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FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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domingo, 20 de outubro de 2013

O PROFESSOR

Hugo Navarro da Silva


João Ribeiro, em sua “Filologia”, advertiu o país para o que estava acontecendo com os professores brasileiros, “uma pobre classe ferida pelo mais entranhado desdém da República”. Chega a dizer que aos professores, perdendo regalias, honras e vantagens, bem assentava a designação retórica de sacerdotes, reduziada, a classe, à “situação franciscana e honrosa de Ordem mendicante”. Tinha razão ao dizer que já no seu tempo ser professor era bico ou biscate, arranjo, achego, o verdadeiro “ofício da miséria”. Nem sempre foi assim. Em tempos anteriores, dizia-se, apenas quatro pessoas, na comunidade, podiam ter relógio: o padre, o intendente,  o juiz e o professor.  Assim foi, provavelmente, até a época do profº. Geminiano Costa, mestre de primeiras letras do poeta e jornalista Aloísio Rezende, cuja memória é honrada  com o nome de rua desta cidade. E não era apenas o lado financeiro. O professor desfrutava de prestígio social e  político, ouvido em todos os assuntos do interesse da comunidade. Agora, para pleitear aumento de salário e pobres avanços em sua condição de trabalho, tem que se aventurar em perigosas passeatas noturnas, enfrentar a polícia e tolerar a infiltração de grupos  radicais,  acobertados de máscaras, cujos verdadeiros propósitos, chefia, planejamento e financiamento  para causar incêndios, pânico e destruição  ainda são misteriosos.
As homenagens esta semana prestadas ao professor, em todos os níveis, mostraram-se pálidas diante dos verdadeiros merecimentos da classe na formação da sociedade brasileira hoje um tanto ofuscados pelos rumos que a sociedade vai tomando em que o mestre, principalmente  o de primeiras letras como antigamente era conhecido, enfrenta dificuldades jamais imaginadas, frutos dos novos tempos, da correria, dos perigos da vida moderna e do crescente e desordenado aumento da população.
Ainda estão na lembrança de muitos, nesta terra, figuras notáveis de professoras que escarafunchavam desde cabelos e orelhas mal lavadas de alunos por acaso relapsos em matéria de higiene até a vida íntima de famílias para corrigir embaraços que pudessem influir no rendimento escolar. Ninguém pode calcular o que a sociedade deve a mestras como Bertholina Carneiro, irmã do padre Tertuliano Carneiro, um dos mais importantes sacerdotes com que contou esta cidade em toda a sua História.
A profª. Bertholina, alta, forte, com sua régua de metro e meio de jequitibá envernizado, com que não poucas vezes teve que impor a sua autoridade, era da família de Cosme e Cícero Carneiro, gente trabalhadora e honrada, de pele escura e originária provavelmente do Recôncavo, com destaque para Ernestina Carneiro (D. Pomba), fundadora do Bairro da Rua Nova, hoje um dos mais populosos da cidade e origem de incontáveis manifestações folclóricas e artísticas. Cosme, exaltado partidário da “Sociedade Filarmônica Vitória”, mandou colocar na fachada de sua casa, na Rua Mal Deodoro, escultura de águia de cujo bico pendiam lâmpadas. A águia era símbolo da “Vitória” e as lâmpadas ficavam acesas todas as vezes que naquela rua a banda ia passar.
A influência da profª. Bertholina e de muitas outras sobre a formação intelectual e moral do povo desta cidade é inestimável e grandiosa. O Brasil, crescendo de modo desigual como está, somente encontrará caminho para o completo desenvolvimento de sua gente quando aprender a valorizar o professorado de primeiras letras, devolvendo-lhe o prestígio e a importância que no decorrer do tempo vem perdendo com resultados desastrosos, porque o ensino fundamental eficiente e valorizado é o que aponta os caminhos para uma vida melhor e mais digna.

Hugo Navarro da Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis. Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte". Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida
 

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