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FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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segunda-feira, 30 de maio de 2022

POLÍTICA DE ANTÃO - XII

MARCOS PÉRSICO – Santanopolitano, cineasta, teatrólogo, escritor.

POLÍTICA DE ANTÃO - XI

OS DIAS SEGUINTES NÃO FORAM FÁCEIS...

[...] Imaginem vocês um homem sem nenhuma experiência administrativa e vê-se de repente ad­ministrando uma cidade debaixo de muita pres­são. Foi o que aconteceu com o nosso coronel Salú. Acompanhem [...]

A NOTÍCIA CORREU. OS quatro cantos da cidade. No bar do seu Zeca, o assunto era o novo prefeito e a prisão de várias pessoas. Aqueles mais bem informados sabiam que isso ia render muito. Já estavam comentando que o ex-prefeito teria que responder ao Inquérito Policial Militar (IPM). Este inquérito era quase que uma obrigação de todos os presos políticos.

E não deu outra.

Na noite de quarta-feira um caminhão do exército saiu de Nossa Senhora das Dores com destino a Caruaru, levando cinco presos. O ex-prefeito, o delegado, Tonho da Cachorra, Carlito Ba­calhau e um estudante que presidia o grémio da escola municipal e era assessor parlamentar de Tonho da Cachorra. Todos foram responder ao IPM.

O Coronel tratava de cumprir a rotina burocrática e não via a hora do capitão Duarte ir embora da cidade, para que ele pudesse de verdade governar. Mas isso estava longe de acontecer.

Em Caruaru, todos foram fichados, identificados, e seus no­mes passaram, a fazer parte da grande lista do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), e do Serviço Nacional de Infor­mação (SNI)

Esses dois órgãos foram criados logo após o golpe militar, para supostamente ter um controle daqueles que se rebelavam contra o sistema vigente. Mais tarde, surgiriam os DOI-CODE, e muita gente morreu ou por “acidente de tortura” ou foram assassinados.

Isso sem contar os inúmeros corpos, depois encontrados em cemi­térios clandestinos por todo o país.

De volta para a cidade, os presos foram colocados no armazém. O capitão Duarte se encontrou com o prefeito Salustiano e lhe co­municou que as ordens eram de torturar quem não cooperasse en­tregando outros subversivos. Para isso, fizeram uma adaptação da prensa de charutos, transformando-a num aparelho de tortura.

A primeira seção de torturas foi marcada para domingo pela manhã. O primeiro à ser inquirido seria o ex-delegado seguido do ex-prefeito. Eles teriam que confessar quem mais participava da célula comunista. O capitão Duarte estava com sede de sangue, queria a qualquer preço descobrir nomes para efetuar prisões e mais torturas.

O clima de terror estava implantado. Ninguém ousava comen­tar nada em canto algum. A sensação de que as paredes tinham ouvido também chegou a Nossa Senhora das Dores.

No domingo, logo cedo, o capitão Duarte já estava a postos no galpão quando o coronel Salustiano chegou. Trazia consigo um chicote de couro pendurado no pulso por um trançado de couro fino e uma argola de metal. Usava uma bota na cor preta e de cano alto, quase até os joelhos. O dia estava chuvoso e cinzento, como que preconizando o que haveria de vir.

O ex-delegado estava algemado e sentado perto da máquina de tortura e o capitão Duarte se aproximou dele dizendo:

-   Meu caro ex-delegado, tenho duas formas de obter do se­nhor uma confissão. Uma delas é a forma amigável e do diálogo. Basta o senhor dizer tudo o que sabe e dar os nomes que eu quero. A outra é obter essas informações fazendo o senhor sofrer muito. Fica à sua escolha em qual método quer conversar comigo.

Nisso, o capitão andava de um lado para o outro sem parar. Coronel Salustiano apenas observava.

O ex-delegado respondeu:

        -   Capitão, eu tenho as minhas convicções políticas, tenho mi­nha ética e minha lealdade. Acho um pouco difícil eu ter que en­tregar qualquer companheiro de luta somente para ser agradável ao senhor.

         Já que o senhor pensa dessa forma, serei obrigado a mostrar quem está com força neste momento.

        - Deu um sinal para o tenente, que pegou o ex-delegado pelos cabelos e colocou sua cabeça em uma prancha de madeira e começou a rodar a prensa com a finalidade de esmagar seu crânio. À medida que o tenente rodava o sem fim, uma espécie de parafuso esculpido na madeira, um pranchão ia descendo e apertando o crânio do delegado. Até certo ponto o delegado aguentou. Logo depois, ele começou a fazer cara de dor e o tenente parou de apertar. O capitão perguntou:

        Então delegado, prefere ter seu crânio estourado ou vai contar o que sabe?

        Virou-se para um sargento que estava do seu lado e disse:

        - Vá pegar todos os presos e coloque-os aqui para assistirem a este espetáculo.

        - Num instante, providenciaram para que todos estivessem em volta da prensa.

           -  A essa altura o capitão Duarte parecia ter orgasmos de tanto prazer que aquilo estava lhe proporcionando. Ele já nem falava mais. Ele gemia e gritava ordens:

        - Vamos cafajeste, abre o jogo. Fala desgraçado. Entrega logo.

        - O torturado gemia de dor. Uma baba escorria pelo canto da boca. Sua respiração era bastante ofegante.

        - Afrouxa a prensa.

        - Gritou o capitão.

        - O torturado sentiu um alívio e desmaiou.

        - O capitão mandou jogar água e o ex-delegado voltou a si. Estava tonto e sua cabeça doía muito.

        - O capitão se aproximou, agachou junto do corpo, segurou seus cabelos e disse baixinho ao seu ouvido:

        - Então? Já viu como as coisas funcionam por aqui? Vai falar agora ou quer um tempo pra pensar?

        - E num grito histérico, voltou a ameaçar a vida do delegado:

        - Fala, filho da puta, eu não tenho mais paciência...

        - Sacou uma arma, encostou na fronte do delegado e gritou novamente:

        - Fala vagabundo, você é a pior escória da sociedade, seu comunista safado. O seu silêncio vai te matar.

        - E olhando para todos, falou aos berros:

        - Ele está se matando por não querer falar. Ele está se matando!

         E num gesto cretino, de quem só tem a covardia como razão de viver, puxou o gatilho e estourou o crânio do delegado com um único tiro. Levantou-se ofegante e disse:

        - Tirem esse porco daqui, e que isso sirva de exemplo para os senhores quando forem interrogados por mim.

        - Saiu sem dar mais uma palavra.

        - O coronel Salustiano saiu atrás do capitão e sentindo-se tonto, parou no portão de saída e vomitou copiosamente. Entrou no seu Jeep e foi pra casa.

        - Os presos foram recolhidos para suas selas e o ex-prefeito entrou em pânico.   

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