Se fosse vivo, o jornalista Martiniano da Silva Carneiro, nosso primeiro presidente, estaria completando 118 anos. Cidadão dos mais tradicionais de nossa cidade, fundador do Jornal Folha da Feira, recebe nossa homenagem através da reprodução de artigo publicado, em 2004, na Revista número 1 do Instituto Histórico e Geográfico de Feira de Santana, assinado pelo acadêmico Milton Pereira de Britto. Além disso, após o artigo, reproduzimos cabeçalho da primeira página de n. 4 do jornal FOLHA DA FEIRA, datado de 13 de outubro de 1928. Martiniano, aos 25 anos, foi seu fundador e proprietário.
MARTINIANO (*) |
Milton Pereira
de Britto – Procurador Jurídico do
IHGFS
Nascido em 19 de outubro de 1903, na Cidade de
Feira de Santa- Bahia, filho de Cirilo da Silva Carneiro e Maria Carneiro,
residiu em sua cidade natal até o seu falecimento em 12 de Maio de 1984. Após
frequentar a escola primária e ter uma formação estudantil básica,
notabilizou-se pela formação autodidata, acumulando amplo conhecimento
cultural, intelectual e profissional, exercendo as profissões de tipógrafo e
jornalista, tendo trabalhado durante muitos anos no Jornal Folha do Norte, do
que tinha imenso orgulho, principalmente, por ter trabalhado, sob a orientação
do Cel. Arnold Silva, figura das mais ilustres deste Município, com quem
aprendeu a profissão de jornalista. Foram seus irmãos: Virgílio da Silva
Carneiro, Inocêncio da Silva Carneiro, João da Silva Carneiro, Etelvina
Carneiro, Lídia da Silva Carneiro, Joana da Silva Carneiro e Luiza da Silva
Carneiro. Do seu casamento com Semírames Cerqueira Carneiro, nasceram seis
filhos – Wellington, Wilson, Washington, Waldemiro, Wilma e Walter. Após
trabalhar durante anos na Folha do Norte, fundou o Jornal FOLHA DA FEIRA, de
linha ideológica apolítica, onde contou com a gloriosa e sábia colaboração de
Gastão Guimarães, escrevendo e publicando neste, matérias de relevância e
reconhecimento nacional, a exemplo de diversos artigos sobre o líder político,
carioca e brasileiro, Carlos Lacerda, no Jornal Folha do Norte e outras, a
exemplo do que escreveu sobre a peste bubônica, que assolou Feira de Santana,
de forma intrépida e ousada, como se pode verificar pela manchete – “Enquanto
os governos viajam e descansam e a saúde pública dorme, a peste bubônica
pretende devorar a população da Feira pouco a pouco”. – “Na madrugada passada
morreram só na Praça Fróes da Mota, quatro pessoas. Lamentavelmente sua
Excelência, o Presidente da República (Getúlio Vargas) encontrava-se em
Petrópolis; o Eminente Interventor da Bahia (Juraci Magalhães) na Ilha de
Itaparica e os Ministros da República e o Secretário de Saúde, em suas Fazendas
e casas de campo”. Após e por consequência destas matérias, vieram à Feira de
Santana, decorridos três dias da publicação, equipes da saúde pública com
médicos e enfermeiros, momento em que os Gestores Públicos solicitaram a
Martiniano para acabar com a campanha que entendiam denegrir o Poder Público,
obtendo a resposta de que o Jornal era apolítico e apenas divulgava notícias de
fatos concretos com responsabilidade profissional.
De cultura vasta, oriunda de incansáveis leituras
de autores clássicos, dominava bem a língua portuguesa, expressando-se castamente,
sendo elogiado por tal postura por seus contemporâneos, inclusive por Gastão Guimarães
e Arnold Silva. Tinha excelente oratória, apesar do seu comportamento
introspectivo, sendo de rica memória, decorava com facilidade os discursos do
velho caudilho Getúlio Vargas, repetindo os seus pronunciamentos com postura de
voz semelhante ao do Presidente, muitas vezes repetidas no Prédio da
Filarmônica 25 de Março, reproduzindo os discursos IPSIS LITTERIS, sendo
bastante aplaudido, motivando risos em momentos de descontração. Residiu
durante quase toda a sua existência numa casa na Rua Mal. Deodoro, localizada
no imóvel que se encontra hoje vizinho ao prédio dos Correios.
Amante da boa música, ali em sua residência,
podia-se ouvir os melhores discos de música popular brasileira, sendo fã
ardoroso do elegante Carlos Galhardo, de quem ouvia repetidamente as músicas –
Salão Grenar e Fascinação.
Participou de diversas instituições, a exemplo da
Maçonaria, Rotary Club e Euterpe, participando da reconstrução desta, sob o
comando do saudoso João Pires. Nunca faltou aos Eventos Culturais promovidos em
sua Cidade, convidado, por muitas vezes, pela Academia Feirense de Letras e
pela Academia de Letras e Artes, de Feira de Santana.
Repetindo referências do nobre professor Oscar
Damião de Almeida, pode-se dizer deste – “Cidadão dos mais urbanos e dignos,
conhecido em toda a Feira de Santana à qual ele consagrou seu trabalho e amor
do seu iluminado viver”.
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[*]Esta matéria foi colhida através de uma
Entrevista Informal, com o filho de Martiniano, Washington Carneiro (TONTON),
que conta com orgulho da existência do seu saudoso pai.
Publicado na Academia Feirense de Letras em 24 de outubro de 1921.
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