Professora aposentada, historiadora, declamadora, a feirense Olga Noêmia
Magalhães (Ni
á), filha do ilustre professor e médico Gastão Guimarães, com o texto
“Memórias de uma feirense”, viaja no tempo narrando três assuntos que
integram a vida da cidade: a Festa de Santana, a Feira-Livre e a Igreja
Senhor dos Passos. Vale a pena ler de novo (Adilson Simas)
A FESTA DE SANTANA
Para falar dos festejos de N.S.
Santana, começarei pelo “Pregão”, que era o ponto de partida para a festa, e constava
de um obelisco feito de madeira com a Imagem de Santana. (Existem lugares que
têm a mesma tradição com o nome de mastro). Hoje existe um obelisco do lado
esquerdo da igreja, substituindo aquele que era feito anualmente.
Nesse dia havia matina com muitos
fogos e alguns mascarados pela rua. O passo seguinte era no próximo domingo, a
saída do Bando Anunciador que, ultimamente a UEFS está ressuscitando. Então
vinha o novenário, após o que vinham as famosas retretas, lavagem da
igreja, levagem da lenha, Missa Festiva no domingo, após a última novena, e a
Procissão de encerramento na quarta-feira, oportunidade em que eram anunciados
os membros da comissão que deveria organizar os festejos para o ano seguinte.
FEIRA LIVRE
A feira-livre, a qual ostentou, por
muitos anos, o título de maior feira-livre do Brasil. Ela nasceu há mais de
trezentos anos, de maneira totalmente espontânea, pois com a construção da
capela de Santana e São Domingos, começou o local a servir de ponto de descanso
de boiadeiros e tropeiros e, logicamente, pelo ajuntamento de pessoas, nasceu o
mercado de trocas e vendas, e, seguindo assim, como uma bola de neve: o
progresso exigindo progresso. Tudo como aconteceu na Europa quando o feudalismo
deu lugar ao capitalismo.
A feira-livre de Feira de Santana foi
a maior e melhor do Brasil até a construção do Centro de Abastecimento (também
conhecido como Centro de Aborrecimento). Mas vamos dar um passeio pela
feira-livre antiga: na década de 30 existia uma organização na acomodação das
diversas mercadorias, cuja organização nasceu junto com a feira:
A partir da margem da Avenida Senhor
dos Passos, começava com o local de artesanato de obras de barro, como panelas,
pratos, potes, “purrões”, moringas, tachos, entre outras; logo ao lado a
feira de pássaros e gaiolas; depois vinha a parte de galinhas e demais aves,
além de um pequeno setor que vendia ovos.
Feira-livre 1923 |
A parte seguinte se situavam as
“ganhadeiras” que hoje se aperfeiçoou e leva o nome de barraqueiras; como
atualmente, elas vendiam frutas e verduras, o “rosário” de Ouricuri, xangó,
etc.; mais ao fundo, onde hoje se encontra o abrigo na Praça da Bandeira,
ficava a feira dos grossistas que vendiam em sacos de 60 quilos, milho, feijão,
farinha e cereais e, geral. Uma coisa peculiar da região é a divisão da unidade
de um saco de farinha. Um saco de farinha era dividido em 4
quartas, 8 meia quartas e 16 pratos, cuja divisão equivalia a 80, 40, 20,
10 e 5 litros respectivamente. Finalmente ali se vendia desde as sandálias
“salga-bunda”, até preás e cágados.
Em 1914 com a construção do mercado
(hoje Mercado de Arte), a parte da frente ficou para os “marchantes”
(açougueiros), com divisões e boa higiene. Na outra parte abrigava
barracas de cereais no varejo, “bancas de miudezas” onde se vendiam desde
sapatos até agulhas e brinquedos. Também existiam os funileiros que vendiam
bicas, canecos, candeeiros, etc. Atrás tinha o mercado do fato onde as
“fateiras” vendiam os miúdos do boi: rabada, mocotó, tripas, bucho, etc.
Feira-livre década de 50 |
A parte da feira-livre, que terminava
na Rua Marechal Deodoro até entre o atual “Abrigo” e a Rua Cons. Franco. Na
década de 30 do século passado, se situava o ponto de estacionamento para
poucos carros e muitos animais de montaria e de carga. O abrigo que foi a
primeira Rodoviária de Feira, marcava o final da feira e começava o
estacionamento para carros e animais. É oportuno lembrar que existiam
casas que faziam do quintal um estacionamento, com mourões separados para
estacionamento de animais inteiros, castrados, éguas, burros e jegues; tudo
organizado com porteiro e zelador; o primeiro cobrava e o segundo cuidava para
que os animais não brigassem.
A feira-livre, com destaque para as
“Ganhadeiras” que expunham suas mercadorias no solo forrado com esteira ou pano
de saco, então com improvisações de barracas. Na verdade, a feira-livre, junto
com a feira do gado, era o sustentáculo do comércio, e este, a base da economia
da antiga Feira de Santana.
IGREJA SENHOR DOS PASSOS
A Igreja Senhor dos Passos merece bem
mais do que um simples resumo, dada a sua longa e bela história. Aliás, vou
transcrever o seu início, constante na página da Arquidiocese de Feira de
Santana na internet: “Em 1852, o Coronel Felipe Pedreira de Cerqueira concluiu
uma Capela (1) com a invocação de Senhor dos Passos, que, pela sua grande devoção,
fez erigir, às suas custas, um Templo que fazia conjunto com o casarão onde
morava e um cemitério”.
Capela, cemitério e casarão que foram demolidos. Foto de 1920. do arquivo do Blog Santanópolis |
É importante lembrarmos que a Rua
Senhor dos Passos ficava onde estava a primeira Capela, sendo a rua principal
do comércio, escritórios de advogados, médicos, fotógrafos e outros
profissionais que para aqui se deslocavam nos dias da feira-livre, como
consta nos jornais da época, ora presentes no belo trabalho de Carlos Brito e
Arcênio Oliveira, com o título de MEMÓRIAS (Periódicos Feirenses 1877/1888).
1. Notas do Blog: A Capela foi erradicada em 1920, juntamente com o cemitério e o Casarão, para a abertura da av. Maria Quitéria, hoje av. Getúlio Vargas, no governo do Intendente Bernardino Bahia. No lugar do cemitério e casarão foi construída a Prefeitura Municipal pelo Prefeito Arnold Silva, genro de Bernardino.
Abaixo postagens sobre o mesmo tema neste Blog.
1. Notas do Blog: A Capela foi erradicada em 1920, juntamente com o cemitério e o Casarão, para a abertura da av. Maria Quitéria, hoje av. Getúlio Vargas, no governo do Intendente Bernardino Bahia. No lugar do cemitério e casarão foi construída a Prefeitura Municipal pelo Prefeito Arnold Silva, genro de Bernardino.
Abaixo postagens sobre o mesmo tema neste Blog.
DOMINGO, 3 DE NOVEMBRO DE 2019
PEDRA FUNDAMENTAL DA IGREJA SENHOR DOS PASSOS
SEXTA-FEIRA, 4 DE DEZEMBRO DE 2015 IMAGEM ANTES DA CRIAÇÃO DA AVENIDA GETÚLIO VARGAS - 1920
SEXTA-FEIRA, 4 DE DEZEMBRO DE 2015 IMAGEM ANTES DA CRIAÇÃO DA AVENIDA GETÚLIO VARGAS - 1920
DOMINGO, 5 DE MARÇO DE 2017 ABERTURA DA AVENIDA MARIA QUITÉRIA
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