Hugo Navarro Silva |
O Brasil, hoje, é palco de muita conversa mas de
enormes e inquietantes incertezas. O país explodiu em protestos nas
ruas, mostrando a fragilidade, erros e falhas do sistema, em cujos calcanhares
apareceu o que ninguém esperava, o velho e sempre temido movimento anarquista,
com os “black blocs”, que não deixou de causar perplexidade aos responsáveis
pela ordem pública.
A Anarquia, como movimento político, teria nascido na
Rússia, com Bakunin, seu grande teórico, e se propagou no mundo inteiro,
atormentando, inicialmente, a burguesia europeia. Segundo Bakunin a
Anarquia “é a ausência de chefe, de
governante. É a forma de governo de que estamos nos aproximando dia a dia”. E
não deixou de ter certa razão. Seu sistema bania a propriedade e todos os meios
de controle social, como o casamento,
por exemplo, e a verdade é que tal instituto está praticamente anulado, pelo
menos no Brasil.
A doutrina, que encontrou em Proudhon seu grande líder, no
século XIX ao proclamar que toda
propriedade é um roubo, tem origens remotas na filosofia grega e em autores
como Thomas Morus, na sua “Utopia”, que dizia que a terra não é de ninguém, em
Rousseau e em muitos outros doutrinadores, cujo rol inclui Karl Marx, um dos
criadores do Comunismo, que no “Capital” proclama que “A hora final da
propriedade chegou”.
Na sua expansão o anarquismo foi levado aos Estados Unidos
pelos imigrantes italianos. Ficou
célebre a discutida condenação de Sacco e Vanzetti, acusados de homicídio, condenados e executados na cadeira
elétrica, dizem alguns somente porque ligados ao movimento anarquista. Teria
havido colossal erro judiciário, na
opinião de vários analistas, até porque antes da execução o verdadeiro autor confessara a prática do
crime.
O Brasil, país que se desenvolveu usando mão de obra
europeia, recebeu imigrantes italianos em grande quantidade, quando a República, dava seus primeiros passos e
andava mal das pernas (ainda anda). Livros franceses e jornais prepararam ambiente propício ao recebimento do anarco-sindicalismo
dos europeus, principalmente dos italianos, que chegavam aos montes ao país,
dando lugar à pregação anarquista que envolvia a extinção da propriedade, do governo, da
religião e dos partidos políticos. Criou problemas sérios, estimulando, entre a
classe operária, a greve e a destruição de bens por meio de sabotagem. Eram as
chamadas ações diretas, que se resumia na violência contra a produção e o
capital, a forma mais eficaz para
promover as mudanças. A Anarquia encastelou-se, inicialmente, no Paraná. Migrou
para São Paulo, no início do século XX, que recebia enorme força de trabalho de
Europa e ali promoveu greves e grandes distúrbios que posteriormente foram
levados para o Rio de Janeiro.
O movimento teve nomes ilustres, como o do prof. José de
Oiticica. Poeta, filólogo, escritor, foi
um dos organizadores de insurreição que pretendia imitar a Revolução Soviética
de 1917. Escrevia para jornais anticlericais. Teria participado de reuniões
para organizar a “Confederação Operária Brasileira”. No soneto “Anarquia”, José
de Oiticica proclamava que “Para a anarquia vai a humanidade/ Que da anarquia a
humanidade vem”. Foi professor do famoso “Colégio D. Pedro II”. Organizou, com
outros, frustrado golpe para a tomada do poder, em 1918, cujo fracasso determinou
o fechamento da “União Geral dos Trabalhadores” e de vários sindicatos. Foi
preso e condenado com outros membros do “Conselho Revolucionário”. Libertado,
anos depois, voltou à luta. Seu movimento, entretanto, já perdera força, com o
aparecimento de outro, o do Comunismo, que assombrava as noites dos
conservadores. Mas, por qualquer motivo, o profº. Oiticica ia parar na Cadeia
até sua morte em 1957.
E o Brasil, para aonde vai? Temos um governo clientelista,
desacreditado, que não se sustenta. Está a cair de podre. Que espécie de gente
irá substituí-lo? Que nos reserva o futuro?
Hugo Navarro da
Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis.
Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte".
Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida
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