Joselito Falcão Amorim |
Para mim, segundo algumas
evidências, as tropas aquartelaram-se num povoado próximo ao riacho Pojuca,
tendo em vista a existência de uma grande lagoa nas proximidades. Povoado esse
que veio a se chamar de Fortaleza, o hoje distrito de Jaiba. Lagoa essa
denominada de Berreca, por ser o nome do proprietário das terras. Segundo,
porque Maria Quitéria ficou órfã de mãe logo cedo, tendo seu pai Gonçalo se
casado em seguida. Afirmam que Quitéria não vivia bem com a madastra e por isso
passava muito tempo com os parentes no distrito de São Vicente, hoje Tiquarussu.
São Vicente era próximo de Fortaleza e tudo faz crer que Quitéria tenha dado um
saltinho até Fortaleza, para ver a tropa e quem sabe, se o coração balançou ou o
civismo brotou. Aí! Só ela.
Terceiro, eu morava com meus pais
numa chácara na Primeira Travessa da Boa Viagem, hoje respectivamente Rua
Aloísio Resende e Prof. Geminiano Costa, perto da Queimadinha. Na chácara
trabalhava um velho de nome João, quando indagado onde morava dizia sempre que
era na Terra dos Soldados. Meu pai, mais tarde descobriu que ele morava em
Fortaleza. O fato é que as tropas chegaram a Cachoeira dias depois. Maria
Quitéria corta o cabelo, toma a roupa emprestada do cunhado e incorpora-se às
forças de Labatut, com o nome de soldado Medeiros. Seu primeiro batismo foi em
Cachoeira, ao atacarem uma corveta vinda de Salvador para bombardear Cachoeira,
o que fez a mesma recuar. A história registra sua bravura nas lutas travadas,
não só no recôncavo baiano como na periferia de Salvador: Lobato, Pirajá e
Cabrito. Seu desempenho nas tropas de Labatut mereceu destaque especial. As
tropas patrióticas, embora em número inferior, foram eficientes e, com a ajuda
do corneteiro Lopes, que em momento de inferioridade ao invés de tocar retirada,
como ordenara o comando, tocou avançar, motivando a tropa, fazendo com que o
General Madeira, com suas tropas recuassem e abandonassem a luta. A Bahia assim,
a 2 de Julho de 1823, com a derrota e retirada das forças leais às Cortes,
consolidou em definitivo a Independência do Brasil. No episódio não se pode
omitir o papel de João das Botas, em Itaparica.
Consolidada a Independência, D.
Pedro recebe Maria Quitéria, cujo nome era Maria Quitéria de Jesus,
conferindo-lhe o posto de Alferes, com o respectivo soldo.
Toda essa história foi para
lembrar aos feirenses que não devemos deixar de reverenciar a nossa heroína –
Maria Quitéria. Quero esclarecer que aos noventa e três anos ainda existe sangue
nas minhas veias, oxigenando o meu patriotismo com a mesmo vigor que vivi por
ocasião da Segunda Guerra Mundial, atendendo ao chamamento da Pátria, que mesmo
sendo filho único e como tal isento dessa obrigação, a ela servi. Não tenho
interesse em criticar, muito menos em ofender, mesmo porque reconheço o belo
trabalho realizado no Município. O faço de modo respeitoso, solicitando até
permissão, pois estando de viagem marcada, não posso partir vendo a nossa
Heroína esquecida, amputada e invadida. Reconheço uma tentativa de homenageá-la,
que se fez com a melhor das intenções, porém homenagem invisível a olho nu.
Convém lembrar que a cidade, à época, terminava na Av. Senhor dos Passos (ex
Barão de Cotegipe) e foi o Prefeito Bernardino Bahia quem abriu a Avenida com a
denominação de Maria Quitéria (a hoje Getulio Vargas). Em frente à Prefeitura
havia uma igreja com um cemitério. Em uma esquina ele iniciou a construção da
igreja Senhor dos Passos e, na outra esquina, iniciou a construção do atual
prédio da Prefeitura. Assim o prédio da prefeitura está em cima da antiga igreja
e do cemitério. A avenida cresceu e cresceu e hoje é um dos cartões postais da
cidade. No governo do Prefeito Agnaldo Boaventura, que era trabalhista e
admirador do presidente Getulio Vargas, mudou-se o nome de avenida Maria
Quitéria para avenida Getulio Vargas. Como se abria na época um grande
loteamento, de Dona Guilhermina Almeida Mota, segunda esposa do ex-prefeito
Agostinho Frios da Mota e o engenheiro da Prefeitura, Dr. José Joaquim Lopes de
Brito, havia projetado uma grande rua, o Prefeito Agnaldo transferiu Maria
Quitéria para lá. Não sabendo ele, que o tempo faz justiça e deu à heroína Maria
Quitéria, a maior e mais bela avenida da cidade.
Já que falei, e olhe que estava
seguindo a sabedoria chinesa, quando nos adverte que temos dois ouvidos e uma
boca só e, como tal devemos preservá-la. Assim, estava eu sendo todo ouvido.
Porém, como deixar de chorar pela nossa Heroína (amputada) e invadida e, também
pelo Maestro Estevam Moura, que embora tenha nascido em Santo Estevão, escolheu
Feira para viver e aqui realizou sua grande Obra Musical, reconhecida não só no
meio musical nacional, como no exterior. Quem não se recorda da “Filarmônica 25
de Março”, com seu garbo, musicalidade, e sonoridade inconfundível, sob o
comando do Maestro Estevam Moura. Num município onde surgem todos os anos
centenas de novas ruas não faltam espaços para homenagear os amigos. Mérito a
quem tem mérito. Jamais ofuscá-lo. Assim, como último dever cumprido, concluo
esperando que o episódio da Independência seja reestudado, dando-se ênfase
nacional ao “2 de Julho” e que Feira seja mais ufanista e ame mais e mais a sua
heroína Maria Quitéria e que o distrito que tem o seu nome, não a tenha como
órfã abandonada.
Atendendo ao meu pedido, o Vereador Romi apresentou um projeto que torna obrigatória a comemoração de 2 de julho no Distrito de Maria Quitéria. Quase um ano depois, com a publicação de uma "Carta Aberta aos Srs. Vereadores"por mim assinada, foi aprovado o projeto. Com a intervenção do IHGFS o então Prefeito,
ResponderExcluirDr. Tarciso, mandou formar uma comissão para organizar as comemorações. Quando já contávamos com a colaboração do Exército, Polícia Militar e colégios, o Sr. Prefeito mandou suspender as comemorações por motivo da seca. Não havia verba.Mas houve verba para pagar, muito caro, às Bandas para o São João de São José...
Vamos aguardar que um Prefeito, que tenha nascido em outra Cidade,faça o que o filho da terra não quis fazer!!!