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FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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sexta-feira, 8 de outubro de 2021

A FEIRA QUE VIVI - I

ROQUE ARAS

    Esta urbe formosa e bendita do louvor da poetisa expressa mesmo a dádiva que a natureza nos legou. Erguida em suave altiplano para melhor perscrutar seus horizontes, nossa Feira espalha sua abundante seiva pluvial e de seu rico aquífero pelos mais distantes campos e por inúmeras comunidades, através de emissários naturais, os rios Jacuípe, Pojuca e Subaé, este nela nascendo.

Esta rica, acolhedora e solidária hidrografia expressa a índole de um povo generoso, que sempre se renova e cresce, altaneiro, forte e empreendedor.

Feirenses dedicados já fizeram valiosos registros para a historiografia de Feira (Lélia Fernandes, Oscar Damião, André Pamponet, Adilson Simas, cujo início no jornalismo incentivei, Joaquim Gouveia, o incansável e um dos pioneiros, além de outros), sua mídia, especialmente a Folha do Norte nos últimos cem anos, e a Fundação Egberto Costa através de seu notável presidente Antônio Carlos Coelho, mas, há sempre fatos e vultos que ainda não integram o acervo cultural da cidade.

Ao relembrar episódios e pessoas, conclamamos outros feirenses para que nos tragam suas vivências, enriquecendo nossa historiografia.

Relembro 1948. Em caminhões que transportavam cargas e passageiros, e por precaríssimas estradas de rodagem, nossa cidade se comunicava com o norte e o sul do País, pela Transnordestina, com Ipirá, e com Salvador, tendo com esta, também, uma ligação ferroviária através de São Gonçalo, Conceição da Feira (de onde provinha um ramal da VFF da Leste Brasileiro), passando também por Santo Amaro.

Primeiras marinetes (www.feiradesantana.ba.br-memorialdafeira
    Algumas marinetes (tipo ônibus) da Empresa Santana, de Pedro Falcão, conduziam pessoas diariamente e em poucos horários, de Feira para a Capital, tendo como ponto um abrigo que existia na confluência da Avenida Senhor dos Passos com a Praça João Pedreira. O percurso era feito em quatro horas e o passageiro quando desembarcava precisava ir logo para casa tomar banho e trocar de roupa, pois chegava coberto por camada de pó avermelhado. Os que podiam pagar a passagem mais cara, preferiam o motriz, um vagão ferroviário autónomo com algum luxo que, saindo às 5 horas da manhã de Feira, demorava apenas duas horas, chegando-se limpo e a tempo de resolver negócios. A estação ficava onde hoje é o Feiraguai, e cuja área, de propriedade da extinta Rede Ferroviária Federal, foi batizada por Newton Falcão com o nome do presidente da época, General Médici, pois somente assim o prefeito poderia viabilizar sua transferência para o Município, como me confessou. Urge que o nome do logradouro seja alterado para o do excelente gestor (71/72).

Antiga Estação Ferroviária de Feira de Santana - 1876 a1958
(www.estcoesferroviarias.com.br)

    Quem fosse em direção a Ipirá ou a outras cidades dessa região (Itaberaba, Mundo Novo, Irecê, etc.) passava pela bela ponte do Rio Branco, construída na década de 20 sobre o rio Jacuípe, nas imediações da Fazenda Mocó, que era um campo experimental do Estado, de equinos e bovinos. E quem se dirigisse para o sul do país, enfrentava, em grande parte do ano, conhecidos e longos atoleiros. Nesses lamaçais quem mais sofria eram os nordestinos que fugiam da seca em demanda de São Paulo, viajando em paus de arara (caminhões com carroceria coberta de lona e tábuas transversais como bancos, sobre as quais viajavam dia e noite os retirantes com mulheres e crianças), suas malas e surrões, tudo misturado, consumindo as limitadas matalotagens (matrutages, como diziam), que eram as provisões de comida que mal davam para uma semana... tempo previsto para a viagem. Difícil encontrar um restaurante ou rancharia no percurso.

    Até hoje me emociono quando ouço A Triste Partida, de Patativa do Assaré, cantada e tocada por Luiz Gonzaga.


 

     Em 1948, a cidade não chegava aos 30 mil habitantes na sede, e o dobro na zona rural. Ainda era (em imperfeito traçado) uma estreita e longa faixa de terra habitada do Tomba às Baraúnas, muitíssimo bem alargada na sua área central, e com alguns espaços vazios ao sul e ao norte.

    fôssemos traçar o perímetro urbano de então, haveríamos de excluir (salvo melhor memória ou os arquivos da Prefeitura) a área depois do Emec (o chamado Ponto Central), ocupada por chácaras que abasteciam a cidade com água potável. O serviço era feito através de jumentos ou carroças com pequenos barris (carotes) e rodas emborrachadas. Não incluiríamos a Kalilândia (chácara de Elias Kalile); a Queimadinha (chácara de Lili (Leolindo Silva) e sua esposa, a bondosa D. Maria Pinto); deixaríamos de fora toda a baixada (de ambos os lados) da atual Avenida José Falcão, repleta de emersões de seu lençol freático; incluiríamos no perímetro urbano o Minadouro, o Najé, parte das Baraúnas, os inícios do Sobradinho, do Jardim Cruzeiro e da Rua Nova (Chácara da benemérita Dona Pomba, Ernestina Carneiro); a Praça Padre Ovídio, os Olhos d'Água, deixando de fora os bairros do Jardim Acácia, Feira X, Aviário (estrada velha de Salvador) e ainda, Serraria Brasil, Brasília, Adnil Falcão, Capuchinho e Santa Mônica. 

Replicando: Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Feira de Santana nº 17 




 

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