In memorian
A professora Maria Diva Mattos Portella, casada com
o comerciante espanhol Enrique Portella, tinha decidido que seu primeiro filho
nasceria pelas mãos do parteiro (hoje apelidado de obstetra) Macedo Costa, na
Cidade da Bahia (assim os feirenses chamavam, naquele tempo, a Capital do
Estado); dessa forma surgiu, em Salvador, no dia 08 de outubro de 1932, o
feirense Eduardo Mattos Portella, um dos grandes brasileiros dos séculos XX e
XXI.
Fez seus estudos primários na escola da professora
Margarida Brito e o curso ginasial no Colégio Santanópolis, onde despontou como
um dos melhores alunos de português e redação do Mestre Gastão Guimarães.
Como tinha dois tios, João e José de Oliveira Mattos, que moravam em Pernambuco, seguiu então para Recife, lá cursando o colegial e a Faculdade de Direito.
Formado, resolveu aprofundar seus estudos na Espanha, terra de seu genitor, onde também começou a exercer o magistério, na Faculdade de Letras de Madrid.
Retornando ao Brasil, fixou-se no Rio de Janeiro, sendo, inicialmente, nomeado Procurador Jurídico do Ministério da Educação.
Eduardo Portella - (Foto da Ed. Tempo Brasileiro) |
Entendeu, cedo, que a sua vocação não era a área jurídica,
mas a educação e o serviço público.
Foi, então, designado para Assessor Especial da Casa Civil do Presidente Juscelino Kubitschek.
No início dos anos 60, com a criação do Estado da
Guanabara, exerceu a função de Chefe de Gabinete da Secretaria de Educação,
sendo em seguida, nomeado, pelo Governo Federal, para o cargo de Diretor
Executivo do Instituto Brasileiro de Estudos Afro- Asiáticos, órgão da
Presidência da República, que exerceu de 1961 a 1964.
Paralelamente, em 1962, criou a revista 'Tempo
Brasileiro" que originou a Editora Tempo Brasileiro, com seu irmão Franco
Portella. Ao lado de suas atividades do serviço público, passou a lecionar na
Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e, de 1968 a 1971, foi Diretor do Departamento
de Cultura do Estado da Guanabara.
Em 1979, em pleno exercício da Diretória da
Faculdade de Letras, foi convidado pelo Presidente João Figueiredo para o cargo
de Ministro da Educação, Cultura e Desportos, com a promessa da abertura
política, tanto que respondendo ao convite disse: " Se for para abrir,
aceito; para fechar Universidade não".
A sua passagem pelo Ministério resultou,
dentre outras coisas, na criação da Embrafilme, da Embralivros, no incremento
da distribuição do Livro Didático, por meio da Fundação Nacional de Material Escolar, como também na tentativa, em vão, de extinguir os exames de Admissão e
Vestibular[1].
O Ministro Eduardo Portella em visita oficial a Feira de Santana (Foto do Blog Demais) |
Segurou,, ainda, por 1 ano e 8 meses, o Ministério, com o
Ministro da Fazenda, Delfim Neto, não repassando verbas, pois a filosofia de
Portella "Educar para desenvolver", contrariava a de Delfim, que
expressava "Desenvolver para educar" que significava que jamais o
Brasil iria se desenvolver sem educação.
Tanto que, a verba para o reajuste pretendido pelos
docentes em greve, só foi liberada após a saída de Portella, aliás, 24 horas
depois. Em novembro de 1980, ocorreu greve geral de Professores das
Universidades Federais, e Portella, ouvido por um jornalista sobre o movimento
respondeu de pronto: "Eu me sentiria muito mais confortável do outro lado
do rio", o que provocou a resposta do Presidente da República "E por
que já não foi?".
Enfim, houve a demissão, no dia 26 de novembro de 1980, e a
célebre frase, conhecida pelo Brasil, "Eu não sou Ministro, eu estou
Ministro".
Tive a honra, ao lado da minha esposa, Vera, de Franco
Portella e Kátia Carvalho, de sermos os únicos quatro brasileiros civis a
receberem Eduardo Portella na Base Aérea do Rio de Janeiro, no seu retorno de
Brasília, após a demissão, pois, além de ter sido vetado o seu desembarque no
Aeroporto Internacional do Galeão, foi também impedida a entrada de pessoas
para recebê-lo na Base Aérea, já que os Professores preparavam uma
manifestação.
No outro dia, ouvido pela imprensa nacional,
Portella afirmou categoricamente: "Delfim é o único gordo mau que eu
conheço". Deixando o Ministério, retornou ao seu lugar de escritor e
professor, mas exerceu, ainda, três importantes Cargos Públicos: Secretário de
Cultura do Rio de Janeiro, Diretor Adjunto da UNESCO por 5 anos e Presidente da
Biblioteca Nacional.
Escreveu mais de 30 livros, recebeu inúmeras comendas,
títulos de Doutor "Honoris Causas" e Professor Emérito da
Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Pertenceu a diversas Academias, destacando-se as
Brasileiras de Letras e de Educação e a Europeia de Artes, Ciência e Letras,
com sede em Paris.
Nesta a menor dúvida, que Eduardo Mattos Portella foi um grande brasileiro, tendo honrado sobremaneira a sua Pátria.
Aos 84 anos faleceu no Rio de Janeiro, no dia 02 de maio de 2017, deixando viúva a Sra. Célia Portella e uma filha, a escritora Mariana Portella.
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[1] Na verdade, em 1972, na Lei de Diretrizes e
Base de Educação 5.692, o Admissão já tinha sido extinto, o Vestibular não. A
extinção de exames estanques, foi tese de Áureo Filho incorporada por muitos
que viveram o Colégio Santanópolis, como Eduardo Portela.
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