Hugo Navarro Silva |
Depois dos protestos de junho, que surpreenderam grande
parte do povo brasileiro e se estendem até os dias de hoje, aumentando as
preocupações da polícia, causando insônia a muitos dos nossos políticos, o
Brasil viu ampliada a sua vocação para a promessa e os projetos, que se
multiplicaram e assumiram importância jamais vista nestas terras de papagaios e
bananas e de festejados políticos que não moveram palha em benefício de ninguém
a não ser proferir discursos de ocasião.
Não havia como dar respostas mais convincentes aos
movimentos do povo, que assumem, em certas ocasiões, ares de rebelião e
revolta, sublevação e motim, como no Rio de Janeiro, que levaram jornalista a
dizer que o governador Sérgio Cabral está sitiado.
Diante da incapacidade dos governos de atender à agitação às
vezes violenta das ruas, recorreu-se a paliativos como na questão dos
transportes coletivos, mas nada foi feito, pelo menos até agora, que possa de
fato aplacar as iras e os desencantos populares.
A esquerda, que no século vinte foi esperança de milhões de
pessoas, após a traumática queda da União Soviética, que pôs à mostra as
verdades do mundo comunista e foi uma das
maiores desilusões das muitas que têm ferido a humanidade, retomou força com
base em ditaduras que se espalharam, mas sem base doutrinária robusta e consistente, avançando sobre alguns
países subdesenvolvidos, sem esconder velhas
fomes e sede de poder sem limites.
No Brasil começou, mansamente, com a conversa mole de
Fernando Henrique Cardoso e fortaleceu-se com o atual governo, o da presidente
Dilma, que tudo indica é sombra e marionete do ex-presidente Lula. Só que além
das ambições pessoais de poder e dinheiro, mesmo diante dos tropeços do
capitalismo, que a cada dia mostra sinais de decadência e de recuperação,
contraditoriamente, a chamada esquerda,
reunindo legiões de seguidores, que lhe servem de base de apoio, sem muito
cuidado com a observância das regras da ética e da honestidade, está no comando
do país há mais de dez anos sem reformas necessárias e comando convincente, arrecadando trilhões que desaparecem nos
meandros de contratos, dédalos burocráticos,
buracos negros que o povo não pode acompanhar e muito menos compreender. Esse tipo
de ação tem resultado no caos, no abismo profundo em que se vão transformando
os serviços públicos essenciais como os da saúde, educação e segurança,
enquanto procuramos aproximação e alianças com países onde impera o despotismo
e às vezes a anarquia e o desejo de perpetuação no poder com o desenvolvimento
de desembestado culto à personalidade em prejuízo dos ideais de liberdade do povo.
T. J. Clark em recente ensaio (“Por uma
Esquerda sem Futuro”), salienta a incapacidade da esquerda (ou das esquerdas?) de
oferecer caminhos seguros para superar a crise que atinge o sistema capitalista
e estabelecer mundo novo e cheio de bonanças, segurança e prosperidade tão
apregoado por ideólogos criadores do
socialismo nos séculos dezenove e vinte.
Dante do impasse, sem saber o que fazer e como fazer, sem
força para romper com o que alguns têm como tradição democrática havida por
inviolável, os governantes do país correram para o lado mais fácil e mais
prático, o de tentar manter o poder a todo custo, mas de forma primária e
simples, comprando adesões com “bolsas”, cargos, e o que vem ganhando corpo
ultimamente, com projetos, às vezes grandiosos
espetaculares, ruidosos. Nunca se prometeu tanto neste país, a começar
pelo trem bala, sonho dourado de nações ricas.
Evidente que o povo
exige mudanças necessárias e urgentes. Não
serão conquistadas, entretanto, pela esquerda que domina o país, porque incompetente,
confusa e (eufemisticamente) aética.
Hugo Navarro da
Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis.
Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte".
Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida
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