O jornal “Folha do Norte” em sua edição nº 54 de 25 de
setembro de 1910
Com um pomposo nome do avenida, está a intendencia
municipal abrindo uma rua, em prolongamento do Senhor dos Passos cujos terrenos
são de proprieddade da chacara da viuva Chamberlain, onde reside o sr. intendente
municipal.
Quanto ao mais, ninguém sabe.
Cel Abdon Intendente na época da denuncia 1908-1912 |
Quando, como e por quanto fôra feita a acquisição dos
terrrenos ha o mais impenetrável sigilo.
De referencia ao assumpto, apenas o órgão oficial
publicou em 9 de julho, uma lei sancionadas a 19 de maio, auctorizando a
aludida acquisição sem precisar, porem o quantum a dispender.
Dahi para cá, como sempre e como tudo que diz respeito
ás coisas municipais, guarda o órgão oficial o mais absoluto segredos..
Boatos, entretanto, os mais desfavoráveis correm ahi,
de bocca em bocca, dizendo uns se haver dispendido bons pares de contos, outros
que custou 10, outros 15 o outros 20 contos do reis, uma faixa do terreno que,
segundo os entendidos, poderia custar, actualmente, dois ou tres contos, no
máximo!
Seja coma for, o facto e que nós não podemos deixar de
profligar essa falta de publicidade dos actos municipais, do verberar, condemnar
com todas forças essa transacção às ocultas. Que quer impingir ao povo desta
terra, a título se serviços e de benemerência.
Av. Senhor dos Passos na mesma época |
A lei nº 478 de 30 do setembro do 1902, que reoganisou
os conselhos municipaes, em seu art. 93, das disposições geraes, estatue: “É
obrigatória a publicação, pela imprensa, onde houver, e por edital, sob pena
de nullidade, de todos os actos, deliberacões, posturas e decisões
do conselho municipal, do seu presidente ou do intendeute, nos casos recomendados
na presente lei.”
Ora, as actas das sessões do conselho em que se devia
ter tratado do assumpto não foram publicadas, assim como não o foi o acto pelo
qual devia ter sido aberto o rospectivo credito.
Publicou-se apenas, mui tardiameute, uma lei muito
omissa e muito falha, aucctorisando a acquisição dos terrenos o... nada mais!
Um jejum completo para o povo.
E eis quo surge a intendencia municipal a rasgar a tal
avenida e a levantar muros, tudo isso sem a minima publicidade dos actos, sem a
menor satisfação ao povo, que, afinal de contas, é quem tem de pagar as favas.
Demais, para que esse luxo de gastar-se somas
avultadas em avenida, se é que à tal estrada se pode chamar avenida,
quando a cidade é uma grande esterqueira, pela falta de quase de absoluta
asseio, quando ella vive mergulhada em travas, com uma illuminação porcamente
feita; quando só se houve lamentações e misérias pelas finanças municipaes?
Para que?
Todos sabem, a Feira tem actualmente um avultado
número de casas desabitadas, a sua área urbana não precisa de ser alargada para
edificações, pois na própria rua Senhor dos Passos existem ainda terrenos por
edificar.
Melhoramentos e serviços outros, de mais palpitante e
urgente necessidade, estão a reclamar os cuidados e a atenção dos seus edis.
Ou então, se as arcas do erário municipal estão
abarrtoradas de oiro, nos dêem, por Deus, melhor hygiene, melhor asseio, melhor
iluminação, acabem com aquelle estado vergonhoso do matadouro e do açougue, e
se sobrar ainda alguma cousa, desapropriem aqueles casebres em ruinas, na
entrada da cidade, que é isto mais administração, mas útil, mais aproveitável e
mais honesto.
Ah! Se os srs. da situação nos dissessem, com
franqueza, porque esse capricho na abertura daquela avenida!...
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