Hugo Navarro Silva |
Quando foram criados os meios de adaptar o motor a explosão aos veículos
de transporte, há pouco mais de cem anos, a humanidade exultou com os
reluzentes e poderosos automóveis postos à sua disposição que passaram a ser,
como até hoje, um dos principais motivos de desejo da humanidade. Pouco tempo
depois Henry Ford, com a sua linha de montagem, ensinou ao mundo a maneira de
produzir automóveis em grande quantidade e preço reduzido, provocando
verdadeira revolução nos transportes e no modo de vida dos norte-americanos,
exportada, aos poucos, para todo o mundo.
O motor a explosão, quando colocado a serviço do transporte de pessoas e
do trânsito de mercadorias, transformou, drasticamente, a vida, paisagens e o mundo dos negócios, banindo
carroças, carruagens e diligências e fazendo séria concorrência ao trem de
ferro que vinha transportando o progresso nos paises mais desenvolvidos.
A pronta e algumas vezes apaixonada aceitação do automóvel, que passou a
rodar em número sempre crescente, porque significa liberdade de locomoção e, em
muitos casos, demonstração de bom gosto, poder e prosperidade, forçou os governos
a construir estradas e viadutos, chegando à sofisticação do asfalto e das
rodovias de alta velocidade, dando origem ao aperfeiçoamento da pavimentação de
vias urbanas e rurais, pelo que poderíamos dizer, como estimado candidato a
vereador, que o automóvel é “amigo do campo e da cidade”.
Seria difícil, hoje, calcular o número de pessoas que vivem dos
transportes automotivos. A legião dos que tiram sustento da indústria, do
comércio e da prestação de serviços, que gira em torno dos veículos, desde os
altos dirigentes de indústrias ao simples borracheiro de ponta de rua é imensa,
transformando-se, no decorrer do tempo, para usar de linguagem comum aos
políticos de hoje, em gigantesco fato gerador de emprego e renda, presente em
toda parte.
E de tal sorte os veículos motorizados se vêm multiplicando, sob formas
variadas, que vão dos gigantescos caminhões às motocicletas, engarrafando ruas
e estradas, quase sem deixar espaços para os míseros pedestres, criando graves
problemas de segurança diante do crescente número de vítimas com as quais o
trânsito vem enchendo hospitais e sobrecarregando a capacidade dos cemitérios,
que o governo resolveu agir.
Atribui-se grande parte dos acidentes, desgraças, brigas e crimes do
trânsito à cachaça, ao leite de moça, ao forra-peito nas suas diversas formas,
que vão dos destilados aos fermentados, e são, como as mulatas, as verdadeiras
preferências nacionais. Daí a heróica e recente providência legal que leva à
cadeia e a outras punições até quem prova da caninha e se põe ao volante de
veículo.
O caso tem provocado discussão e opiniões, algumas dando a entender que
são frutos de alucinação alcoólica, a respeito do uso do agora famoso
bafômetro, que na pressa, má fé ou ignorância do agente policial pode ser lido
de forma errada, embora ninguém seja obrigado a soprar no referido instrumento,
sujeito, como qualquer outro destinado a medir quantidade, volume e peso, a
necessária e atualizada aferição feita por gente especializada e ainda não
corrompida.
A bebida alcoólica faz parte da vida desde o famoso porre de Noé, em que a
Bíblia, pela primeira vez, menciona o uso do vinho como parte de celebração. A
bebida sempre esteve nos hábitos e comemorações, aniversários, casamentos,
reuniões, no inverno e no verão, em nomes de ruas, no folclore e na literatura.
Beber, entretanto, para dirigir veículo, que se transformou, ultimamente, em
arma mais perigosa do que a de fogo, é costume que deve ser reprimido e punido,
embora a quase unânime opinião popular, a respeito do momentoso assunto, esteja
nos versos recolhidos por Luis da Câmara Cascudo:
“Bebe o chefe de polícia/ particular ou escondido,/ o padre por mais sabido/
toma seu trago na missa./ Eu também tive notiça/ ou por outra ouvi dizer,/ e
tanto que posso crer/ no dizer de certa gente,/ que bebendo o presidente/ não é
defeito beber.”
Hugo Navarro da
Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis.
Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte".
Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida
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