Hugo Navarro da Silva |
O stress transformou-se em enfermidade da moda, embora
suscite dúvidas. Trata-se de doença (uma condição patológica do corpo) ou sintoma
e sinal de enfermidade? Essa é questão para especialistas dos muitos que vivem
a tentar desvendar segredos da matéria
ou do psiquismo do ser humano.
Tempos e dificuldades atuais concorrem para ampliar a
existência do stress, que em certos casos assume até aspectos de status e
elegância no ilimitado mundo das vaidades decorrentes da conta bancária ou de atividades
havidas por artísticas.
Certamente que stress sempre existiu porque dificuldades
nunca abandonaram os seres humanos na luta pela sobrevivência. A necessidade de
alimento e água, a preocupação com a segurança, as doenças, o medo dos
adversários e o terror diante de fenômenos naturais atormentam os homens desde os tempos primitivos. Segundo a teoria da luta ou fuga o indivíduo,
diante do perigo, prepara-se para se defender, o que resulta em intranquilidade,
preocupações, desgaste e cansaço, que deram surgimento à necessidade da vida em
grupos.
Se aceitarmos a definição de grupo como forma básica de
associação humana, o ser coletivo de que falam alguns sociólogos, não podemos
deixar de entender que o chamado grupo
social não pode ser visto apenas como a
soma dos seus componentes, nem como simples contatos e relações condensadas,
que são mais consequências do que causas. Daí que não podemos determinar o
comportamento de grupos conforme a posição de seus membros. É necessário
estudar o meio e os processos mentais a que estão submetidos os componentes do
grupo e até que ponto e em que sentido a interação influi na sua maneira de
proceder. O instinto de conservação grupal diferencia-se do instinto de conservação
individual, daí que nos momentos de necessidade ou crise o grupo adquire
consciência própria, muitas vezes completamente diferente da consciência de
seus membros em virtude de que simples e
pacatas pessoas, no grupo, podem praticar atos criminosos e dar demonstrações
de coragem e heroísmo de que seriam incapazes isoladamente.
Depois da Segunda Guerra Mundial ganhou força na indústria e
na mídia o stress dos materiais, após diversas quedas de avião comercial
inglês, revolucionário porque movido a jato, o De Haviland Comet, que diminuía
sensivelmente o tempo das viagens aéreas, o primeiro a ser lançado em linhas
regulares. A aeronave, depois de certo tempo de uso, se desintegrava no ar. Descobriu-se
que a fadiga de partes da fuselagem, o stress, havia provocado os desastres que
ceifaram dezenas de vidas humanas. O avião foi retirado do serviço mas o stress
de materiais passou a ser preocupação da indústria aeronáutica no mundo
inteiro.
Alguns analistas da atual realidade social brasileira falam
atualmente, do stress que atinge o nosso povo, que tem demonstrado, em várias
oportunidades e diversas situações, algo
que se poderia chamar de ruptura estrutural decorrente de desequilíbrio
que produz tensões.
As reações violentas de grupamentos humanos com prática de
selvageria e vandalismo diante de crimes ou na defesa de interesse grupais,
como em recente greve de garis no Rio de Janeiro, estão dando a entender que o
povo desiludiu-se da existência de governo, não reconhece autoridade, não respeita
a ordem e está marchando para o perigoso sistema do exercício arbitrário das
próprias razões, a aplicação da justiça
pelas próprias mãos.
Hugo Navarro da
Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis.
Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte".
Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida
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