Hugo Navarro Silva |
Mais um fato escabroso envolvendo menor de idade está a
abalar a sociedade brasileira. Garoto de treze anos matou várias pessoas da
família, inclusive pai e mãe, foi à escola e depois suicidou-se segundo a polícia paulista. Há
quem duvide e não falta quem enalteça as qualidades do apontado autor dos
tétricos crimes executados com frieza e precisão.
Alega-se que dificilmente criança usaria arma de fogo com
tamanha segurança, pistola de uso da polícia e forças armada, porque tiros
foram dados, certeiramente, na cabeça de vítimas, método usado por criminosos
treinados e assassinos de aluguel.
Houve época em que a figura da criança e do adolescente andava
envolvida em aura de inocência e candura. Menor era sempre inocente e falava a
verdade. Nunca tapeava, tergiversava ou mentia. A crença resultava de ambiente
cultural, que a religião ajudou a criar quando desenvolveu o culto ao Deus
Menino, tão difundo entre os brasileiros, com destaque para os nossos
sertanejos, que buscam superar dificuldades alimentando crenças e exaltações da
fé, e de certa forma sobrevive, ainda hoje, transformando-se em terror de
professores e dirigentes de escolas diante de pais que não admitem burlas,
embustes e mentiras dos filhos para encobrir malfeitos, o que normalmente fazem
com lágrimas comoventes, juras e atitudes humildes.
Infeliz do sujeito que em juízo tem que enfrentar
testemunhos de menores. Está fadado à condenação, porque criança não mente.
Aos poucos, entretanto, a crença foi mudando entre os
estudiosos do assunto. Pelo contrário, trabalhos de psicólogos que examinaram vastamente
o assunto deixaram demonstrado que a mente infantil é normalmente frívola, irresponsável e inconsequente, mas,
sobretudo, influenciável a depender dos
interesses que tenha a resguardar e proteger.
Todos passamos, no mínimo, por fase defabulação, em que a
realidade se confunde com o sonho e o imaginário da criança se desenvolve.
Concorriam, para isso, histórias tradicionalmente de fadas, bichos falantes,
bruxas, gigantes malvados, princesas, príncipes, bandidos, milagres, heróis e
valentões de mistura com os antigos mitos gregos e romanos, figuras de guerreiros e de bandoleiros do tipo que
pervagavam os sertões nordestinos criando histórias e lendas.
O mundo da criança é fantástico e se transforma em suporte
necessário, essencial ao desenvolvimento das faculdades da mente, inclusive as
da inteligência e da capacidade de criação.
Com a idade, é claro que o chamado mundo encantado da
criança, em que todo malfeito era punido,normalmente desaparece. Dá lugar à
dura realidade da vida e das responsabilidades o que não impede, entretanto,
que algumas envelheçam mentindo, inventando. São os chamados mitômanos. Alguns,
naturalmente. Outros, como certos políticos, por vocação, necessidade de
enganar ou levados pelas circunstâncias. Que são, no final das contas, o
romancista, o poeta e o autor de novelas, dessas que atualmente andam a
envenenar os sonhos e os anseios da juventude senão grandes e aplaudidos
mentirosos?
A criança e o adolescente de hoje têm diminuída sua
capacidade de imaginação. A própria sociedade encarrega-se de lhe dar heróis,
bandidos e violência como produtos industriais prontos e acabados para lhe
povoar a mente em formação com os jogos eletrônicos a que se somam os exemplos
da realidade vivida. Há uma escola do
crime sem punição facilmente accessível. A exaltação do que é proibido. Todo o
sistema educacional está a clamar por adequação necessária aos novos tempos.
Hugo Navarro da
Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis.
Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte".
Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida
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