem a maior tendência po lítica, esse nosso coronel Salú. Mas ele estava gos tando da nova função de tirano da revolução. Vo­cês vão ver como o poder modifica um homem [...]

A TERÇA-FEIRA AMANHECE

Como de costume, coronel Salustiano acordou cedo, se arrumou melhor que nos outros dias e saiu da fazenda sozinho. Ao chegar à cidade, deu algumas voltas pela praça, verificou outras ruas e seguiu em direção ao velho armazém de fumo, onde estavam os presos. Estacionou seu Jeep do lado de fora e entrou, mas não sem antes falar com os sentinelas de plantão na entrada.

Ao checar tudo em volta, foi até o lugar das celas e encontrou o ex-prefeito Gilberto, sentado no chão, de frente para as grades. O coronel parou, olhou em volta, encarou o ex-prefeito e lhe deu um bom-dia sem fitá-lo.

-     Bom-dia Sr. Gilberto.

O ex-prefeito respondeu friamente.

-     Bom-dia.

-     Como passou a noite?

-     Deixa de ironia, coronel...

-     O senhor está precisando de alguma coisa?

O ex-prefeito sabia que brigar naquela hora seria pior, melhor era levar aquela situação de maneira calma.

-    Coronel, eu gostaria que o senhor avisasse a minha família onde eu estou e o que aconteceu. Minha mulher e minha filha não sabem de nada ainda. Por favor, faça isso.

O coronel Salustiano concordou e saiu.

Durante o percurso de volta até a cidade, encontrou com o capitão Duarte na estrada e pararam para conversar. Coronal Salú falou que iria até a casa do ex-prefeito comunicar a sua prisão.

-   Capitão, estou indo até a casa do ex-prefeito avisar da sua prisão.

-   Está bem coronel, faça isso, mas avise a esposa dele que ela não poderá vir para cá. Mais tarde, nós definiremos o dia de visitas.

O coronel seguiu viagem, e ao entrar na cidade, encontrou com o vereador Anacleto Capanico sentado num banco da praça. Parou o carro e perguntou:

-   O senhor convocou a reunião para hoje?

-   Já avisei a todos, mas Tonho da Cachorra disse que não vai.

-   Não vai?

-   Disse que uma reunião convocada de forma ditatorial não tem validade... Essas coisas.

-   Pois vá dizer a ele que se não for eu vou mandar prender. E qualquer um que faltar a esta convocação será preso imediatamente. Vá e diga isso. Quero todos os vereadores na câmara hoje à tarde.

-   Sim, senhor. Vou avisar um por um.

O coronel seguiu na sua missão de avisar a D. Catuta e Maria Flor. Parou o carro em frente à porta da casa e uma janela se abriu. Era Maria Flor.

O coronel desceu do carro e cumprimentou a moça.

-   Bom-dia Maria Flor, sua mãe está em casa.

-   Está sim, coronel. Vou chamar.

D. Catuta veio receber o coronel. Abriu a porta e mandou que ele entrasse. Já dentro da casa o coronel foi logo falando.

-   D. Catuta, o Gilberto está preso.

D. Catuta, com olhar espantado se sentou.

-   Preso? Mas por quê?

-   A senhora sabe que os militares é quem estão mandando no país. Fizeram a revolução pra acabar com a baderna política que estava tornando tudo muito inseguro. Era necessário coibir certas reformas que queriam fazer. O presidente João Goulart foi exilado, muita gente foi presa. Mas eu asseguro que está tudo bem com ele. Logo estará solto. Acredite em mim.

-    Eu sabia que isso ia acontecer. Tanto que falei pra ele não se meter em política.

-   Fica tranquila D. Catuta, nada de ruim vai acontecer.

-   E onde ele está? Preciso ir lá, levar alguma coisa pra ele comer...

-   Não, D. Catuta, a senhora não poderá ir lá, só depois que o pessoal do exército liberar pra visita. Por enquanto, não faça nada.

-   Pelo menos me diz onde ele está.

-   No momento não posso, mas fica tranquila que quando eu puder falar, eu lhe direi onde ele está.

Despediu-se das duas e notou que havia num quarto uma estante com alguns livros arrumados. Sorriu e foi embora.

À tarde, o coronel chegou à câmara de vereadores depois que todos já estavam esperando. Foi uma estratégia montada pelo capitão Duarte. Havia um burburinho.

No plenário, estavam todos os vereadores eleitos e empossados.

Na plateia, não havia ninguém.

O coronel entrou acompanhado do capitão e se sentaram bem na fila da frente. O presidente da câmara, Tonho da Cachorra, abre a seção com a pauta da reunião. Enquanto ele discursava, alguns soldados cercavam o prédio e fechavam as portas. O presidente do legislativo interrompeu seu discurso dizendo:

-   Senhores colegas vereadores, tenho que informar que a câmara está sendo cercada por soldados do Exército. Gostaria de cobrar uma explicação, afinal aqui é a casa da cidadania e da democracia. Exijo uma explicação.

O capitão levantou-se, e disse alto:

-   Por enquanto ninguém entra e ninguém sai daqui.

-   Podemos saber o que está acontecendo? - Perguntou Tonho da Cachorra.

O capitão prosseguiu:

-   Esta reunião foi convocada de acordo com o artigo 6, pará-grafo 2 inciso terceiro da lei de exceção imposta pelo Ato Institucional n°. 1, que nomeia o novo prefeito desta cidade, o senhor Salustiano Agamenon Supimpa dos Santos, que deverá tomar posse nesta reunião. Gostaria que constasse em ata desta assembleia o termo de posse assinado por todos os presentes e sem ressalvas.

O secretário da Câmara lavrou o termo de posse e todos assinaram sob as vistas do capitão e do coronel. Logo após a solenidade de posse o Capitão Duarte decretou a prisão dos vereadores: Tonho da Cachorra, Carlito Bacalhau e Tonho Capenga, todos acusados de subversão da ordem e de participarem de células comunistas. O mais implicado era Tonho da Cachorra, pois havia informações de que ele fazia parte do Movimento Revolucionário 8 de outubro (MR8)

Os soldados invadiram o recinto, algemaram os três acusados e levaram para dentro de um caminhão do exercito.

Estava assim empossado de fato e de direito o coronel Salustiano, agora prefeito do Município de Nossa Senhora das Dores.

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