EUFROSINA DE AZEVEDO CERQUEIRA[1]
A PRESENÇA DOS RELIGIOSOS DE INSPIRAÇÃO FRANCISCANA NA CIDADE PRINCESA DO SERTÃO
1. INTRODUÇÃO
Governada pelo
Prefeito Aguinaldo Soares Boaventura e com uma população de 107.205 habitantes,
dos quais 26.578 residiam na sede do município, Feira de Santana era a mais
progressista das cidades baianas quando, em 1951, recebeu a visita do frei Germano
de Colli Del Tronto, também chamado Germano Citteroni, superior da Custódia da
Ordem dos Frades Capuchinhos Menores na Bahia que, na ocasião, se fazia
acompanhar dos freis Henrique de Áscoli e Teodoro de Serravale. O objetivo da
visita dos religiosos franciscanos à cidade Princesa era avaliar a possível
instalação de um Convento e Seminário, uma vez que, essa Ordem Religiosa
recebera, naquele início de década, novos sacerdotes para a missão na Custódia dos
estados da Bahia e Sergipe.
Na oportunidade, entre outras áreas vistoriadas, foi escolhido um terreno que ficava afastado por cerca de 3 km do centro urbano (Figura 1), situado à margem da nova rodovia que interligava Feira de Santana a Salvador, de propriedade do Sr. Fraterno Eliziário de Oliveira. As negociações foram iniciadas e a aquisição do terreno foi efetivada com a permissão de frei Estanislau de S. Severino, Reverendíssimo Provincial das Mareas. Devoto de Santo Antônio, Fraterno Oliveira ao concluir as negociações, em um gesto de despojamento e caridade cristã, fez a doação de outra área de terra, equivalente a um quarteirão, para que a Ordem Capuchinha pudesse construir todas as instalações físicas previstas no projeto.
Após a aquisição do terreno, o superior frei Germano de Coli designou freis Graciano de Santo Elpídio, Isaías de Civitanova, Henrique de Áscoli e o irmão leigo Domenico para a mais nova missão no interior da Bahia. Assim, imbuídos no propósito de contribuir para evangelizar o povo de Deus, edificar um Templo em louvor ao Padroeiro Santo Antônio, construir um Convento e implantar um Seminário para formação de novos membros da Fraternidade, esses religiosos demandaram para Feira de Santana onde formaram a primeira Fraternidade da Ordem dos Frades Menores Capuchinha na cidade.
Recebidos fraternalmente em Feira de Santana os religiosos franciscanos fixaram residência em uma casa no bairro Ponto Central. Em seguida, nas proximidades da área adquirida pela Ordem capuchinha, aproveitando uma garagem da Chácara Deus Dará, de propriedade do Senhor Fraterno Oliveira (Figura 2), instalaram uma Capela (Figura 3) para acolhimento dos fiéis e realização das celebrações religiosas. Nesse imóvel, atualmente situado na Rua Brigadeiro Eduardo Gomes, funcionou o primeiro espaço litúrgico do novo bairro que, desde então, em homenagem aos religiosos, passou a ser denominado de bairro dos Capuchinhos.
Fig. 2. Fraterno de Oliveira |
Fig. 3. Primeira Capela dos Capuchinos |
Foi dessa forma que começou em Feira de Santana o grande sonho dos frades “capuchinhos”, assim denominados pelo uso da “batina com capuz” usada pelos religiosos da Ordem dos Frades Capuchinhos Menores. Foi do sonho, do compromisso e da fé desses pioneiros que se originou o mais arrojado projeto comunitário da cidade Princesa, atualmente constituído por um complexo Religioso, Educacional e de Comunicação Social, com uma vasta e significativa contribuição ao desenvolvimento religioso, comunitário, ético, educativo e econômico-social da cidade de Feira e das regiões do Recôncavo e Semiárido baiano.
2. OS PRIMEIROS PASSOS
Concluída a
aquisição do terreno, a Custódia da Ordem Capuchinha, imediatamente deu
sequencia às providencias referentes ao projeto em Feira de Santana. Nesse,
além da missão religiosa objetivando a evangelização cristã, também estava
prevista a construção de um Convento, onde funcionaria um Seminário de formação
para novos membros da Fraternidade, um Colégio, destinado à educação de alunos
internos e da comunidade externa e uma Igreja, a ser consagrada ao Padroeiro
Santo Antônio. A elaboração dos projetos técnicos para construção do novo
complexo arquitetônico coube ao engenheiro Dr. João Marchesine que, foi
assessorado nessa tarefa pelos religiosos da Ordem capuchinha, especialmente
por Frei Henrique de Áscoli (Figura 4).
Fig. 4. Frei Henrique de Áscoli |
Fig. 5. Padre Mário Pessoa da Silva |
Em novembro de
1951, com a supervisão do frei Henrique de Áscoli, foi iniciado os trabalhos de
construção do Convento. O rápido ritmo de execução das obras permitiu que um
marco significativo na caminhada da Fraternidade Capuchinha viesse a acontecer,
logo no início do ano de 1953. Em 11 de janeiro daquele ano, deu-se a
inauguração do novo espaço litúrgico situado no recém-concluído primeiro
pavilhão do Convento de Santo Antônio. Na oportunidade, com a celebração de uma
Missa Solene, deu-se a mudança da Capela da garagem, cedida pelo Sr. Fraterno
Oliveira, para um novo recinto destinado às celebrações religiosas e
acolhimento dos fiéis.
Na missão
evangelizadora, a Fraternidade dos Capuchinhos também imprimiu um ritmo
acelerado em suas ações. Dessa forma, no mesmo evento de inauguração da nova
Capela deu-se a conclusão da primeira Santa Missão realizada pelos religiosos
da Ordem em Feira de Santana. Ademais, ainda em 1953, foi realizada a primeira
festa em louvor a Santo Antônio, cujo trezenário foi encerrado no dia 13 de
junho, com uma procissão na qual devotos residentes em várias localidades
participaram da Missa Solene, que foi celebrada por frei Isaías de Civitanova.
Por fim, em 9 de agosto, deu-se a fundação do Apostolado da Oração por
iniciativa do frei Isaías de Civitanova
e, em 8 de dezembro, aconteceu a fundação da Cruzada Eucarística
Infantil (Figura 6) por iniciativa de frei Graciano de Santo Elpídio. Fig. 6. Grupo
de menores participantes da Cruzada Eucarística
Posteriormente,
culminando esse ciclo fundamental da Missão dos Frades Capuchinos em Feira de
Santana, no primeiro trimestre de 1956, mais um grande objetivo foi alcançado.
Em 24 de fevereiro, oriundos do Seminário do Convento Nossa Senhora do Rosário
de Pompéia, em Esplanada, chegaram os primeiros seminaristas para o Seminário
do Convento Santo Antônio em Feira de Santana (Figura 7). Em 2 de março
chegaram os seminaristas oriundos do Convento Nossa Senhora da Piedade em
Salvador e, finalmente, em 4 de março de 1956, com o Cardeal D. Augusto Álvaro
da Silva, Arcebispo da Bahia, presidindo a Missa solene, deu-se a inauguração
do novo Convento da Ordem capuchinha na cidade Princesa. Fig. 7. Convento de Santo Antônio
antes da construção
da Igreja
3. O NOVO TEMPLO
Inaugurado o novo Convento e Seminário, a Ordem Capuchinha designou novos membros para a missão em Feira de Santana, objetivando que os mesmos, além das atividades pastorais, também exercessem a docência na nova unidade de ensino e formação religiosa. Assim, além dos freis Graciano de Santo Elpídio, Isaias de Civitanova e Henrique de Áscoli, a Fraternidade passou a contar com os Irmãos leigos Ângelo de Jequié, Silvestre, Domenico, Bernardo de Itapicuru e Marcelino de Itacaré, além dos freis Faustino de Ripatrosone, Germano de Aguasanta, Justo de Cagli, Mariano de Inhambupe, Miguel Ângelo, Virginio de Civitanova e Jorge de Altamira que, posteriormente, passou a ser chamado de Lourival Pereira Vilares, nome do seu registro de nascimento.
As atividades
continuaram e reiniciando o projeto de construção civil, no dia 17 de fevereiro
de 1957, foi lançada a primeira pedra da nova Igreja de Santo Antônio (Figura
8). Ainda nesse ano, com a chegada a Feira do frei Hermenegildo de Castorano
(Figura 9), as atividades da Ordem capuchinha assumiram uma nova e grandiosa
dimensão. Esse religioso, nascido em Castorano, na Itália, além de participar
da fundação da Pia União de Santo Antonio, inovou a comunicação social em Feira
de Santana e região. Duas iniciativas de frei Hermenegildo, com o claro
objetivo de evangelizar e divulgar as ações da Ordem, marcam esse novo momento:
a fundação em novembro de 1957 do jornal “A voz de Santo Antônio” (Figura 10) e
a transmissão radiofônica de programas religiosos e Missas. Fig. 8. Lançamento da
Pedra Fundamental da Igreja
Fig. 9. Frei Hermenegildo |
Fig. 10. Logomarca do Jornal “A
voz de Santo Antonio”
|
[1] Mestra em Engenharia Civil pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, doutoranda do Programa de
Desenvolvimento Regional e Urbano da UNIFACS e Professora Assistente da
disciplina de Mecânica na Universidade Estadual de Feira de Santana.
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