Naquele instante, o delegado perdeu as estribeiras e saiu da
porta pra fora.
- Pois se arrisque,
coronel, a fazer isso, tranco o senhor lá dentro e o deixo até o dia que eu
quiser, aqui a autoridade sou eu.
O coronel enfurecido entra no Jeep
e sai em direção à delegacia. Chegando à porta do prédio, desce do veículo
empunhando seu rifle, aproxima-se da porta e dispara um tiro na fechadura e
esta se abre.
A essa altura o delegado Gilberto já vem correndo pela praça
e quando entra na delegacia encontra o coronel dando coronhadas nas correntes
que prendem a porta da cela onde está o técnico. O cadeado se abre e o coronel
retira o rapaz de lá.
O delegado assustado com o ocorrido dá voz de prisão para os
dois.
- Os senhores estão
presos em nome da lei.
- Que lei,
delegado? Aqui a lei sou eu. Venha me prender pra eu mandar rasgar seu bucho de
cima a baixo.
Segura o rapaz
pelo braço e diz:
- Vamos embora
rapaz, deixa esse porco aí.
Voltando-se para
o delegado, diz:
- A partir de hoje,
delegado Gilberto, o senhor ganhou um inimigo.
Estava selada uma briga feia na cidade. Poucas pessoas presenciaram
o ocorrido, mas esse pouco se incumbiu de espalhar o fato já bastante
aumentado.
Pra se ter uma ideia de como o fato cresceu no resto do
sábado e na madrugada do domingo, o padre José não celebrou a missa do domingo
por falta de fiéis. Ninguém se ousou a sair de casa.
Enquanto isso, o
técnico instalou a TV na casa do coronel.
Era um aparelho enorme, vinte e uma polegadas. O móvel era na
cor marfim, tinha uns botões dourados e era da marca Invictus. Uma coisa do outro mundo. A
antena teve que ser colocada bem acima da cumeeira da casa. Quanto mais alto a
antena, melhor a recepção. Gira a antena pra lá, gira pra cá e pronto. Lá
estava a imagem aparecendo. Meio chuviscada, é bem verdade, mas dava pra ver
gente se mexendo lá dentro e ouvia-se a conversa deles.
Victória
Régia se escondeu, sabe-se lá onde, e seu Roberto teve uma diarreia medonha e
se trancou no seu quarto. Nem sequer terminou de ajudar o técnico a colocar a
antena no lugar. No primeiro sinal, seu Roberto estava na sala e quando ouviu
vozes e viu umas imagens, se cagou todo e não teve mais coragem de entrar na casa. Victória Régia danou a gritar e sumiu no mundo.
D. Emengarda cuidou do jantar e depois de assistirem mais
alguma coisa no novo aparelho, foram dormir, pois o domingo prometia. Durante
todo o processo, coronel Salú não deu uma palavra sequer. Estava remoendo o
ocorrido com o delegado. Não conseguiu dormir a noite inteira e D. Emengarda
achou que foi por causa da TV.
O dia amanheceu com sol. O coronel foi até o pequeno curral, e enquanto tirava leite de uma vaca ouvia o rádio do seu Roberto tocar.
Pegou o balde com leite, levou até a cozinha pra Victória colocar pra ferver e
não a encontrou, nem tampouco o fogo estava aceso.
Foi até a porta
do quarto do Sr. Roberto e o chamou.
- Seu Roberto abre a porta, homem... Tá com medo de que? Abre
essa porta...
Seu Roberto, com cara de assustado, abriu a porta e o coronel
entrou pela primeira vez no quarto.
Continua na IV postagem de "A TELEVISÃO"
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