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FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

OS MISTERIOSOS EFLÚVIOS NATALINOS

Hugo Navarro da Silva


O Forum local ainda funcionava, heroicamente, no andar superior da Prefeitura, prédio que recebeu, recentemente, o nome de Paço Municipal Maria Quitéria mas ninguém acreditou como tem ocorrido com tantas outras designações de equipamentos urbanos desta cidade. Ali pontificava o advogado Vicente dos Reis com seu naco de mascar e seu pó de tabaco. A política havia voltado à moda. Vicente, que chegou a se candidatar à vereança, se autodenominava de “advogado dos pobres” influenciado, talvez, pela ação trabalhista do getulismo a que se filiara, e se entregava à azafama forense, a incursões partidárias e a artigos que publicava na “Folha do Norte”, sempre em defesa dos pobres, antecipando-se, talvez, ao que o futuro reservaria à política do nosso país  e participando de interessante fenômeno que a História reservaria ao povo brasileiro.
Getúlio governou o Brasil durante quinze anos, em regime ditatorial que talvez tenha feito mais vítimas do que  o regime militar de 1964, mas até hoje sofre poucas críticas, que se contrapõem a rasgados elogios sem a ajuda de comissões da verdade, talvez porque aos supostos injustiçados e perseguidos daquela época não foram oferecidos prêmios, aposentadorias e pensões, como agora,  vantagens que estão a atrair e a criar um sem número de vítimas a disputar carreira com o programa do “Bolsa Família” em cujo rol de beneficiários descobriram até a presença de um felino, o fofo gato “Billy”.
Vicente dos Reis viveu em época de dificuldades e pobreza do povo feirense. Faltava luz constantemente e a água consumida era a de cisternas, vendida nas ruas em barriletes transportados no lombo de jegues, dando nascimento a enorme classe de trabalhadores, a dos aguadeiros, que se apresentava nas festas populares com seus animais ajaezados de papel de seda de cores variadas.
Em certo fim de ano Vicente preparou cuidadosa e apressadamente um inventário. Era o seu peru de Natal (dizia ele). Deixou tudo pronto para a homologação do juiz, o Dr. Oscar Mesquita, professor de Latim do Colégio Santanópolis, (grifo do Blog) homem de índole calma e bondosa, e aguardou ansiosamente a sentença. Quase não dormia.  Avisado, pelo escrivão, correu ao cartório para ver o resultado. Lá estava a esperada sentença mais ou menos nos seguintes termos: É fim do ano. Já ouço o bimbalhar dos sinos do Natal. A humanidade renova esperanças de paz, harmonia e prosperidade ao comemorar o nascimento do Redentor. Desejo, a todos, Boas Festas e Feliz Ano Novo. Voltem (os autos) depois das férias. Naquele tempo as férias forenses incluíam parte de dezembro e os meses de janeiro e fevereiro. Atualmente, em alguns casos, são perpétuas como certas tumbas. Vicente quase teve um ataque. As esperanças do peru voaram para longe.
O Natal, entretanto, significa tempo de encantamentos e sortilégios. É como se grande parte das pessoas, no mundo cristão, ingressasse, subitamente, na humanidade, despertando o desejo de confraternização e as mais doces lembranças da vida, misturadas com sentimentos fraternais de amizade e solidariedade.
Mas, nem sempre é assim, infelizmente. O fim de ano significa, também, gastos nem sempre moderados, correrias e ansiedades, o crescimento de apetites imoderados não apenas pelo peru natalino, mas pelo resultado de certas práticas que  se tornaram comuns no Brasil  moderno, pondo as coisas de cabeça para baixo. Daí que vemos carros à frente dos bois, excessos sem explicações razoáveis e exagerada dedicação à defesa da lei como jamais existiu nos arraiais caboclos, despertando dúvidas e razoáveis desconfianças semelhantes às que Hamlet manifestou  a respeito do antigo reino da Dinamarca. 

Hugo Navarro da Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis. Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte". Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida
 

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