ACARAJÉ, HUM,HUM, HUM...

LUDMILA OLIVEIRA HOLANDA CAVALCANTE

Santanopolitana, Profª da UEFS, Mestra, Doutora.

    Tinha apenas 4 pessoas na fila na minha frente. Cerca de 9 acarajés na bandeja e mais uma leva fritando por mais 15 minutos no tacho.

 

A "baiana" era ágil, pegava o bolinho, abria, passava com maestria a pimenta, o vatapá, a salada, camarão (pequenos ou "graúdos"), perguntava pelo caruru, já que não é uma unamidade. Servia a iguaria para comer ali, nos banquinhos espalhados pela esquina e já ocupados por muitos trabalhadores locais (um indicador de qualidade do produto!), podia embalar o acarajé para levar também, aí colocava num papel de pão e enfiava-os num saquinho, acompanhados de guardanapos.

 

    O ritual do serviço é o mesmo e a organização é impecável. Ela mesma pega o dinheiro, passa o troco, passa álcool na mão e segue para o próximo, de olho no tacho e nas reviradas no óleo dos que ainda fritavam. Um parceiro fica atento às demandas, à ordem da fila e ao isopor de latinhas de cerveja ou refri. A fila não demora, mas as vezes o número de gente da fila, não corresponde ao número dos acarajés que saem da bandeja. Uma pessoa pode levar 2 ou até 4 e é sempre bom saber este quantitativo para calcular o tempo de espera.

 

    Chegou a minha vez. Atrás de mim um homem alto e barulhento falando ao celular. Na bandeja dois bolinhos restantes, um menor que o outro.

 

    A "baiana" olha para mim na fila, pergunta

    - "Para comer aqui ou para levar?"

    - "para levar!" disse eu salivando.

    -"Com vatapá?" continua ao tempo que pega o bolinho menor.

 

    -"Vatapá, salada e camarão, mas eu quero aquele ali!" disse eu apontando para o acarajé maior e disposta a brigar por isto. Ela riu, obedeceu e trocou o acarajé.

 

    O homem atrás, fala alto "Poxa, eu tava de olho neste acarajé maior!"

 

    Eu olhei para trás, não dei risada nem ousadia, aguardei o meu acarajé com água na boca e alguma irritação, que a baiana percebeu. Ela tratou de arrumar meu acarajé como pedido, sem demora e guardando um sorriso de canto de boca. Peguei, paguei, agradeci e saí.

 

Já de costas, ouvi o rapaz falando para ela, "Pô, agora vou esperar fritar os outros, então!".