Enviado pelo Santanopolitano, Erisvaldo Miranda
Quando comecei, pensava que escrever sobre comida, seria sopa no mel,
mamão com açúcar. Só que depois de um certo tempo dá crepe, você
percebe que comeu gato por lebre e a caba ficando com uma batata quente
nas mãos.
Como rapadura é doce mas não é mole, nem sempre você tem idéias e pra
descascar esse abacaxi só metendo a mão na massa.
E não adianta chorar as pitangas ou, simplesmente, mandar tudo às favas.
Já que é pelo estômago que se conquista o leitor, o negócio é ir
comendo o mingau pelas beiradas, cozinhando em banho-maria, porque é
de grão em grão que a galinha enche o papo.
Contudo é preciso tomar cuidado para não azedar, passar do ponto,
encher linguiça demais. Além disso, deve-se ter consciência de que é
necessário comer o pão que o diabo amassou para vender o seu peixe.
Afinal não se faz uma boa omelete sem antes quebrar os ovos.
Há quem pense que escrever é como tirar doce da boca de criança e vai
com muita sede ao pote.
Mas como o apressado come cru, essa gente acaba falando muita
abobrinha, são escritores de meia tigela, troca m alhos por bugalhos e
confundem Carolina de Sá Leitão com caçarolinha de assar leitão.
Há também aqueles que são arroz de festa, com a faca e o queijo nas
mãos, eles se perdem em devaneios (piram na batatinha, viajam na
maionese… etc.). Achando que beleza não põe mesa, pisam no tomate,
enfiam o pé na jaca, e no fim quem paga o pato é o leitor que sai com
cara de quem comeu e não gostou.
O importante é não cuspir no prato em que se come, pois quem lê não é
tudo farinha do mesmo saco. Diversificar é a melhor receita para
engrossar o caldo e oferecer um texto de se comer com os olhos,
literalmente.
Por outro lado se você tiver os olhos maiores que a barriga o negócio
desanda e vira um verdadeiro angu de caroço. Aí, não adianta chorar
sobre o leite derramado porque ninguém vai colocar uma azeitona na sua
empadinha, não. O pepino é só seu, e o máximo que você vai ganhar é
uma banana, afinal pimenta nos olhos dos outros é refresco…
A carne é fraca, eu sei. Às vezes dá vontade de largar tudo e ir
plantar batatas. Mas quem não arrisca não petisca, e depois quando se
junta a fome com a vontade de comer as coisas mudam da água pro vinho.
Se embananar, de vez em quando, é normal, o importante é não desistir
mesmo quando o caldo entornar. Puxe a brasa pra sua sardinha, que no
frigir dos ovos a conversa chega na cozinha e fica de se comer
rezando. Daí, com água na boca, é só saborear, porque o que não mata
engorda..
Entendeu agora o que significa “no frigir dos ovos”?
Autor: Guaraci Neves
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