Evandro J.S. Oliveira |
Zeca Pior – vulgo decorrente de existir aqui, três
Zecas, apelidaram de Zeca Malvado, Zeca Ruim e o nosso personagem, Zeca Pior –
saindo do quarto entrando salão acompanhado de Tuninha, mulher de vida difícil no Castelo de D. Zazá, com
o nome de “Casa do Bom e Barato”, no Minadouro, local de baixo meretrício. Zeca
era valentão baderneiro, já chegou ameaçando e ofendendo os presentes, procurando
briga falou alto apontando para lado direito:
- Aí só tem viado,
quando Bodega respondeu – não sou viado
não moço, e Zeca disse – então passe pro
outro lado, que só tem corno.
Alguns foram saindo de fininho, sabendo que ali só
iria dar merda, sua mente rasteira, ser respeito a sua autoridade. Relanceando o
olhar pelo lusco fusco do salão,
imitando buate, mais para esconder os
detalhes físicos das madames, viu ao fundo um senhor sentado numa mesa com um
copo de whisky em cima da mesa, com um olhar fixo para o vazio parecia não ter
atentado para Zeca, não dando nenhuma importância ao ocorrido, para Zeca era
uma ultrajem, caminhou resoluto sentou defronte do homem pegou o copo de whisky
e começou a beber, não vendo reação do outro falou, - e aí cara, não vai dizer
nada? Acabei de tomar seu whisky de
péssima qualidade, não ficou com medo de mim? Foi aí que o senhor pareceu sair
do transe, olhou para homenzarrão defronte dele e calmamente responde: - moço
eu estou tendo um dia tão ruim que ninguém nem nada pode piorar. Zeca
estupefato, com ódio, mas curioso perguntou, o que houve conte o que acontece.
O homem calmamente começou a relatar:
- Eu sou representante comercial, viajante como se
diz, trabalho para uma grande firma atacadista aqui de Feira, cada semana faço um
roteiro, hoje... não, ontem já é de madrugada, levantei cedo, como de costume,
tomei banho beijei meu filho, achei ele quentinho, deixei minha mulher dormindo
e caí na estrada com destino a Irecê, extremo do roteiro, na volta faria o
pinga-pinga na freguesia. Chegando em Irecê, depois de 4 horas de viagem,
deparei com as lojas fechadas e mesmo indo nas residências dos fregueses, não
consegui nem uma teteia de venda.
Retornando por João Dourado, Morro do Chapéu, Tapiramutá, Piritiba e sem fazer
um pedido, esta pandemia só ia me trazer despesas, resolvi seguir para Mundo
Novo para almoçar e fazer mais algumas tentativas, quando para minha surpresa
tinha uma blitz de teste de covid na entrada da cidade, teste rápido, pronto,
veio resultado, a marvada tinha me
pegado. O agente cumprindo o protocolo, recolheu mais material, para confirmar,
recomendação de se isolar, todas as consequências, ir para casa... eu já não
conseguia ouvir mais nada, o medo tomou conta da minha cabeça. Fazendo esforço
para me controlar, como não podia entrar na cidade, resolvi retornar, menos de
20 km. até ao Posto de Porto Feliz para comer qualquer coisa, já era 3 horas da
tarde. Peguei alguma comida, tomei um trago forte sentei na mesa e comecei a
analisar todas as consequências, não consegui comer nada. Paralisado remoendo
tudo, só conseguia ouvir o agente sanitário – você está contaminado de covid...foi
quando apavorado lembrei do meu filho estar quente pela manhã, imaginei o pior
dos cenários, aí os olhos ficaram turvos, encheram de lágrimas, olhei o relógio
e sai, deixei uma cédula de R$ 100,00, entrei no carro e me piquei, quando cheguei na porta de casa já era noite, abri a
porta com cuidado para minha mulher não vir me abraçar, como fazia sempre
quando retornava, vi a porta do quarto encostada empurrei com cuidado e
estarrecido vi minha mulher nua com o meu chefe na cama.
Atarantado retornei para rua entrei no carro e fiquei
rodando pela contorno. Passando um filme de horror: entubado sem poder respirar,
morrendo aos poucos, não via nenhuma solução. Largar minha mulher? Quem ia
tomar conta de meu filho, ainda mais se ele estivesse contaminado? Voltar e
fazer de conta que não vi nada, não ia conseguir. Neste turbilhão de
pensamentos, finalmente tomei uma decisão, fui em uma loja de um amigo, morava
na própria loja, comprei o que queria e vim para cá.
Pedi um litro de whisky, e o último copo é este que
você acabou de beber.
Zeca olhou para o vidro vazio que estava em cima de um
envelope e R$200,00, apanhou o envelope endereçado a sua mulher colocou os
duzentos paus no buraco do brim e leu:
“Meu Amor. Estou me despedindo, você foi a coisa melhor da minha vida, estou
contaminado de covid, não suportaria morrer isolado dos meus amores, meu filho
e a mãe dele, leve-o ao médico urgente, pode estar de covid, na idade dele, tem
boa defesa.
Beijos quem muito lhe ama.
Belinho.”
Zeca sem nenhum sentimento – Corno assumido, ainda
deixa uma carta melosa para a vagabunda, não tem vergonha não, e ainda manda
duzentos paus para a puta da mulher?
Belo, este era o nome do infeliz, - tinha que deixar
ela com sentimento de arrependimento e torcendo para direcionar no zêlo de meu
filho. Os duzentos era para o garçom, pagar a conta e o troco é ele levar a carta, depois
que bebesse o último copo de whisky, cheio de chumbinho (veneno, raticida) que você acaba de beber.
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