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FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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terça-feira, 24 de maio de 2022

A PRIMEIRA VEZ - I

RAYMUNDO ANTÔNIO CARNEIRO PINTO
 

Conto dividido em três postagens.

    De segunda a sexta-feira, o cursinho que preparava estudantes para o temido vestibular encerrava as aulas às dezessete horas. Logo depois, uma onda alegre e descontraída de rapazes e moças, formando pequenos grupos, aumentava o vaivém de gente no Jardim da Piedade. Alguns sempre demoravam na porta, comentando as novidades do dia. Outros preferiam conversar dando voltas em torno da praça. Os mais apressados corriam de imediato logo para o ponto de ônibus.     

A primeira vez - wikihow.com
    Ah!, mas havia os que a turma chamava "filhinhos de papai". Era o pessoal que tinha carro. Estes nunca demonstravam estar com pressa e raramente iam embora sozinhos. Os fregueses da carona eram certos. Entre os motorizados, existiam algumas garotas. Maristela, por exemplo, tinha um automóvel branco, presente do pai no Natal do ano anterior.

Quem não conhecia Maristela? Morena de olhos claros, estatura mediana, invejável corpo do tipo "enxuto", cabelos pretos, um pouco ondulados e cortados bem curtos. Uma jovem de 18 anos que irradiava beleza e simpatia. Um colega novo que pedia informações sobre aquela "menina linda" obteve a seguinte resposta de um cara cabeludo que estava ao lado mascando chicletes:

- Essa aí, meu chapa, é paqueradíssima, mas a coisa mais difícil é conseguir namorar com ela... Conheço um monte de gente que já tentou e desistiu.

No carro de Maristela só cabiam quatro pessoas além da motorista. Uma pena, pois um número muito maior de colegas gostaria de sentir o prazer daquela companhia agradável todos os dias. Não era somente pela alegria espontânea e pelo jeitinho cativante que ela possuía em alta dose. Havia outra razão que levava as meninas do curso a sempre procurarem um bate-papo com a simpática colega. Ela adorava falar sobre assuntos ligados ao sexo.

Cecília, Dora, Cristina e Zuleide, todas moradoras do bairro da Barra, onde Maristela também residia, eram suas companheiras mais constantes. Não chegavam a ser consideradas feias, mas, na opinião da rapaziada metida a entender de "mulherologia", deixam muito a desejar. Para sermos comedidos, diríamos que pertenciam ao grupo das "sem atrativos especiais". A verdade é que tinham dificuldade de arranjar namorados. A pouca experiência em contatos amorosos mais íntimos contribuía para que fossem as mais curiosas nas horas em que Maristela "pontificava" em torno de temas sexuais.

- Mais importante do que ato sexual em si, deve ser, sem dúvida, a fase de preparação. A mulher realmente experiente conhece se o homem é, ou não, um bom amante pela habilidade que ele demonstre em saber excitá-!a antes do coito.

Essa afirmativa foi feita uma vez por Maristela com tamanha convicção e tranquilidade que deixou suas habituais ouvintes absolutamente certas de que estavam diante de uma verdadeira "expert" em sexo. E mais: alguém que, além da teoria, demonstrava ter também considerável prática...

Uma das meninas, de outra feita, comentou que viu uma reportagem pela televisão sobre a pílula anticoncepcional, que inclusive prevenia poder ela ser causadora de câncer. Foi o bastante para que Maristela, com a maior desenvoltura, desse uma verdadeira "aula" a respeito dos métodos anticoncepcionais.

- Minha filha, - disse ela, começando - de vez em quando aparecem esses boatos de que a pílula dá câncer. Não acredito muito nessas estórias. Por enquanto, não inventaram método mais seguro. Eu, por exemplo, não confio nos outros. Soube que um cientista daqui da Bahia - Dr. Elsimar - está fazendo atualmente umas experiências, mas nada definitivo ainda.

Todas as garotas que iam no carro permaneceram silenciosas e atentas, como se escutassem a maior autoridade médica no assunto.

E prosseguiu, com desembaraço, como sempre:

- Hoje quase ninguém usa a tal tabela. É a que mais falha. Além disso, exige que a mulher seja bem regular nas menstruações. Existe também um dispositivo chamado DIU, que é introduzido na vagina. Dizem que às vezes provoca infecção. Deus me livre de ter um corpo estranho dentro de mim.

No dia seguinte a essa conversa, Cecília e Zuleide saíram atrasadas e perderam a carona. Aproveitaram o caminho de casa para tecerem alguns comentários sobre a desinibida e bem informada colega. Zuleide aventurou levantar uma dúvida que a estava deixando intrigada há tempo. E perguntou à companheira:

-Cecília, você acha que Maristela é tudo aquilo que aparenta? Você já conheceu algum namorado dela?

- Eu acho que Maristela tem demonstrado que entende mesmo de sexo - respondeu a outra.

- Não é isso que eu quero dizer- retrucou Zuleide. Concordo que ela lê muito sobre sexo e está bem informada. Mas acontece que, nas conversas, ela dá a entender que muita coisa daquilo que diz foi também vivido na prática. Não acha? Agora eu pergunto: praticou com quem? Já notou que a gente nunca conheceu um namorado dela?

Cecília não se convenceu, porém começou também a ter certas dúvidas.

As interrogações de Zuleide eram, na verdade, procedentes. Toda aquela sapiência de Maristela em relação aos temas sexuais não passava de uma cortina de fumaça para ocultar outro lado de sua vida que era totalmente desconhecido de todos. Portarás da jovem simpática e alegre, existia uma moça triste e cheia de temores diante do sexo oposto. Recebia inúmeras propostas de namoro, mas recusava todas, delicadamente. Um incidente ocorrido num passado não muito distante fez criar em sua mente uma total descrença dos homens em geral. Vale relatar os fatos.

Maristela ia completar 15 anos numa sexta-feira após o carnaval. Seus pais, Sr. Mário e D. Clara, tinham apenas dois filhos e o outro era um garotinho de apenas 7 anos. Prepararam uma festa que os colunistas sociais não tiveram defeitos a apontar. Para atender a uma promessa feita aos pais, ela não namorou antes de debutar. Entretanto, prometeu a si própria que se decidiria por um de seus paqueras na programada festa de aniversário.

Viera passar o Carnaval na Bahia um primo carioca de nome Antônio Carlos, apelidado Tom. Garotão de 17 anos, louro, cabelos longos, pele bem queimada do sol de Ipanema. Um "gato" na opinião unânime das meninas que o conheceram. Além de boa pinta, o carioca tinha um papo que encantava e apaixonava as menininhas. Corriam versões as mais exageradas em torno de suas aventuras durante o Carnaval. Com muito segredo chegaram até a circular notícias de que ele desvirginara três garotas. "Uma delas ficou grávida" - acrescentava, com malícia, uma conhecida comadre fofoqueira da redondeza.

Maristela só conheceu o famoso primo no dia da festa, mas não acreditava em nada do que lhe contaram sobre ele. Como não podia deixar de ser, Tom aplicou uma de suas infalíveis "cantadas" na prima. Comparou o bonito parente com os demais rapazes de suas relações. Vários deles também poderiam obter a classificação de "gato", porém nenhum tinha aquela conversa envolvente e aquele charme todo especial de Tom. Sua decisão foi tomada com rapidez. 0 primo a havia conquistado e seria seu primeiro namorado.

Não puderam ficar sozinhos no dia da festa. Afinal, a aniversariante tinha que se desdobrar em atenções aos convidados. Combinaram encontrar-se no fim da tarde do dia seguinte, um sábado. Encerradas as comemorações, Maristela não pôde dormir bem, apesar do cansaço. Como toda adolescente que se sente tocada pela primeira vez com uma flechada de Cupido, imaginou mil coisas. Em nenhum momento, contudo, pensou em sexo. Romanticamente se viu formando um belo par com aquele "garotão lindo". Por fim, admitiu que isso, sim, era o amor! Estava, sem dúvida, apaixonada.

Tom chegou pouco depois das 17 horas. A casa onde Maristela morava fora construída num vasto terreno. Ficava bem recuada e, na frente, havia um florido e cuidado jardim. Os pais estavam avisados do início do namoro e permitiram os encontros ali mesmo na área da casa. Sentaram num banco existente debaixo de uma frondosa mangueira. Enquanto estava claro, conversaram normalmente, e Maristela não deixou um só momento de contemplar seu amado. Que beleza e que encanto tinha o priminho!

A noite foi chegando. Com a claridade diminuindo a cada instante, Tom achou que estava na hora de acabar com o papo e "partir pra verdade". Quando namorava qualquer carioca - e sempre preferia as mais experientes - ele logo no primeiro dia costumava deslizar a mão boba por certas "zonas mais delicadas" do corpo feminino (a "verdade", para ele, era isso).

Continua: A PRIMEIRA VEZ - II

Transcrito da REVISTA DA ACADEMIA FEIREJSE DE LETRAS - 2021 ANO XV-Nº 11


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