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FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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sábado, 24 de agosto de 2013

A VERDADE

Hugo Navarro Silva


O antropólogo Roberto Da Matta, em artigo publicado em “O Globo” de quarta-feira última, disse que “o ministro Joaquim Barbosa tem sido tratado como um Drácula brasileiro por dizer o que sente e pensa”, com seu estio sincero e desabrido, acrescentando que no Brasil somos treinados a não dizer o que pensamos por diversos motivos.

Após o julgamento do processo do mensalão, que poucos acreditavam pudesse chegar à sentença, mas pôs à mostra, com a chancela da mais alta corte do país, as apodrecidas vísceras do poder, o ministro relator do processo e um dos principais responsáveis por sua viabilidade passou a sofrer solerte e meio disfarçada campanha de descrédito, chamado de truculento e acusado de atitudes ditatoriais a serviço de encobertos interesses políticos, quando de fato tratava-se, apenas, de juiz que cuidava da correta conclusão de um feito,  o que deve ter causado perplexidade a muitos que estavam apregoando  a existência de mais uma gigantesca pizza, obra de Poder que vai caindo em descrédito cada vez maior neste país: o Judiciário.

Os fatos se precipitaram quando Joaquim Barbosa, na discussão de protelatório recurso de um dos condenados, teria insinuado que um colega  fazia chicana.

A palavra chicana, que apareceu no Brasil com o sentido de brincadeira maldosa, ingressou na linguagem forense significando qualquer incidente inútil, medida protelatória, cavilosa, sem base jurídica, de uso de advogados, destinada apenas a protelar o andamento dos feitos. Há muito caiu em desuso mas foi,  de maneira até surpreendente,  revivida pelo ministro Barbosa contra o ministro Ricardo Lewandowski, que vinha, durante todo o transcurso do julgamento do mensalão, buscando amenizar a situação  de acusados. O episódio acirrou a campanha contra Joaquim, que de certo modo, usando das prerrogativas de membro do STF, vem restaurando a abalada crença popular no Judiciário brasileiro, ao demonstrar, pelo menos, em parte,  a prática de crimes graves  de mandões da República e do partido do governo. Nem todos, é verdade. Houve ausências lamentadas e sentidas. Mas atreveu-se a dizer verdades suficientes para fazer renascer a confiança de que nem tudo está perdido. Ainda há pessoas capazes de proclamar a verdade, neste país, verdade conhecida, amplamente divulgada por órgãos independentes da imprensa, mas destinada ao olvido a que normalmente são atirados os delitos praticados contra o erário, que envolvem a política partidária  em país que às vezes parece formado de moucos,  cegos e irresponsáveis.

O poeta Paul Valèry comparou a verdade ao fogo, coisas perigosas que devemos temer e evitar. Um dramaturgo célebre escreveu que vivemos tão envolvidos em farsas e dissimulações que a verdade se assemelha à loucura.

O povo acostumou-se a dar mais importância e crédito à ponte de Itaparica e ao trem bala do que às verdades publicadas a respeito da roubalheira que se disseminou no país.

A atuação do ministro Joaquim Barbosa ao proclamar verdades a respeito da conduta delituosa de pessoas ligadas intimamente ao poder, e não vamos esquecer o corajoso trabalho da Procuradoria Geral da República na meticulosa, cuidadosa e correta denúncia oferecida contra gente poderosa e forte dentro e fora do governo, deu ao povo a certeza de que a justiça criminal não existe apenas para punir pobres, pretos e desamparados.

O que falta é pôr na cadeia os condenados no processo do mensalão apesar de todo o esforço chicanista que possa existir. A efetiva punição dos culpados reforçará a certeza, que anda enfraquecida e anêmica, de que um dia seremos povo livre, vivendo um verdadeiro regime democrático.


Hugo Navarro da Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis. Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte". Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida
 

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