Esta rica, acolhedora e solidária hidrografia expressa a índole de
um povo generoso, que sempre se renova e cresce, altaneiro, forte e
empreendedor.
Feirenses dedicados já fizeram valiosos registros para a
historiografia de Feira (Lélia Fernandes, Oscar Damião, André Pamponet, Adilson
Simas, cujo início no jornalismo incentivei, Joaquim Gouveia, o incansável e um
dos pioneiros, além de outros), sua mídia, especialmente a Folha do Norte nos
últimos cem anos, e a Fundação Egberto Costa através de seu notável presidente
Antônio Carlos Coelho, mas, há sempre fatos e vultos que ainda não integram o
acervo cultural da cidade.
Ao relembrar episódios e pessoas, conclamamos outros feirenses
para que nos tragam suas vivências, enriquecendo nossa historiografia.
Relembro 1948. Em caminhões que
transportavam cargas e passageiros, e por precaríssimas estradas de rodagem,
nossa cidade se comunicava com o norte e o sul do País, pela Transnordestina,
com Ipirá, e com Salvador, tendo com esta, também, uma ligação ferroviária
através de São Gonçalo, Conceição da Feira (de onde provinha um ramal
da VFF da Leste Brasileiro), passando também por Santo Amaro.
Primeiras marinetes (www.feiradesantana.ba.br-memorialdafeira |
Antiga Estação Ferroviária de Feira de Santana - 1876 a1958 (www.estcoesferroviarias.com.br) |
Quem fosse em direção a Ipirá ou a outras cidades
dessa região (Itaberaba, Mundo Novo, Irecê, etc.) passava pela bela ponte do
Rio Branco, construída na década de 20 sobre o rio Jacuípe, nas imediações da
Fazenda Mocó, que era um campo experimental do Estado, de equinos e bovinos. E
quem se dirigisse para o sul do país, enfrentava, em grande parte do ano,
conhecidos e longos atoleiros. Nesses lamaçais quem mais sofria eram os
nordestinos que fugiam da seca em demanda de São Paulo, viajando em paus de
arara (caminhões com carroceria coberta de lona e tábuas transversais como
bancos, sobre as quais viajavam dia e noite os retirantes com mulheres e
crianças), suas malas e surrões, tudo misturado, consumindo as limitadas
matalotagens (matrutages, como diziam), que eram as provisões de comida que mal
davam para uma semana... tempo previsto para a viagem. Difícil encontrar um
restaurante ou rancharia no percurso.
Até hoje me emociono quando ouço A Triste Partida, de Patativa do Assaré, cantada e tocada por Luiz Gonzaga. Em 1948, a cidade não chegava aos 30 mil habitantes na sede, e o dobro na zona rural. Ainda era (em imperfeito traçado) uma estreita e longa faixa de terra habitada do Tomba às Baraúnas, muitíssimo bem alargada na sua área central, e com alguns espaços vazios ao sul e ao norte. fôssemos traçar o
perímetro urbano de então, haveríamos de excluir (salvo melhor memória ou os
arquivos da Prefeitura) a área depois do Emec (o chamado Ponto Central),
ocupada por chácaras que abasteciam a cidade com água potável. O serviço era
feito através de jumentos ou carroças com pequenos barris (carotes) e rodas
emborrachadas. Não incluiríamos a Kalilândia (chácara de Elias Kalile); a
Queimadinha (chácara de Lili (Leolindo Silva) e sua esposa, a bondosa D. Maria
Pinto); deixaríamos de fora toda a baixada (de ambos os lados) da atual Avenida
José Falcão, repleta de emersões de seu lençol freático; incluiríamos no
perímetro urbano o Minadouro, o Najé, parte das Baraúnas, os inícios do
Sobradinho, do Jardim Cruzeiro e da Rua Nova (Chácara da benemérita Dona Pomba,
Ernestina Carneiro); a Praça Padre Ovídio, os Olhos d'Água, deixando de fora os
bairros do Jardim Acácia, Feira X, Aviário (estrada velha de Salvador) e ainda, Serraria Brasil, Brasília, Adnil Falcão, Capuchinho e Santa Mônica. Replicando: Revista do Instituto Histórico e Geográfico
de Feira de Santana nº 17 |
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