A CONSCIÊNCIA NEGRA E A MULATICE BAIANA

 Franklin Maxado é bacharel em Direito e em Jornalismo, poeta, ex-Presidente da AFL-Academia de Letras de Feira de Santana e também do IHGFS- Instituto Histórico e Geográfico, ex-diretor dos museus Regional de Arte e Casa do Sertão, além de ter trabalhado em vários jornais da Bahia e de São Paulo,

Nota do Blog. Franklin foi casado com uma negra muito bonita, que o coloca em posição de discutir o tema sem conotações racistas.

0 conceito de mulato, tão acentuado por Jorge Amado, atualmente sofre uma espécie de preconceito no Brasil. Mesmo nesta Bahia onde se propaga as misturas de som, de sabor, de cores, de culturas mas se fica reticente em definir etnias. Se o indivíduo é pardo, sarará, "marrom", "roxinho", "queimado", "cinzento”, "pretinho" na aparência epidérmica radicaliza logo que é "negro".

0 negro, que foi trazido como escravo, pôde manter elementos de sua cultura de raízes principalmente aqui na Bahia, resistindo mesmo a duras penas ou com tolerância dos senhores brancóides. Embora passassem por "brancos", portugueses e espanhóis já chegaram misturados por outros povos formadores e acentuadamente árabes que consideramos mestiços.

Sua vivência foi diferente nos Estados Unidos onde a colonização inglesa os segregava e proibia de cultuar seus valores, inclusive religiosos. A libertação dos seus escravos possibilitou oportunidades de desenvolvimentos económi­co e cultural, mesmo segregados numa sociedade paralela. Cresceram com lutas mas à margem do oficialismo e, mui­tos até exagerando como o teórico Malcom X: tenho ódio de brancos e de negros que se casam com brancos.

Tal assertiva é discutível no Brasil onde os negros não se conservaram "puros". Ou, por bem ou por mal, houve uma mestiçagem. Os "brancos" lusitanos vieram sem esposas e aqui tomaram negras e índias como companheiras. E, tiveram haréns como seus colonizadores na Europa: os árabes.

Houve uma prole mulata (com as mães negras). E, mameluca com as indígenas, especialmente nos sertões com a colonização por fazendas de gado. Já os mulatos foram mais na capital Salvador e nas terras do seu Recôncavo com as plantações da cana de açúcar. Por isso, a capital da Bahia pode ser considerada "a maior cidade africana fora da África". O conceito é discutível, pois seus "negros" são misturados bem como a cultura que apresentam.

Contrabalance-se que Salvador também é considerada "a maior colónia galega fora da Galícia" e que seus membros influenciam, pois estão bem colocados no comércio, na indústria e em outras atividades importantes. Na falta dos portugueses retornados, esses espanhóis suprem seus irmãos ibéricos.

Entretanto, não esqueçamos também que a capital da Bahia foi co-fundada por indígenas que já viviam aqui e que ajudaram os portugueses nessa empreitada. Salvador foi mameluca com a descendência de Diogo Álvares e suas mulheres índias antes de ser brancóide e "mulata". Ou, “negra", como dizem agora. Ou, para ser mais politicamente correto: "afro-descendente"!

É pena que os índios tenham sido tanto diluídos e massacrados para também reivindicar uma Salvador, "cidade morena", como inevitavelmente aconteceria se a capital fosse interiorizada.

Replicando coluna de Franklin Machado do jornal "Municípios em EM FOCO", edição de 02/12/19.