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FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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terça-feira, 1 de outubro de 2013

BOM MÚSICO

Hugo Navarro Silva


Em outros tempos houve, no interior da Bahia, o costume de forçar a saída de pessoas de uma comunidade com blocos ou bandos a que davam o nome de “mudança”, que reunia   mascarados  em tom festivo, que ao som de cocos e modinhas atiravam à porta  do não desejado, todo tipo de lixo, latas velhas, panelas rotas e potes quebrados. Tal usança provavelmente deu origem ao tradicional bloco carnavalesco de Salvador, “A Mudança do Garcia”, que no começo de suas apresentações carregava pelas ruas enorme tralha de cacarecos.
A política manteve, durante algum tempo, procedimento semelhante mas profundamente execrável e agressivo. Não foram poucos os casos de residências cercadas de chifres bovinos ou “pichadas” de fezes humanas. O deplorável costume, havido dos colonizadores portugueses, porque não foi criação  de índios, nem  pretos escravos, felizmente desapareceu deixando a certeza de que tudo muda.
Já existiu a crença, baseada em escritos sagrados e defendida pela religião, de que o universo é imutável, contra a opinião de alguns que nunca eram levados a sério ou viam-se perseguidos e punidos como criminosos.  Hoje, ninguém duvida de que não houve criação definitiva e imutável e de que o universo está sujeito a mutações que de forma permanente estão a moldar céus e terra em processo que ninguém pode afirmar seja para melhor ou pior. Somos, todos, prisioneiros de nossos pobres conhecimentos do universo, de sua criação, e da presença humana dentro do  imenso labirinto a que foi atirada.  Assim, o remédio de hoje pode ser o veneno de amanhã e vice-versa.
Com a música, nesta cidade, não foi diferente. Faz pouco tempo cantar em público, principalmente para a mulher, era  vedado sob pena de grandes danos e maiores suspeitas e falatórios. A música sempre esteve no espírito e nos hábitos humanos, mas, a exibição, era para as pessoas mais corajosas. A música, o canto só  no recesso da lar. Músicos das filarmônicas, entretanto, gozavam de prestígio. Houve alguns famosos como o trompetista Osório, Tuta Reis, Isaac, de “Cerqueira & Irmão”, Oscar Bombardino, que tocava na antiga Procissão dos Fogaréus, Francisco Tupinam, tipógrafo, e os mestres Estevão Moura e Tertuliano Santos.
 O aparecimento do crooner, na Pessoa de Clarival Souza (Dudinha), na orquestra Irajá do maestro Brito, foi uma revolução nos costumes locais, que continuaram a se modificar a princípio com o surgimento, em bares, do que se intitulava de voz e violão,  com exageros porque  acrescentamos altos falantes ao esquema para desespero de vizinhos e clientela ainda que renitente.
Nunca deixamos, entretanto, de ter cantores populares a dar colorido à cidade. O mais antigo de que se tem notícia, “Seu Cera”, mulato já  velho que puxava da perna, enchia as ruas de sons cantando “Acorda Adalgisa”. Diocésio Santos, jornalista e ourives, eterno apaixonado, que para se livrar de problemas mudou-se para Santo Antônio de Jesus, onde contava com a proteção do “Velho Mendes”, do jornal “O Paládio”.  De lá, envolvido em novas dificuldades, pediu socorro a um diretor da “Folha do Norte” em carta datada de “Santo Antônio do Diabo”. Gostava de cantar “Tu sabes bem guardar os dons de formosura”, de Vicente Celestino. Houve muitos outros como o preto, gordo, vendedor de músicas, que fazia a propaganda de seu produto cantando a plenos e fortes pulmões.
Andou bem a Prefeitura, portanto, em trazer, para comemorar o aniversário da Cidade, a Orquestra Sinfônica da Bahia, que apareceu, entretanto, tímida, com repertório de músicas de filmes, temendo, certamente, que para o nosso povo instrumento musical  aceitável é só o triangulo  da época do zabumba de Chico Papagaio, ou que  aparecesse alguém da plateia para gritar: “bom músico!” como nos velhos tempos do capadocismo.

Hugo Navarro da Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis. Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte". Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida
 

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