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FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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sábado, 5 de outubro de 2013

A DECADÊNCIA DO AUTOMÓVEL

Hugo Navarro Silva


O assombroso desenvolvimento mundial, puxado, principalmente, pelos produtos eletrônicos, que hoje empolgam a humanidade e provocam mudanças que há quarenta ou cinquenta anos ninguém seria capaz de prever, atinge, profundamente, os costumes, hábitos e aspectos desta cidade, em outros tempos lugar aprazível e tranquilo, descrito, pela poetisa, como formoso e bendito, “terra moça de sã natureza”. No dizer do povo, “já era”.

Assim, temos que nos conformar com o inevitável e manifestar até algum regozijo quando se noticia que caiu o número de homicídios em Feira, embora sabendo que a polícia faz, apenas, o que pode, com os parcos meios de que dispõe, e que homicídios, a mais ou a menos, dependem apenas da vontade ou da necessidade de bandidos que atualmente mandam em certas partes da cidade e dominam determinados negócios.

O trânsito é outra questão que a cada dia faz aumentar as angústias da população e do governo, característica dos tempos que estamos vivendo de enormes contradições, encantos e desencantos. Automóvel sempre foi o sonho dourado de grande parte da população. E por vários motivos. O dono de carro subia socialmente e gozava de facilidades amplamente proclamadas, entre as quais a da liberdade de movimentos. Até época relativamente recente, entretanto, veículo próprio era apanágio de poucos. Basta dizer que até os anos setenta andava-se tranquilamente nas ruas. Carros eram raros. Ainda há quem se lembre dos “carros de praça”, uns seis ou sete, que faziam lotação para Salvador nos tempos do após guerra (1939/45), em viagem de três a quatro horas quando tudo corria bem. Seus proprietários, alguns deles, gozavam de grande prestígio e notoriedade, como Pedro, ex-motorista de Carlito Bahia e genro de Afonso do Vinagre, Euzébio, que transportava, sozinho, malotes de dinheiro de agências bancárias entre a Capital do Estado e esta cidade (nunca foi roubado), Luiz Ferreira e Oldack, que dirigia velho Chevrolet, sempre à disposição de todos os farristas, desde os tempos das noturnas e mais ou menos secretas reuniões dos comedores de moquecas de cágado em casa da Rua Marechal Deodoro. Carros particulares contavam-se pelos dedos. Alguns ficaram famosos como o Cadilac, de Florisvaldo Albuquerque, caixa do Banco da Bahia, o Citroën do médico e vereador Osvaldo Pirajá, o Ford, modelo 1930, de José Martins (Zé do Rato) e outro velho Ford, o de Eloi do Nascimento, escrivão do Forum de Santo Estevão.

A partir dos anos sessenta Feira disparou. Suas terras se valorizaram. A cidade cresceu. As chácaras desapareceram, transformadas em ruas e casas principalmente com a chegada de nordestinos, grande parte deles pessoas empreendedoras, que trouxeram o progresso e novas ideias. Foi o tempo do caminhão, que passou a ligar o país de norte a sul. Ser dono e motorista de caminhão eram motivos de desejo e anseio de futuro de muitos jovens atraídos por vida de aventuras e lucros. Com a cabine dupla, a certa altura, os motoristas introduziram, nos veículos, conjuntos de buzinas que tocaram o “Joazeiro, Joazeiro” de Luiz Gonzaga, que fizeram sucesso até recentemente, no interior da Bahia, de onde a rapaziada sumiu em busca de melhores dias, em outras plagas, deixando  extremamente ansiosa e carente a população feminina.

 Recentemente apareceu em Salvador, para dar palestra, o urbanista, ex-prefeito da capital da Colômbia e pré-candidato a presidente daquele país, Enrique Peñalosa, a afirmar, em entrevista, que as cidades, para sobreviver, têm que se livrar dos carros, e  que a salvação está no transporte coletivo. Disse o que todo mundo sabe: sem transporte não há crescimento. Mas, o carro, transformou-se em inimigo do progresso. O mundo é assim. Há pouco tempo comer bem significava garantia de saúde. Agora, mata o sujeito rapidamente.

Hugo Navarro da Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis. Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte". Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida
 


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