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FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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segunda-feira, 6 de julho de 2020

EULINA THOMÉ DE SOUZA: PIONEIRA FEIRENSE DO FEMINISMO NO BRASIL

REPLICANDO MEMORIAL DA FEIRA

É de Feira de Santana uma das mais vibrantes e polêmicas feministas da história do Brasil. Foi uma das pioneiras na luta em defesa dos direitos da mulher, nas primeiras décadas do século XX. Conferencista de sucesso em todo o país, chegou a ser presa no Rio de Janeiro porque tentou fazer um comício, vestida de homem, nas escadarias do Theatro Municipal. Posou para fotografia vestida de "cow-boy", com um rifle do lado. O nome dela: Eulina Thomé de Souza. A vida da grande feminista feirense será contada nos próximos dias, no Memorial da Feira, portal mantido na internet pela Prefeitura, através da Secretaria Municipal de Comunicação. Antes disso, aí vai o texto do vídeo, sem a edição de imagens:
Pouca gente sabe, mas Maria Quitéria não foi a única mulher feirense que se vestiu de homem e partiu pra guerra. Eulina Thomé de Souza também se vestiu de guerreira, posou para a foto com um rifle do lado e partiu para outra batalha: a de defesa dos direitos da mulher. Isso nas primeiras décadas do século XX. Ela se tornou conhecida em várias partes do país como conferencista e uma das primeiras feministas do Brasil. Em Feira de Santana, porém, existem poucos registros sobre Eulina Miranda, o seu nome de solteira.
Em 1909, a Revista do Brasil, de Salvador, traz essa foto, com a seguinte legenda:
“Grupo de distintas senhoras e gentis senhoritas que compõem a diretoria do Grêmio das Sócias-Protetoras da 25 de março, que tem sua sede na formosa cidade de Feira de Santana (...) vendo-se de pé a oradora oficial, que é a inteligente aluna-mestra senhorita Eulina Miranda.”
Em dissertação de mestrado intitulada Timoneiras do Bem, a pesquisadora Cristiana Oliveira cita Eulina, já usando o seu nome de casada, entre as mulheres que se destacaram na vida intelectual de Feira na década de 1920:
“Nesses rincões, aparece o nome de Dona Eulina Thomé de Souza como porta-voz da emancipação feminina, trazendo a novidade civilizadora para a sua terra natal – Feira de Santana. A eminente conferencista estava afastada do seu torrão desde sua partida após a formatura na capital da Bahia, no Instituto Normal. Esteve em contato direto com o mais importante centro polarizador dos preceitos modernizadores europeus, a capital do Governo Federal, o Rio de Janeiro.”
Cristiana Oliveira se refere às duas conferências realizadas por Eulina Tomé de Souza em Feira de Santana em julho de 1926, e que foram noticiadas pelo jornal Folha do Norte. Diz a reportagem:
“A senhora dona Eulina Thomé de Souza, de quem a cidade conhece a infância estudiosa e risonha e o albor du’a mocidade radiosa, é, sem contestação, um espírito empreendedor, dotado de viva inteligência, vezes de grande lucidez, de imaginação ativíssima e pronta. Muito jovem ainda alcançou a láurea de mestre. O anseio natural de vida menos pacífica, mais agitada, gerado de seu próprio temperamento, levou-a para as lides da imprensa e, empós, fez-se conferencista. É no desempenho dessas funções que ela volve ao nosso meio social, como defensora destemerosa e fecunda dos direitos da mulher”.
Na ocasião, também na Folha do Norte, o poeta Honorato Bonfim Filho publicou esse poema, intitulado Pró-Feminismo, com a seguinte dedicatória: “À fervorosa pioneira do feminismo, dona Eulina Thomé de Souza”.
Eulina viria a ganhar destaque nacional com suas conferências, como esta, em 1921, na cidade de Manaus, dedicada à colônia portuguesa da capital do Amazonas, e essa outra, no Teatro Carlos Gomes, no Rio de Janeiro, sobre o feminismo, e anunciada pelo jornal Diário da Manhã, em janeiro de 1927. Ainda em Manaus, em janeiro de 1922, Eulina fundou o jornal Almofadinha, definido por ela, em editorial, como sendo “o produto vitorioso deste século; ele é tudo, porque representa a vida, a poderosa razão da vida que freme, que se agita, que fala, que grita, que gesticula e estuda poses e cultiva gestos dengosos”.
Mas ela se destacou também pelas atitudes irreverentes e audaciosas. Em 1928, seu nome entra na crônica policial de um jornal do Rio de Janeiro, nessa reportagem reproduzida pelo jornal Folha do Norte. Intitulada “Uma feminista masculina foi presa”, diz a reportagem:
“Eulina Thomé de Souza veste-se de “cow-boy” e faz conferencias sobre o feminismo: é um contra senso, mas é verdade. É feminismo que se masculiniza. Ora, ontem, à tarde, D. Eulina, das escadarias do Theatro Municipal, em gestos largos e palavras vibrantes, anunciava aos ouvintes que o feminismo há de vencer.
- Vencerá, dizia ela, quer queiram, quer não os governos, quer a polícia deixe, quer não.
Ao falar na polícia, surgiu um policial, que, incontinenti, disse-lhe:
- Esteje presa!...
- Protesto, diz a feminista. Eu sou uma mulher que represento todas as minhas patrícias, encarno a mulher brasileira!...
- Não tenho nada com isso; eu a prendo porque, justamente, sendo mulher, veste-se como homem... foi a resposta do policial.
E assim, sob protestos, D. Eulina foi ao 5º distrito policial, onde aguarda umas saias para poder sair.”
Não se sabe quando e onde Eulina Thomé de Souza morreu, mas em 1971, ela ainda era notícia.  Na edição 1034 da revista Manchete, foi publicada essa crônica sobre Eulina, do jornalista e escritor Paulo Mendes Campos. Nela são relatadas aventuras incríveis da feminista feirense nos estados de Pernambuco e Alagoas. Entre outras coisas, diz que, no sertão de Pernambuco, Eulina dormiu na fazenda de uma sobrinha de Lampião, assombrando a moça com sua valentia.
Eulina Tomé de Souza, uma das primeiras e mais polêmicas feministas do Brasil, é uma personalidade fascinante de Feira de Santana, que merece ser melhor estudada.

Matéria publicada no MEMORIAL DA FEIRA.

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