Hugo Navarro da Silva |
O país mostra sinais de ingovernabilidade. Indivíduos vão às
ruas mascarados (apesar de proibição), depredam casas de comércio,
principalmente bancos (símbolos do capitalismo) e equipamentos públicos,
agridem jornalistas, queimam ônibus e carros da polícia, tentam invadir e
incendiar prédios públicos, furtam abertamente,
causam enormes dificuldades à vida de quem trabalha, porque interrompem
os serviços de transporte, e graves danos à tranquilidade pública como
aconteceu, no inicio da semana, nas cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo e
tudo resulta apenas em prejuízos para a sociedade e prisões de alguns
baderneiros, imediatamente mandados para as ruas para novas peripécias e outras
desordens.
Esses graves acontecimentos, que demonstram a falência da
autoridade, apresentam aspectos suspeitíssimos de que tudo é planejado para
justificar a adoção de medidas antidemocráticas. Os desordeiros formam grupos
que se aproveitam de movimentos reivindicatórios legítimos e demostram
organização como se obedecessem a esquema preparado com antecedência. Somos,
hoje, um país à deriva, dirigido por incompetentes e aproveitadores ou por
espertos, alguns macerados no suco da criminalidade, que preparam ambiente
propício à adoção de “medidas salvadoras” como a do partido único
e a da infinita reeleição dos atuais governantes? Afinal, os lucros são grandes
e, a impunidade, maior.
O quadro é de extrema gravidade e deveria estar nas
preocupações dos muitos que falam em democracia e constituição, na maioria das
vezes sem saber o que realmente significam, ou para esconder as verdadeiras
intenções. A História está cheia de exemplos de regimes “fortes” que começaram
a pretexto de por “ordem na casa”.
Nesta cidade, enquanto o país pega fogo e a democracia
periclita, fica-se de um lado para outro a repetir a velha lambança do período
da Micareta. Se criamos a festa, cuja manutenção é necessária, sua data deveria
ser fixada, de forma definitiva, de modo a não deixar dúvidas e evitar as
incertezas criadas pelas conveniências de momento, que todo ano aparecem. Já
falaram até de Micareta em janeiro.
Os criadores da
Micareta tiveram juízo suficiente para fazer a festa com início no primeiro
sábado depois da Pascoela, preservando, assim, melindres religiosos e respeitando sentimento do povo.
A Pascoela, também chamada de Quasímodo, nome de famoso personagem
de Victor Hugo em “Os Miseráveis”, o sineiro deformado que nada tinha de burro
porque apaixonado pela cigana Violeta, celebra-se no primeiro domingo após
Pascoa, tem profundas e antigas raízes religiosas porque era o dia em que
catecúmenos, nos primórdios do cristianismo, vestiam-se de branco para aceitar
o batismo. É prolongamento da semana da Páscoa. Ainda hoje, em certos lugares, o dia
preferido para os batismos.
Afirma-se que a Páscoa
é a data mais importante da religião cristã, em que se celebra a
ressurreição do Cristo. A denominação
tem origem no Hebraico, em termo que designava as comemorações da libertação do povo hebreu, solenidades a que
esteve presente o próprio Jesus Cristo, quando criança, segundo a tradição.
É certo que o estado
é laico. Mas há símbolos que ultrapassam, em muito, o sentido religioso.
Ingressam na cultura e no âmago do sentimento popular e tornam-se
inextirpáveis. O crucifixo, ou, simplesmente, a cruz, passaram a ter
significado que está além da religião e entraram no
lado afetivo gerando poderosas
influências sobre ideias e tendências do nosso povo, dando lugar a fortes
sentimentos como, por exemplo, os das alianças, no casamento, ou o da
bandeira nacional no patriotismo. A
Páscoa e sua extensão têm efeitos similares. Melhor será respeitá-las.
Hugo Navarro da
Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis.
Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte".
Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida
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