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FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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quinta-feira, 8 de agosto de 2013

PERFIL DE DIVAL DA SILVA PITOMBO

Dival da Silva Pitombo


Filho de Joaquim Inácio Pitombo e Julieta da Silva Pitombo. nasceu no dia 7 de julho de 1915, em Feira de Santana, e faleceu na mesma cidade, em 1989. Fez o curso primário com as professoras Joana Paiva e Ubaldina Regis. Cursou o ginasial no Colégio Cameiro Ribeiro, em Salvador. Ingressou na Faculdade de Medicina da Bahia onde realizou o curso de Odontologia. Em sua terra natal, durante algum tempo, exerceu a clínica com sucesso.
Dedicando-se ao magistério, às letras e às artes, teve apreciável desempenho. Professor catedrático de História do Colégio Santanópolis e do Instituto Educacional Gastão Guirnarães (do qual foi, durante muitos anos, Diretor), fundou e dirigiu o Museu Regional de Feira de Santana e a Associação Feirense de Arte. Membro do Conselho Estadual de Cultura, sócio do Instituto Histórico e Geográfico da Bahia, da Associação Baiana de Imprensa, do Centro de Artes Plásticas do Nordeste, da Academia de Letras de Feira de Santana (da qual foi Presidente) e de outras instituições. Dedicou sua vida ao ensino e a:
desenvolvimento de Feira de Santana.
Dival da Silva Pitombo promoveu e incentivou os principair eventos artísticos e culturais que ocorreram na terra que lhe serviu de berço. Ao lado de Odorico Tavares, fundou o Museu Regional de Feira de Santana, contando com o decisivo apoio do jornalista Assis Chateaubriand. Acompanhou todas as fases do Museu, desde a doação do espaço fisico, pelo prefeito Joselito Amorim até a formação do acervo que recebeu importantes doações, como o Salão dos Pintores Ingleses, da parte da Rainha da Inglaterra.
Na área da educação, revelou-se um operário incansávei. Dirigiu o Instituto de Educação Gastão Guirnarães anos seguidos, com invulgar dedicação e excepcional carinho, pelo que mereceu o reconhecimento de alunos e professores, bem como da sociedade feirense. Dali, daquele educandário que era o seu grande amor, sua verdadeira paixão, consegui
 ao cabo de inúmeras tentativas  levá-lo para a recém-criada Universidade Estadual de Feira de Santana, a fim de implantar e dirigir a Diretoria de Vida Universitária. Em seu posto na UEFS, demonstrou rara competência. A ele devemos o início das atividades de extensão e o excelente relacionamento entre os corpos docente, discente e administrativo, relacionamento que permitiu a implantação, sem tropeços, daquela casa de ensino. Membro do Conselho Diretor da Fundação Universidade de Feira, representou a UEFS em várias oportunidades, inclusive em reuniões de âmbito nacional. No início de 1979, membros do Conselho Federal de Educação, professores da Fundação Getúlio Vargas, membros do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras, professores e diretores de Faculdades de todo o Brasil, educadores e intelectuais de vários estados da federação, decidiram prestar significativa homenagem ao Prof. Newton Sucupira, autor de dezenas de processos de relevância para o ensino superior, envolvendo a autorização para funcionamento de várias faculdades e universidades, inclusive da UEFS. Não podendo comparecer, solicitei ao Prof. Dival Pitombo que, na qualidade de Pró-Reitor, representasse a Universidade Estadual de Feira de Santana na solenidade, a ser realizada nos salões do Museu de Arte Moderna, no Rio de Janeiro. Dival, ao chegar ao Museu, se sentiu como uma ave no próprio ninho. A mais fina flor da intelectualidade brasileira estava presente. Em dado momento, surgiu seu amigo e conterrâneo, Eduardo Matos Portela, indicado para ocupar o cargo de Ministro da Educação. Eduardo Portela, homem de letras, crítico literário, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, escritor de grande conceito, conferencista de fama internacional, membro da Academia Brasileira de Letras, ao ver Dival Pitombo, apresentou nosso Pró-Reitor aos confrades da Academia e à maioria dos intelectuais presentes, tecendo os elogios que ele merecia. Em seguida, cumprimentou o Prof. Newton Sucupira e se retirou, a fim de atender compromisso anteriormente assumido. Para surpresa de Dival, o representante feirense, durante os momentos que precederam o banquete, foi indicado para falar em nome das faculdades e universidades cujos processos de funcionamento tiveram homenageado como relator. Dival Pitombo, portador de fulgurante ínteligência e rara simplicidade, de estilo poético e encantador, usou da palavra e, em belo improviso, mereceu entusiásticos aplausos. Algum tempo depois, indo a Brasilia, ouvi de uma das pessoas presentes ao ágape, o seguinte comentário: “Reitor, que homem extraordinário o senhor enviou ao Rio de Janeiro“ .  Era assim o Prof. Dival Pitombo, joia preciosa que hoje não vemos com a mesma facilidade de outrora. Diz Hugo Navarro que “Dival Pitombo tinha aplomb britânico. Tratava, a todos, com superior elegância e discreto requinte. Nunca levantava a voz, mantendo leve sorriso de superioridade diante da patuleia ignara. Não ria abertamente. Duas vezes apenas, pelo que consta, teve ataques de riso desbragadamente solto, que o levaram a sair do recinto para não suscetibilizar pessoas. Uma foi no Cine Íris, quando Gilberto Costa, ator do renovado grupo teatral “Taborda”, no papel de conde, a pique de perder a filha, tuberculosa, pisou inadvertida e pesadamente numa tábua solta do palco com grande estrondo e quase queda. A plateia caiu na gargalhada. A segunda ocorreu durante solenidade em escola. Homenagem a prefeito. O orador oficial, diretor da casa, de repente, mal iniciado o discurso, foi atacado por terrível, violento e interminável acesso de tosse, transformando em comédia o que era solene.”
No âmbito da música erudita, foi amante inveterado, patrocinando inúmeros recitais, apresentações e concertos. A propósito, é oportuno transcrever o relato que o Dr Volney Pitombo, famoso cirurgião plástico do Rio de Janeiro, filho de Dival, me enviou. Na íntegra, é o seguinte: “As pessoas, o ambiente, tudo estava, enfim, preparado: os sócios legalizados, a imprensa noticiando. fora dada a partida! Cada concerto transformava-se num evento cultural e social marcante para a época. Era um acontecimento!
Feira iniciava sua frase erudita e estava conectada aos grandes centros culturais do mundo. Dessa forma, artistas como Lili Kraus, uma virtuosa pianista austríaca, Alexander Jenner, Rosana Martins, criança prodígio de apenas 13 anos que já havia sido vencedora do prêmio Chopin de Varsóvia, o Oscar da época, o Corpo de Ballet do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, Procópio Ferreira, André Villon, entre outros, trouxeram sua arte para Feira de Santana. Os pequenos problemas e adversidades eram contornados pela dedicação e entusiasmo de Dival. Lembro-me de uma divertida curiosidade: Feira de Santana estava recebendo Joy Kim, uma renomada cantora lírica japonesa que, como toda Prima Donna, era afetadíssima. Estava hospedada no Hotel Euterpe, um dos mais requintados da época.
Às 11:00h. da noite, ela ligou para a nossa casa aos brados dizendo que iria embora e que se recusava a fazer a apresentação do dia seguinte porque havia uma barata em seu quarto, motivo pelo qual ela não conseguia dormir. Meu pai, que estava dormindo, se levantou e foi buscá-la de mala e cuia, levando-a para se hospedar em nossa casa, que não havia outro hotel na cidade. Depois desse episódio, isso virou um hábito: todos os-artistas que vinham se apresentar em Feira de Santana passaram a se hospedar em nossa casa. A programação artística tinha encontrado em Feira todo o ambiente favorável para o seu desenvolvimento. Tudo parecia estar em perfeita sintonia com o projeto cultural, exceto quando foi incluído na temporada daquele ano o professor alemão Dr. Gerard Kliber, que trazia uma nova experiência científica da psiquiatria, utilizava a hipnose como recurso para o auto- conhecimento, algo inédito até então. O professor já havia palestrado no Rio de Janeiro e em Salvador, e sua parada seguinte seria em Feira de Santana. Dentre outras exigências, ele havia solicitado um amplo espaço para demonstrar os efeitos da hipnose em um grupo de pessoas selecionadas entre os expectadores. Era um processo moderno, em que o paciente fazia regressão mental e interagia com a plateia. Assim, o salão nobre não seria adequado. Tampouco, o cinema Íris. Depois de muito pensar em uma solução, Dival concluiu que o Feira Tênis Clube, além de ser o principal clube da cidade, seria o local ideal, pois possuía um salão perfeitamente adequado para a apresentação do professor alemão. Dival entrou, então, em contato com o presidente do clube e expôs sua ideia. O presidente ouviu atentamente e concluiu dizendo: “Dival, esse professor que você está querendo trazer para se apresentar em nosso clube parece coisa circense, não fica bem e tampouco adequado um clube do nosso gabarito servir de espaço para esse tipo de apresentação.” Inconformado, Dival tentou de todas as formas convencer o presidente do clube de que se tratava de um evento sério, cultural e científico. Não obtendo sucesso, ele argumentou: “Presidente, o professor Gerard Kliber, médico, psiquiatra alemão, pertence à Universidade de Berlim, possui vários títulos, inclusive Doutorado em Viena”. Permanecendo o presidente irredutível, Dival, desesperado, quase desistindo lançou mão de seu último argumento: “Presidente, este professor foi aluno de Freud! ! !“ Ao ouvir tal afirmação, o presidente do clube, que jamais ouvira falar sobre o pai da Psicanálise e entendera que o professor alemão tinha sido aluno de Fróes (o Coronel Fróes da Mota, chefe político da região), para espanto de Dival, abriu um largo sorriso e emendou: “Ora Dival, por que você não me disse isso antes, meu amigo? Se o homem é amigo de Fróes, o clube é dele!!! Pode fazer a apresentação que quiser!” Dival percebendo o mal entendido e avaliando bem a situação, preferiu deixar as coisas como estavam. Se era Freud ou Fróes, isso não fazia a menor diferença. Ele havia conseguido o clube. E foi assim que aconteceu a primeira demonstração de hipnose em Feira de Santana”.
Dival da Silva Pitombo, além de empreender entidades artísticas e culturais, incentivou novos talentos, quer nas letras, quer nas artes. Sirvam de exemplos Raimundo de Oliveira, Juraci Dórea, Carlos Barbosa e muitos outros. Como poeta, teve algumas de suas composições reunidas em LITANIA PARA O TEMPO E A ESPERANÇA, publicado em 1984 e lançado, com sucesso, no Rio de Janeiro, Salvador e Feira de Santana. A propósito desse livro, recebeu Dival a seguinte carta, enviada de Milão (Itália), por uma de suas admiradoras: “Senhor Dival Pitombo, Feira de Santana, Bahia, Brasil. Prezado Senhor Pitombo: Embora não tenha a honra de conhecê-lo pessoalmente, tive a oportunidade de ler suas poesias por intermédio de um de meus amigos em Milão que me emprestou seu livro LITANIA PARA O TEMPO E A ESPERANÇA. Queria simplesmente lhe testemunhar toda a minha admiração por essas belíssimas poesias que tocam profundamente a alma e fazem reviver esta esperança escondida no fundo de todo ser humano e que permanece o grande segredo de nossa vida e de nossa sobrevivência. O que mais me tocou foi essa sensibilidade que o senhor testemunha em favor da mulher e que descreve como uma criatura divina, merecedora de um tão grande calor humano. Com efeito, nesse mundo normalmente material em que muitas vezes a mulher se sente como objeto, a leitura desses versos tão marcantes e comovedores dá de novo a alegria de viver. Lamento não compreender perfeitamente o português mas o pouco de espanhol que eu conheço me permitiu assim mesmo compreender e captar o sentido de sua poesia. Se algum dia o seu livro for traduzido em francês (e eu lhe aconselho faze-lo, pois certamente o seu sucesso
estaria garantido) gostaria muito receber um exemplar com sua dedicatória pessoal. Terei talvez a oportunidade de conhecê-lo e nessa expectativa peço-lhe receber, prezado senhor, a expressão de meus melhores sentimentos. N.B.: Conheci Gianni Fiorino que é um de seus grandíssimos admiradores. Assina, Luca Mazzitelli Manfé”.
Dival Pitombo,além de membro do Conselho Diretor da Fundação Universidade de Feira de Santana e Diretor da Diretoria de Vida Universitária, fez parte do Conselho Editorial da revista da UEFS, “Sitientibus” a qual ilustrou com poesias e contos de alto valor. Como romancista; concluiu o romance, ainda inédito, BECO DO MOCO, no qual retrata um dos mais tradicionais logradouros de Feira de Santana, hoje transformado em calçadão (Ibidem). Na sociedade em que viveu, portou-se como verdadeiro cavalheiro, pelo que desfrutou da amizade pessoal de vultos como Jorge Amado, Jean Paul Sartre, Simone Beauvoir, Manuel Bandeira, Eduardo Portela, Jorge Calmon e Liii Kraus, além de outros. A convite do Ministro das Relações Exteriores de Israel, visitou aquele país e, em Tel Aviv, aperfeiçoou seus conhecimentos artísticos e literários, ocasião em que, mesmo ausente do Brasil, foi eleito, por unanimidade, Presidente da Academia de Letras de Feira de Santana. Consegui levar Divai Pitombo para a Universidade Estadual de Feira de Santana, mas Dival nunca esqueceu sua antiga paixão, isto é, o Instituto de Educação Gastão Guimarães. Para a referida instituição, ele escreveu, nas horas vagas, com muito amor, o HINO AO GASTÃO GUIMARÃES, cuja música ficou a cargo de Anacleto Carvalho. Graças à gentileza da historiadora Lélia Femandes, outra figura luminosa das letras e das artes de Feira de Santana, transcrevo a letra da referida composição:
No planalto de luz coroado,
Onde vive este povo feliz.
Por Santana sempre abençoado
Aqui tem a sua diretriz.
Coro
Esta escola por nós adorada/Abrigou nossos pais, nossas mães!
Será sempre por nós lembrada, / O Instituto Gastão Guimarães.
É um tempo que nós veneramos
Nossa escola que é fonte de luz,
Lar querido onde nos preparamos
Para a luta que à vida conduz.
Da cidade e do campo chegamos
A procura do sol do saber.
Nesta casa afinal encontramos
A cultura que faz renascer.
De mãos dadas em santa aliança
Construímos o nobre perfil
Da infância-clarão de esperança
No futuro do nosso Brasil
Hugo Navarro, na crônica antcriormente citada, diz que Dival Pitombo, “um incentivador das artes e operário da cultura, foi na conduta, no porte e no culto à inteligência, um verdadeiro cavalheiro inglês”.
Faleceu o “Cavalheiro Inglês”, em agosto de 1989, sendo seu corpo sepultado no Cemitério Piedade, em Feira de Santana, com grande acompanhamento popular e a presença de inúmeros intelectuais, educadores, autoridades e pessoas diversas. A Universidade Estadual de Feira de Santana, o Instituto de Educação Gastão Guimarães, a Câmara Municipal, o Instituto Histórico e Geográfico de Feira de Santana, a Academia Feirense de Letras e Artes e várias outras instituições culturais e de ensino prestaram ao grande feirense as mais justas e sentidas homenagens.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. ALMEIDA, OSCAR DAMIÃO DE Dicionário da Feira de Santana.
Feira de Santana, 2006.
2. LEITE, GERALDO
Reminiscências, Universidade Estadual de Feira
de Santana, 2007.
3. Jornal A Tarde, edição de 3 de agosto de 1989.
4. NAVARRO, HUGO
Um Cavalheiro Inglês - Jornal Feira do Norte.
edição de 26 de outubro de 2007.
5. OLIVEIRA, LELIA VICTOR FERNANI)ES DE - Homens que
fizeram História. Feira de Santana, 2004.
6.PITOMBO, WOLNEY- Relato pessoal, a pedido do Autor Rio de
Janeiro, 2007.
7. Recortes de jornais locais, gentilmente cedidos pela escritora Lélia
Victor Femandes de Oliveira. Feira de Santana, 2007.
Fala proferida pelo Acadêmico Geraldo Leite sobre seu Patrono da Academia de Educação de Feira de Santana Dival Pitombo e publicado na "Revista da Academia de Educação de Feira de Santana".


 

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