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FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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sexta-feira, 10 de julho de 2020

O DIA AZARADO

Evandro J.S. Oliveira

Zeca Pior – vulgo decorrente de existir aqui, três Zecas, apelidaram de Zeca Malvado, Zeca Ruim e o nosso personagem, Zeca Pior – saindo do quarto entrando salão acompanhado de Tuninha, mulher de vida difícil no Castelo de D. Zazá, com o nome de “Casa do Bom e Barato”, no Minadouro, local de baixo meretrício. Zeca era valentão baderneiro, já chegou ameaçando e ofendendo os presentes, procurando briga falou alto apontando para lado direito:
- Aí só tem viado, quando Bodega respondeu – não sou viado não moço, e Zeca disse – então passe pro outro lado, que só tem corno.
Alguns foram saindo de fininho, sabendo que ali só iria dar merda, sua mente rasteira, ser respeito a sua autoridade. Relanceando o olhar pelo lusco fusco do salão, imitando buate, mais para esconder os detalhes físicos das madames, viu ao fundo um senhor sentado numa mesa com um copo de whisky em cima da mesa, com um olhar fixo para o vazio parecia não ter atentado para Zeca, não dando nenhuma importância ao ocorrido, para Zeca era uma ultrajem, caminhou resoluto sentou defronte do homem pegou o copo de whisky e começou a beber, não vendo reação do outro falou, - e aí cara, não vai dizer nada?  Acabei de tomar seu whisky de péssima qualidade, não ficou com medo de mim? Foi aí que o senhor pareceu sair do transe, olhou para homenzarrão defronte dele e calmamente responde: - moço eu estou tendo um dia tão ruim que ninguém nem nada pode piorar. Zeca estupefato, com ódio, mas curioso perguntou, o que houve conte o que acontece.
O homem calmamente começou a relatar:
- Eu sou representante comercial, viajante como se diz, trabalho para uma grande firma atacadista aqui de Feira, cada semana faço um roteiro, hoje... não, ontem já é de madrugada, levantei cedo, como de costume, tomei banho beijei meu filho, achei ele quentinho, deixei minha mulher dormindo e caí na estrada com destino a Irecê, extremo do roteiro, na volta faria o pinga-pinga na freguesia. Chegando em Irecê, depois de 4 horas de viagem, deparei com as lojas fechadas e mesmo indo nas residências dos fregueses, não consegui nem uma teteia de venda. Retornando por João Dourado, Morro do Chapéu, Tapiramutá, Piritiba e sem fazer um pedido, esta pandemia só ia me trazer despesas, resolvi seguir para Mundo Novo para almoçar e fazer mais algumas tentativas, quando para minha surpresa tinha uma blitz de teste de covid na entrada da cidade, teste rápido, pronto, veio resultado, a marvada tinha me pegado. O agente cumprindo o protocolo, recolheu mais material, para confirmar, recomendação de se isolar, todas as consequências, ir para casa... eu já não conseguia ouvir mais nada, o medo tomou conta da minha cabeça. Fazendo esforço para me controlar, como não podia entrar na cidade, resolvi retornar, menos de 20 km. até ao Posto de Porto Feliz para comer qualquer coisa, já era 3 horas da tarde. Peguei alguma comida, tomei um trago forte sentei na mesa e comecei a analisar todas as consequências, não consegui comer nada. Paralisado remoendo tudo, só conseguia ouvir o agente sanitário – você está contaminado de covid...foi quando apavorado lembrei do meu filho estar quente pela manhã, imaginei o pior dos cenários, aí os olhos ficaram turvos, encheram de lágrimas, olhei o relógio e sai, deixei uma cédula de R$ 100,00, entrei no carro e me piquei, quando cheguei na porta de casa já era noite, abri a porta com cuidado para minha mulher não vir me abraçar, como fazia sempre quando retornava, vi a porta do quarto encostada empurrei com cuidado e estarrecido vi minha mulher nua com o meu chefe na cama.
Atarantado retornei para rua entrei no carro e fiquei rodando pela contorno. Passando um filme de horror: entubado sem poder respirar, morrendo aos poucos, não via nenhuma solução. Largar minha mulher? Quem ia tomar conta de meu filho, ainda mais se ele estivesse contaminado? Voltar e fazer de conta que não vi nada, não ia conseguir. Neste turbilhão de pensamentos, finalmente tomei uma decisão, fui em uma loja de um amigo, morava na própria loja, comprei o que queria e vim para cá.
Pedi um litro de whisky, e o último copo é este que você acabou de beber.
Zeca olhou para o vidro vazio que estava em cima de um envelope e R$200,00, apanhou o envelope endereçado a sua mulher colocou os duzentos paus no buraco do brim e leu: “Meu Amor. Estou me despedindo, você foi a coisa melhor da minha vida, estou contaminado de covid, não suportaria morrer isolado dos meus amores, meu filho e a mãe dele, leve-o ao médico urgente, pode estar de covid, na idade dele, tem boa defesa.
Beijos quem muito lhe ama.
 Belinho.”
Zeca sem nenhum sentimento – Corno assumido, ainda deixa uma carta melosa para a vagabunda, não tem vergonha não, e ainda manda duzentos paus para a puta da mulher?
Belo, este era o nome do infeliz, - tinha que deixar ela com sentimento de arrependimento e torcendo para direcionar no zêlo de meu filho. Os duzentos era para o garçom, pagar a conta e o  troco é ele levar a carta, depois que bebesse o último copo de whisky, cheio de chumbinho (veneno, raticida) que você acaba de beber. 

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