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FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

OS PRIMÓRDIOS DA RELIGIOSIDADE FEIRENSE - II

Continuação da postagem: OS PRIMÓRDIOS DA RELIGIOSIDADE FEIRENSE - I

A devoção a Nossa Senhora dos Remédios

A devoção a Nossa Senhora dos Remédios, é a segunda devoção do município de Feira de Santana, a construção da Capela é anterior ao povoamento por intermédio de Domingos e Ana Brandoa, com a devoção a São Domingos de Gusmão e Senhora Sant'Ana. Como relata Morais, et al (2000, p.23), 

A caracterização artístico-arquitetônica da Igreja dos Remédios, juntamente com o registro eclesiástico, permite afirmar-se que ela teve sua construção iniciada no século XVII, haja vista a realização do Sacramento do matrimónio, nos anos de 1707-1711, na Capela, com invocação de Nossa Senhora dos Remédios, enquanto a cessão das cem braças de terra, feitas pelo casal Ana Brandão e Domingos Barbosa de Araújo para a edificação da Capela em louvor a Santana e a São Domingos de Gusmão, só seria lavrada em escritura, no dia 28 de setembro de 1732.



Esta devoção, remonta aos anos de 1700. A capela ficava localizada na Fazenda Mochila, na então Sesmaria pertencente a João Peixoto Viegas, consta no livro de batismo da Paróquia de São José das Itapororocas, o batismo de Úrsula, filha de João Peixoto Viegas, e de celebrações de casamentos, acontecidos nesta capela. De acordo com Galvão (1982, P- 26),

[...] o livro mais antigo, o precioso volume de Batizados de 1685-1696, casamentos de 1685-1711 e óbitos de 1685-1724, constitui o documento primitivo da família feirense. Nele aparece o lendário Sitio da Mochila, em fls. 2,4, 8 e 9, com a presença do Cel. João Peixoto Viegas, o segundo desse nome batizando sua filha Úrsula (1689) e numerosos escravos concentrados na mesma fazenda, em São Simão, Campo Grande (RETIRO) e no povoado de São José[..].

A pequena capela está situada na antiga rua direita, hoje nomeada Monsenhor Tertuliano Carneiro, tem sua arquitetura em estilo colonial. A igreja tem nave única, que tem sua construção realizada a partir do arco do cruzeiro. O gradil de ferro, típico das construções a partir do século XVII, separando o altar, onde ficava o padre, do restante dos fiéis. O altar mor, é de marmorite, o primitivo foi substituído, em reforma executada por Pe. Amílcar Marques. Os altares laterais foram retirados, e com eles, os santos das devoções dos feirenses. Restando na nave da igreja o púlpito, que apresenta um dossel com traços do barroco, em sua decoração tem o brasão do Vaticano. De acordo com Morais, et al (2000, p.75),

 A Igreja dos Remédios tem uma única nave de proporções modesta, aí resistindo um toque de graça que extrapola o sentido das grandes dimensões. Partindo da porta principal, adentra-se no grande salão que teve sua construção realizada a partir do arco-cruzeiro, arrematado por traçado dórico e com gradil de ferro separando o retábulo da nave, de onde a forma de cruz a igreja. Esse gradil, típico das igrejas construídas a partir do século XVII, possuía a função de separar o corpo eclesiástico e/ou a elite das camadas populares da sociedade colonial, que ficavam no interior da Igreja.

Com torre única lateral, tendo sua cúpula revestida de louças, que segundo a tradição são provenientes de Macau. A decoração da cúpula é composta por peças inteiras de louça, como também por fragmentos, tendo sua decoração policromática. Neste sentido, Morais, et al (2000, p.23), relata que:

 O riquíssimo revestimento da torre é de porcelana de Macau, com vários tipos de preenchimento do mosaico, cujos desenhos apresentam basicamente um traçado geométrico e de arabescos. [...]predominam as cores branco, azul e alguns detalhes em vermelho. Ladeando a cúpida quatro coruchéus com base quadrada encimada por almofada, ao que se sobrepõe uma pirâmide longa, também revestidas do mesmo material da cúpula.

Nos séculos passados a Capela dos Remédios, além de servir como templo religioso, sendo sua verdadeira funcionalidade, serviu de Câmara Municipal, e Tribunal do Júri, e comprovando sua importância na cidade recebeu a visita do Imperador. Tudo isso, registra a importância desta Capela na Sociedade Feirense. Como afirma Morais, et al (2000, p.23),

 A Capela dos Remédios foi palco, no século XIX, de realizações de Tribunais dos Júris, reuniões da Câmara Municipal, eleições, festas, celebrações litúrgicas, dentre outros acontecimentos. Merece nota que o primeiro Júri, após três anos de emancipação política de Feira de Santana, foi realizado na Capela dos Remédios, sendo condenada a ré Joana Maria dos Prazeres. Também é registrada a visita do Imperador D. PEDRO II, em 1859, no seu diário sobre a viagem ás Províncias Norte e Nordeste do Brasil.

 A Capela dos Remédios, é um património material para o povo feirense, onde podemos considerá-la como marco histórico da cidade. Esta edificação registrou através dos séculos todas as fases do surgimento da cidade de Feira de Santana. Atrelado a devoção dos Remédios em solo feirense, o culto Sant'Ana surge da devoção do casal Domingos e Ana.

Devoção a Sant’Ana: da fazenda ao Arraial

A devoção a Avó de Jesus Cristo, inicia-se na então Fazenda Olhos D’Água, pertencente a então Vila de São José das Itapororocas, dos campos da cachoeira. A Fazenda Olhos D’Água, que foi adquirida por Domingos Barbosa de Araújo e esposa, foi o primeiro local devocional aos Santos, em seus oratórios particulares, onde eram rezados novenas, ofícios e ladainhas, suplicando as bondades do céu. Tamanha era a fé do casal que doaram 100 braças de terra, no Sítio Alto da Boa Vista, para a construção da capela em devoção a São Domingos e a Santa Ana. A este respeito Cerqueira (2007), aponta que:

Embora localizada no semi-árido, a fazenda era rica em ‘Olhos d Agua ’, córregos e riachos e rodeada de pastagens naturais, por isso se tornou um grande atrativo e local predileto para pousos de tropas e viajantes que vinham do Piauí e de Goiás em direção a Cachoeira. As praças Padre Ovídio Alves de São Boaventura e Monsenhor Renato de Andrade Galvão e a igreja da Catedral Metropolitana de Senhora Santana, provavelmente, erguida sobre a construção da antiga Capela dedicada a São Domingos e Senhora Sant 'Ana.

A partir da construção da capela, inicia-se um novo povoamento do território feirense, sendo que agora em decorrência da devoção a Sant'Ana. Na capela as pessoas se congregavam para rezar, suplicando a intercessão de Sant'Ana e São Domingos, e ao redor da primitiva capela, as primeiras trocas foram efetuadas, surgindo a feira, que gradativamente cresceu, levando o conhecimento do Arraial para além dos Campos das Itapororocas. Foi famigerada troca e venda de mercadorias, que nomeou a cidade de Feira de Santana. De acordo com Poppino (1968, p. 20),

Algum tempo depois da construção da capela, tornou-se ela um ponto de encontro para o povo do distrito, que aí se reunia para fazer orações, visitas e negócios. Dessa maneira, a pouco e pouco se ia desenvolvendo uma feira periódica em Santana dos Olhos D’Agua. A feira, que teve início no primeiro quartel do século dezoito, deu o seu nome à atual Feira de Santana dos Olhos d 'Agua. Expandir-se-ia contudo o arraial vagarosamente e um século decorria antes que a sua fama se espalhasse além dos confins da paróquia de São José das Itapororocas.


Igreja de Feira de Santana, à esquerda Estação Ferroviária.







 

As trocas e vendas de mercadorias, por tropeiros, mascates e vaqueiros, que transitavam por aquela localidade em direção a Vila de Nossa Senhora do Rosário do Porto da Cachoeira, faz surgir a feira livre, e em decorrência disso, as primeiras casas, que serviam de rancharia para os transeuntes. De acordo com Almeida (2004, p 39),

O casal proprietário da fazenda, Santana dos Olhos D'Agua, adquiriu suas terras, nos idos de 1710 e doou, com escritura passada, em 1732 ‘cem (100) braços em quadra’para Santana e São Domingos, onde foi edificada a capelinha no Alto da Boa Vista em redor da qual, um vilarejo com casas e casebres. Deste pequeno aglomerado de gente, dadas as necessidades de cada um, foi despontando, paulatinamente, um pequeno comércio, onde eram negociados gêneros alimentícios de toda espécie e até pequenos e grandes animais.


O local escolhido para a capela era propício aos tropeiros e vaqueiros, pois tinham nas proximidades as aguadas, para os animais. Apequena capela passa por ampliações e reformas. Algumas reformulações estruturais, como as executadas pelos padres, Ovídeo de São Boaventura, que construiu as naves laterais e Tertuliano Carneiro, que ergue as torres, no ano de 1913. As reformas demostram a necessidade da expansão do espaço físico que comportasse os fiéis. A igreja de SanfAna era e é, o símbolo da religiosidade feirense. Local onde diversas pessoas marcaram suas vidas em decorrência das celebrações, em épocas que a velha Matriz era a referência na cidade. Como descreve Poppino (1968, p. 309),

A Religião sempre foi uma força poderosa em Feira de Santana, desde os tempos coloniais. Quase todo o povo do município constitui-se de católicos, para os quais os símbolos da fé representavam uma parte da vida diária. Em todas as ocasiões importantes, do nascimento até a morte, uma cerimonia religiosa acompanhava, invariavelmente, a vida de cada qual, enquanto os dias santos especiais e os festivais religiosos se celebravam com toda a pompa e ostentação da Igreja Católica.


Outras reformas e ampliações foram executadas ao decorrer dos anos, no interior da igreja. Como a construção da sacristia e do coro, a construção do altar lateral do Sagrado Coração de Jesus. Ao redor desta rudimentar capela, casas foram construídas, e o comércio instaurado, surgindo o povoado, sendo transformado em vila, recebendo o título de cidade. Segundo Oliveira (2014, p. 12),

A ligação dos feirenses com a sua Padroeira era tão forte que ela determinou o próprio nome da cidade que, após ter se emancipado de Cachoeira, em 1832, deixou de ser um pequeno Arraial e ganhou titularidade de Vila, famosa pela tradição comercial e feira de gado. Em um combinado da expressão de fé e tradição, emancipada Vila se tornará Feira de Santana, tendo como uma de suas principais marcas as homenagens anuais prestadas a Sant’Ana.


A devoção a Sant’Ana surge através de Domingos e Ana, quando trazem a propriedade as imagens  dos santos padroeiros. Esta devoção extrapola as cercas da fazenda, fazendo com que os tropeiros, viajantes e moradores do entorno pudessem celebrar a Avó de Jesus.


VITOR BATISTA DOS SANTOS

Bacharel em Arqueologia pela Universidade do Estado da Bahia -

UNEB/CAMPUS VIII.

Revista do INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE FEIRA DE SANTANA - Ano XVI - Nº 16



 

 






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