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FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

A TELEVISÃO - III

MARCOS PÉRSICO – Santanopolitano, cineasta, teatrólogo, escritor.

A TELEVISÃO - II
 


Naquele instante, o delegado perdeu as estribeiras e saiu da porta pra fora.

-    Pois se arrisque, coronel, a fazer isso, tranco o senhor lá den­tro e o deixo até o dia que eu quiser, aqui a autoridade sou eu.

O coronel enfurecido entra no Jeep e sai em direção à delega­cia. Chegando à porta do prédio, desce do veículo empunhando seu rifle, aproxima-se da porta e dispara um tiro na fechadura e esta se abre.

A essa altura o delegado Gilberto já vem correndo pela praça e quando entra na delegacia encontra o coronel dando coronhadas nas correntes que prendem a porta da cela onde está o técnico. O cadeado se abre e o coronel retira o rapaz de lá.

O delegado assustado com o ocorrido dá voz de prisão para os dois.

-     Os senhores estão presos em nome da lei.

-    Que lei, delegado? Aqui a lei sou eu. Venha me prender pra eu mandar rasgar seu bucho de cima a baixo.

Segura o rapaz pelo braço e diz:

-     Vamos embora rapaz, deixa esse porco aí.

Voltando-se para o delegado, diz:

-   A partir de hoje, delegado Gilberto, o senhor ganhou um inimigo.

Estava selada uma briga feia na cidade. Poucas pessoas presen­ciaram o ocorrido, mas esse pouco se incumbiu de espalhar o fato já bastante aumentado.

Pra se ter uma ideia de como o fato cresceu no resto do sábado e na madrugada do domingo, o padre José não celebrou a missa do domingo por falta de fiéis. Ninguém se ousou a sair de casa.

Enquanto isso, o técnico instalou a TV na casa do coronel.

Era um aparelho enorme, vinte e uma polegadas. O móvel era na cor marfim, tinha uns botões dourados e era da marca Invictus. Uma coisa do outro mundo. A antena teve que ser colocada bem acima da cumeeira da casa. Quanto mais alto a antena, melhor a recepção. Gira a antena pra lá, gira pra cá e pronto. Lá estava a imagem aparecendo. Meio chuviscada, é bem verdade, mas dava pra ver gente se mexendo lá dentro e ouvia-se a conversa deles.

Victória Régia se escondeu, sabe-se lá onde, e seu Roberto teve uma diarreia medonha e se trancou no seu quarto. Nem sequer terminou de ajudar o técnico a colocar a antena no lugar. No pri­meiro sinal, seu Roberto estava na sala e quando ouviu vozes e viu umas imagens, se cagou todo e não teve mais coragem de entrar na casa. Victória Régia danou a gritar e sumiu no mundo.

D. Emengarda cuidou do jantar e depois de assistirem mais alguma coisa no novo aparelho, foram dormir, pois o domingo prometia. Durante todo o processo, coronel Salú não deu uma pa­lavra sequer. Estava remoendo o ocorrido com o delegado. Não conseguiu dormir a noite inteira e D. Emengarda achou que foi por causa da TV.

O dia amanheceu com sol. O coronel foi até o pequeno curral, e enquanto tirava leite de uma vaca ouvia o rádio do seu Roberto tocar. Pegou o balde com leite, levou até a cozinha pra Victória colocar pra ferver e não a encontrou, nem tampouco o fogo estava aceso.

Foi até a porta do quarto do Sr. Roberto e o chamou.

- Seu Roberto abre a porta, homem... Tá com medo de que? Abre essa porta...

Seu Roberto, com cara de assustado, abriu a porta e o coronel entrou pela primeira vez no quarto.

Continua na IV postagem de "A TELEVISÃO"


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