Como dever:
Finca no teu chão uma semente e procedes para que os frutos, além de sadios,
sejam úteis ao teu povo
Atendendo prazerosamente à solicitação do recém criado Instituto Histórico e Geográfico de Feira de Santana, que solicita um pronunciamento a respeito de prof. Áureo de Oliveira Filho, o faço com um misto de orgulho e satisfação. Vários são os motivos que me deixam feliz. Primeiro por se tratar de um dos feirenses mais ilustres e com maior parcela de serviços prestados a sua comunidade. Em segundo lugar, por constatar que, a nossa Terra, sem jamais relegar sua vocação comercial - um dos nossos orgulhos e a razão do seu ser, ampliada ainda pela nova e indispensável vocação industrial e, mais ainda pela recente vocação cultural - que nos parece - seja em futuro o seu maior polo de desenvolvimento, já não pensa apenas no vil metal.
Que poderei dizer além do que já foi dito a seu respeito por amigos, admiradores e ex-alunos, em livro editado por ocasião do centenário do seu nascimento - 2002? A sua obra educacional, primeiro ginásio oficializado do interior do Estado, tornou-se não um fato histórico, porém um fato de grande repercussão, não só para a cidade, projetando-a, como de grande utilidade para a juventude interiorana, que não tinha outra alternativa, a não ser a capital do Estado.Foram
milhares e milhares de jovens que para aqui acorreram em busca do saber. E que
resultado! Quantos médicos, advogados, dentistas, engenheiros, agrónomos,
comerciantes, industriais, governadores, ministros, deputados, etc. Quanta
gente boa!
Áureo
não foi só o dono do colégio, foi acima de tudo um grande mestre, um sonhador,
um idealista, um grande educador. Presidente do Sindicato dos Estabelecimentos
de Ensino da Bahia e Sergipe por longos anos, Áureo vivia os problemas de sua
cidade. Estudava-os. Debatia-os e lançava-se à luta. A batalha pela energia,
que era deficientíssima. A luta pela água encanada. A luta pelo asfaltamento da
rodovia Feira-Salvador. A luta pelo telefone. A luta pelo Aeroclube de Feira,
do qual foi presidente.
A lula pelo Frigorífico de Feira, tão mal equacionado.
Em todas elas, ele estava na linha de batalha. Feira ressentia-se da falta de
um hotel, Áureo o construiu. Feira não tinha um auditório, Áureo o fez. Quantos
e quantos jovens pobres foram amparados pelo seu colégio. Enquanto muitos
enriqueceram com o ensino, Áureo, mesmo sendo o pioneiro, morreu pobre.
Constatando serem limitados os horizontes da cidade,
na qual foi vereador, torna-se deputado estadual, para melhor servir a sua
comunidade. E o faz de modo brilhante. Orador oficial do Poder Legislativo,
líder do Governo, defensor e reivindicador de melhoria para seu povo. Defensor
da criação da Universidade, do parque industrial, de mais escolas para a
juventude, de casas populares para o povo e de tantas e tantas outras justas
reivindicações.
Conheci o Dr. Áureo Filho quando, após concluir a
quinta série primária, trabalhava no Ginásio Donato de Souza, recém criado,
para poder custear meus estudos na escola de comércio do Prof. Donato, à noite.
O prof. Áureo ensinava Ciências Físicas e Naturais, jovem brilhante,
entusiasta, voz de timbre firme e vibrante, como que a vender esperança.
Não tendo êxito o Ginásio Donato de Souza, por falta
de registro no Ministério da Educação e Cultura, o Dr. Áureo aproveita, ou
melhor, faz com que a semente plantada pelo Prof. Manoel Donato de Souza passe
a germinar no Ginásio Santanópolis, que surge devidamente reconhecido pelo MC,
em 1933. Cinquenta alunos na sua primeira turma, da qual tive a oportunidade e
o prazer de participar.
Áureo teve a felicidade de formar um corpo docente de
primeira linha, recrutando o que de melhor havia na cidade: Gastão Guimarães, Honorato Bonfim, Pedro Américo, Mons. Amilcar Marques, Renato Santos Silva,
Prof. Antônio Matos, Profa. Edelvira Oliveira, Hermengarda Oliveira, Ten.
Abdon Souza, Isabel Alexandrina de Carvalho, José Joaquim Lopes de Brito. Mais
tarde com o reforço de Geraldo Leite, Osvaldo Requião, José Maria Nunes
Marques, Lourdes Brito, José Soares, Edelvito Campelo de Araújo e de tantos e
tantos outros mestres que os sucederam com as mesmas qualificações. Primeiro
corpo docente, que mesmo sem formação pedagógica, nada ficou a desejar. A
faculdade de filosofia que se incumbia da formação de professores para o ensino
médio, surgiu alguns anos depois, por volta de 1940, por iniciativa de outro
grande educador, que foi o Prof. Isaías Alves de Almeida.
O Santanópolis cresce a passos agigantados. Ginásio,
Colégio (segundo grau), Escola de Comércio. A sua eficiência comprova-se pela
classificação nos certames de cunho cultural, de âmbito estadual e nacional.
Áureo não media esforços para que seu colégio participasse, fazia todas as
despesas. O ingresso dos seus alunos nas Universidades, na maioria das vezes
sem os, hoje, afamados cursinhos para vestibular. Além disso, quantos e quantos
jovens tiveram oportunidades de desempenhar funções importantes, graças à
formação recebida.
Áureo defendia uma educação integral; Física - Moral
e Intelectual o assim a praticava no sou colégio. O Regimento Interno com
deveres e direitos dos corpos docente, discente e administrativo, era a cartilha
de todos os dias, de todos os momentos. Pena que, hoje em dia, a escola cuide
apenas da parte intelectual, olhe lá! A formação ética foi relegada a plano
secundário. Que falta está a fazer... Os dirigentes que o digam... Pobre País!
No momento em que o ensino público, se já não se
encontra sucateado, porém em marcha célere e, quando se alega falta de recursos
para reformá-lo, ou melhor, ressuscitá-lo, acho que o primeiro passo não requer
grande dispêndios. Basta competência e boa vontade. Direções eficientes:
Implantação e execução dos regimentos internos em todos os estabelecimentos de
ensino, nos quais se estabeleça direitos e deveres de professores, alunos e
funcionários. Cartilha de ética. Acompanhamento para que os programas
curriculares sejam ministrados na íntegra. A melhoria e ampliação do seu quadro
físico e funcional viria em seguida. Encontrando todos aptos e com disposição
para desempenharem seus deveres funcionais.
Ao constatar o surgimento espontâneo de mais uma
entidade de cunho cultural o Instituto Histórico e Geográfico de Feira de
Santana - o que muito nos alegra - fico a pensar na nossa pequenina Feira, na
sua origem. - Uma fazenda - hospedaria, dos seus fundadores: Domingos Barbosa
de Araújo o Ana Brandoa, a quem rendemos homenagem.
Hospedaria - Cidade residência, assim foi Feira por
longos anos. A sua feira livre, o seu comércio a transformaram em Cidade
Comercial, da qual muito nos orgulhamos, e, tornou a razão do seu ser. O seu
crescimento, a necessidade de ampliar o mercado de trabalho para os jovens, a
fizeram também um grande polo industrial. Maravilhoso. Polo económico!
Feira clama pelo ensino superior. Toda sua população
mobiliza-se. Surge a Universidade, que em poucos anos torna-se uma das mais
eficientes do Estado. Surgem novas Faculdades, Academias de Letras e Artes,
jornais diários, rádios, televisão e tantas e tantas outras entidades de cunho cultural. Volto a pensar: será que a nossa Feira ainda não se encontrou? Cidade
residencial, comercial, industrial e já agora para mais uma alegria. Cidade
Universitária.
Feira,
pelas facilidades que apresenta: cidade ampla, plana, sistema viário de
primeira, cidade ordeira e pacata, com toda infraestrutura, material humano de
qualidade e disponível, próximo da Capital, tem tudo para se transformar num
grande centro educacional. Assim vemos Feira de Santana, em marcha célere, em
busca de novos horizontes, tentando redefinir sua vocação. CIDADE UNIVERSITÁRIA[1].
Construir-se-ia, em futuro próximo, junto à Universidade, em Maria Quitéria, uma vila universitária, com 4
ou 5 mil unidades, alojamentos para alunos e professores, quadras esportivas,
biblioteca, teatro, piscina olímpica, etc. Seria a maneira mais fácil e útil de
iniciarmos o resgate da dívida imensa, que temos com a célula Mater. Sonho de
Áureo Filho.
Revista Inst. Hist. Geogr. de
Feira de Santana, a I, n. 1, p. 123-126, 2004
[1] Nota do Blog – Sobre este assunto, sempre achei que o Município (doando terreno), UEFS e entidades federais de financiamento, deveriam projetar uma vila universitária para financiar residências para professores, nos moldes que fizeram com moradias para policiais militares, na área doada pelo o Estado junto a Delegacia e Ciretran. A UEFS mantem, a um enorme custo, transporte de ônibus Feira a Salvador, só justificado nos primeiros anos, para atrair os necessários Lentes. Também a falta de apoio de vários governos municipais de nossa cidade à UFRB - Universidade Federal do Recôncavo da Bahia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário