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FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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segunda-feira, 9 de maio de 2022

INTERROGATÓRIO DE LUCAS DA FEIRA - I

LACERDA, é advogado e estudioso sobre Cangaço e cangaceiros, principalmente Lucas da Feira. Vendo postagem do Blog Santanópolis, publicada no dia 5 de maio deste mês SOBRE LUCAS DA FEIRA, enviou como colaboração, o interrogatório de Lucas da Feira dos seus arquivos.

Dado a extensão, resolvemos dividir em duas partes.

 Material sobre Lucas da Feira escrito em 1907 por Guimarães Covas, que foi delegado nesta cidade no final do século XIX e início do século XX. A grafia está conforme o original.

(...) comecemos a narração dos factos principaes da vida de Lucas e de sua quadrilha. O Interrogatório de Lucas da Feira, dos se

A 18 de Outubro de 1807, nasceu Lucas Evangelista, na fazenda “Sacco do Limão”, do município da Feira de Sant’Anna.

Produziram o temível facínora os africanos Ignácio e Maria.

Captivo de nascimento, Lucas pertenceu, a princípio, a D. Anna Pereira do Lage, e por fallecimento desta senhora passou ao domínio do Padre José Alves Franco, vindo mais tarde a caber, em nova partilha, ao pae deste sacerdote, Alferos José Alves Franco.

Ao tempo em que se deu o traspasse do maldicto escravo ao novo senhorio, elle já havia fugido para as mattas da Feira, mais ou menos em meiados de 1828.

Uma vez no goso daquella conquista de liberdade, a índole perversa do bandido entrou, desde logo, em cogitações diabólicas de que resultou a organisação da célebre quadrilha de salteadores, da qual faziam parte os escravos também fugidos, de nomes: Flaviano, Nicolau, Bernardino, Januário, José e Joaquim.

Inspirada nos sentimentos sanguíneos do bandido que a chefiava, essa malta de terríveis assassinos e ladrões commetteu, livremente, toda sorte de crimes nas estradas do famoso município, até o dia 28 de Janeiro de 1848, data da prisão do célebre salteador chefe da quadrilha.

Para que o leitor fique conhecendo a série de crimes praticados por Lucas e seus cúmplices, esses bandidos que trouxeram, por 20 annos, a população da Feira em constante sobresalto, vamos transcrever o interrogatório a que foi submettido no tribunal do jury o chefe desses miseráveis.

O Juiz de Direito da Comarca e Presidente do julgamento era o Dr. Innocencio Marques de Araújo Góes que fez do seguinte modo o interrogatório ao réu:

- Perguntado o seu nome, naturalidade, edade e profissão?

- Respondeu chamar-se Lucas, ter sido escravo do fallecido Padre José Alves,

nascido na fazenda do “Sacco do Limão”, frequezia de São José maior de 35 annos e que era empregado no serviço da lavoura e carpina.

- Perguntou-lhe se sabe o motivo por eu foi preso e o que vem fazer neste tribunal?

- Respondeu que tendo fugido da companhia de seu senhor há quase dezoito annos e commettido em todo esse tempo algumas acções más, pelo que tem sido processado pela Justiça, pensa ter sido preso para dar contas do seu procedimento e julgado como merece.

- Perguntou em que empregava-se durante tanto tempo que viveu nas mattas, como sustentava-se e obtinha aquillo de que carecia?

- Respondeu que até certo tempo matava seus bichinhos para sustentar-se, e pedia algumas coisas que precisava a pessoas de seu conhecimento e amisade, mas que passando a ser perseguido pela Justiça, vendo-se desesperado, como ainda se acha, começou a offender e fazer mal ao povo.

- Perguntado quaes os conhecidos e amigos que lhe devam objectos que elle pedia?

- Respondeu que não tinha empenho em declarar nomes, que por estar perdido não queria perder outros christãos que lhe haviam feito benefícios.

- Perguntado se esses amigos e conhecidos a que se refere lhe forneciam também algumas porções de polvora e de chumbo e algumas armas?

- Respondeu que há mais de quatro annos tomara na estrada um barril de pólvora e uma grande porção de chumbo de que usou até agora.

- Perguntou-lhe onde e como obtinha os mesmos objetos, antes dessa tomada de que fala?

- Respondeu que nas estradas tomava a uns á força e outros voluntariamente lhe davam, e que também algumas vezes comprava, não declarando seus nomes, porque, já disse, não queria perder outros.

- Perguntou-lhe mais como offendia geralmente ao povo, segundo disse, quando affirma que só queria offender àquelles que o perseguiam e o insultavam nas estradas?

- Respondeu que somente maltratava e offendia aquelles de quem receiava que o atraiçoassem ou perseguissem por qualquer forma.

- Perguntado si tem noticia dos tiros dados no guarda policial Joaquim Romão e Manoel Antonio Leite, resultando a morte deste, que também foi roubado?

- Respondeu negativamente.

- Perguntou-lhe si não tem noticia de Antonio Correia Pessoa, que foi morto e roubado em sua própria casa?

— Respondeu saber desse facto, e que foram autores elle respondente e seus companheiros, Nicoláo, Joaquim e Januário e que assim procederam porque esse Pessoa os perseguia e que já lhes havia dado dois tiros.

- Perguntado como foi morto esse homem?

- Respondeu que fora com pancadas e couces.

- Perguntou-lhe si tinha lembrança da morte de Ventura Ferreira de Oliveira, na Lagoa do Peixe?

- Respondeu que fora morto por seu camarada Nicolau, estando presente elle interrogado.

- Perguntou-lhe si tem noticia das mortes de Alexandre Felippe de Lima e de José Francisco Caboclo e quaes os autores?

- Disse, quanto à primeira, nada sabe e quanto á segunda foi elle interrogado quem matou, porque esse José Francisco recusava-se a pagar-lhe um dinheiro e também o queria matar.

- Perguntou si tinha noticia da morte do Antonio, escravo de José Antonio da Silva, que teve lugar na fazenda Sobradinho, próximo a esta villa?

- Respondeu que passando elle e alguns companheiros pela estrada, o dito Silva e outros lhe dirigiram insultos, pelo que elle respondente para desaffrontar se dera uns tiros contra aquelles, de um dos quaes resultou a morte do crioulinho.

- Perguntou mais si tem noticia da morte de Antonio Bonifácio e quem foi o autor?

- Respondeu ter sido elle interrogado, porque esse Bonifácio andava o preseguindo, pelo que o matou antes que lhe dizesse o mesmo.

- Perguntou si tem noticia da morte de Theotonio, escravo de Victorino Alves e qual o motivo? Respondeu que estando elle e alguns companheiros procurando a vida, o seu camarada de nome Joaquim matara e dito Theotonio.

- Perguntado si também tem noticia da morte de Alexandrina de tal, escrava de Manoel Joaquim?

- Respondeu ter sido elle quem a matou na occasião da morte do seu companheiro Nicoláo.

- Perguntou-lhe mais si tem noticia da morte de Manoel Lima, que também foi roubado, em uma das estradas desta villa?

- Respondeu negativamente.

- Perguntou-lhe si tem noticia da facada e pancadas que soffreu João Gomes de Oliveira, levando as também duas filhas?

- Respondeu que só lhe deu pancadass com o couce da arma porue elle sabia do rancho em que se escondiam, e que as filhas foram somente conduzidas até a beira do rio Jachype onde elle as deixou.

- Perguntou mais se tem notícia da morte de João Vicente e qual o motivo?

- Respondeu que esse João Vicente também sabia do seu rancho, e tendo dado lá uma tropa, entendeu que foi elle o denunciante, por isso o matou.

- Perguntou-lhe mais si também tem noticia da morte de Joaquim Romão?

- Respondeu negativamente.

- Perguntou-lhe mais si sabe da morte feita em João de tal, morador no lugar denominado Papagaio?

- Respondeu ter sido o autor, porque elle sabia, e effectivamente mostrou, o logar em que tinha o seu rancho e de seus companheiros.

- Perguntou-lhe também si fora o autor da morte de Alexandre de tal, filho de Antonio Felippe?

- Respondeu que elle e seu companheiro Nicoláo fora os autores, porque os ditos Alexandre o seu pai Antonio Felippe constantemente os perseguiam.

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