Martiniano Carneiro entra nas "QUERELAS" com o artigo abaixo.
CONTENDAS E CONTEDORES
Na verdade não podia eu
encontrar uma ocasião que me fosse maís propicia mais favoravel, para então mais
facilmente expor o meu vão e humilde juiso que faço sobre as contendas e os
seus contendores.
Embora com muito pouco saber,
sem a menor intuição das cousas, muito intrusamente procurei ás cegas bispar
alguns pontos que me fossem permitidos dizer relativamente às polemicas.
E quasi que a proposito disto
surgio agora uma contenda entre os dois Jovens, Aluizio e Werdeval; e
realmente é para me fazer pensar que foi a proposito mesmo, tal coincidência.
As contendas que não passam de
ideias oppostas entre duas ou mais pessoas, como sempre, quasi que são
intermináveis; e muito principalmente quando nos espíritos dos contendores
reina a preterição de não serem vencidos ou derribados.
Bem poucas vezes, casoalmente,
entre os muitos contendores se encontra um só, que então, deante da verdade, da
justiça, ou da razão, se emmudeça e se convença de que errou, de que atirou
apodos a esmo.
Geralmente não é muito fácil
um destes encontros visto que hoje muito resumido é o numero destes
observadores, do direito; os refractários, os inconscientes, os casmurros, com
a banal intenção de dominarem a tudo e a todos, julgam talvez que só elles,
são justiceiros, sábios, ínfalliveis, puros, applicados; que finalmente, só
elles sabem definir tudo de uma maneira exacta e precisa.
E porisso, sem o menor receio
ou remorso lançam ás columnas dos jornaes as suas criticas horripilantes,
indignas até duma convivência já civilisada, sem terem talvez base daquillo
que quiz ou quer criticar.
Qualquer pessoa, que
como eu estiver bem conhecedora da contenda Aluizio-Werdeval, certamente, não
duvidará que esta é uma das taes intermináveis; pois, muito intuitivo está, que
Werdeval não se entrega e Aluizio muito especialmente. Não deve também ignorar
que o collega Aluizio, já ha muito tempo, sem fazer questão de ter ou não razão
ou motivo, interessadamente, vem procurando, como
talvez se procura uma agulha, uma pessoa que lhe dê attenção ás suas criticas
inconscientes e injustas; tão provável isto, que muitas dellas o collega só
teve o prazer de vel-as na sua pasta.
Envolto em uma esperança duvidosa de obter
uma replica para então polemicar e bazofiar que era uma das suas
maiores ambições, já bastante acabrunhado, julgando-se talvez esquecido por
todos que elle criticava, creio também, o collega Aluizio pelas columnas deste
jornalzinho, immerecidamente, lançou um artigo intitulado Ondas, com o intuito
de desfazer o Werdeval e outro collega (José Ribeiro Falcão ) que em dias
passados tinha estreado a sua collaboração, também, neste jornalzinho.
Foi realmente um prazer indizível que lhe
deu este ultimo arremesso critico.
Werdeval lhe respondeu; e então já teria
Aluizio gosado tal satisfação neste mundo?...
Afinal, não era censurável que o collega
continuasse a discutir; mas, se nos seus artigos, se encontrasse em vez de
escarneo e ironia reles, as provas justificáveis da sua defesa ou então, da sua
critica.
Não queira zangar-se o collega Aluizio,
porem, o que eu posso unicamente deduzir do seu artigo, - Pernóstico e
Embusteiro, em resposta ao de Werdeval, - Tarouquices de um critico, é o seguínte:
vendo-se o collega prestes a sucumbir em um naufragio, sem ter o menor.
indicio ou esperança de salvação, recorreu ao único meio que podia existir alli,
embora com todo perigo, afim de salvar-se.
Quero dizer; embora com a detestável apreciação
do publico,o collega afim de esquivar-se do grande certamen em que se meteu
recorreu à forma repugnante de se polemicar, conforme foi a sua.
Eis os motivos, collega Aluizio, porque
para mim você não passa de um critico casmurro, inconsciente e refractarío.
Casmurro - porqne não se convence deante
da verdade; bem como a forma JOVEN, (certíssima), em vez de JOVEM.
Inconsciente - porque procura desfazer o
que não conhece; por exemplo, a sua contradição com esta mesma palavra JOVEN.
Refractario - porque desobedece áquelles
que exercem forças sobre você.
Portanto, melhor seria se o collega demorasse
mais um certo tempo colhendo mais conhecimentos, não obstante já ter algum,
para então, quando houvesse necessidade e cabimento fazer as suas criticas;
assim mesmo, com uma forma mais aproveitável ou agradavel, para não se ver tambem
obrigado a utillsar-se do referido meio único.
Quanto ao collega Werdeval, eu aconselho
que se conserve sempre assim: diplomata e benévolo para com o seu adversário;
embora que no seu ultimo artigo, - Machiavelismo de um novo ícaro - taxasse o
collega Aluizio de bifron, etc.
Quanto a mim,
creio que o collega não perderá talvez o seu precioso tempo em dar-me
attenção; e se resolver a isto só imploro ao collega, a fineza de poupar-me um
pouco dizendo exclusivamente aquillo que eu merecer.
Com respeito ás
suas rigorosas correções de linguagem, eu ficarei um pouco descabriado, não há
dúvida; mas, aceita-la-eis agradecido, se realmente estiverem analogas aos dos
mestres; pois, ninguém mais do que eu precisa, absoiutamente, de mestres.
MARTINIANO CARNEIRO
Feira, Setembro
de 1921
Notas do Blog: 1) os erros por acaso encontrados, são do português da época ou da tipografia.
2) este texto é um Facsimile do jornal "A FLÔR" edção nº24 de 2 de outubro de 1921. pag. 1,3
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