Hugo Navarro da Silva |
A Revolução de 1884, na França, teve um chefe de polícia, Marc Caussidière, que imediatamente convocou
para seus auxiliares indivíduos criadores de problemas, suspeitos de
conspiração, tramoias e confusões e ex presos políticos. Convocado a dar
explicações, disse que pretendia manter a ordem com a desordem. Causou pânico e
perplexidade. Poeta obscuro na Itália, Matastacio
herdou fortuna de senhora casada,
cantora famosa. Renunciou à herança em benefício do viúvo alegando respeito à ordem e temor do inferno, segundo ele
“lugar de confusão e desordem”.
Lauro Müller, em discurso de posse na Academia Brasileira de
Letras exaltou a inscrição republicana da Bandeira Nacional “como lição patente
aos que ignoram ou esquecem” de que não haverá progresso sem ordem, verdade
“para a nação como para os indivíduos”.
Durante séculos se apregoou que o universo, criado em poucos
dias (apenas sete), nasceu perfeito, ordenado e tranquilo, cada astro em sua
órbita. Os gregos acreditavam haver uma preponderância da ordem, sujeita a
interrupções e perturbações. O neo platonismo afirmava que tudo decorria de ente
perfeito de quem a perfeição emanava. A verdade, porém, talvez esteja como
Ovídio, que dá início à suas “Metamorfoses” afirmando que no começo era o caos.
E certamente era, confirmando a teoria do big-bang, da qual físicos e
astrônomos dizem, agora, ter encontrado ecos nos confins do mundo. O universo,
portanto, teria se harmonizado, em parte, ao acaso, no decorrer dos milênios,
sem perder as características de hecatombe, que lhe traçaram as regras da
existência desde o início e colocam o planeta Terra, com tudo o que tem
conquistado a humanidade, em risco perpétuo de destruição como já teria
ocorrido quando a vida cessou, inclusive a dos dinossauros, em catastrófica colisão
provavelmente com meteoro. A suposta ordem do universo existente hoje,
portanto, seria simples resultado do acaso e da sorte.
Entre as lendas populares brasileiras há inúmeras que tratam
do macaco, como a de que macaco não fala e não anda de duas patas para não ser obrigado a trabalhar. É
expressiva a quadra recolhida por Luiz da Câmara Cascudo: “Todo mundo se
admira/ Do macaco andar em pé;/ O macaco já foi gente/ Pode andar como quiser”.
Conhecido ditado, existente sob diversas formas e línguas, recomenda que cada
macaco deve ficar em seu galho. É apelo à ordem.
Os seres vivos, em geral, fugindo das incertezas do universo
instintivamente trataram de criar o hábito
da ordem e regras para a sua observância e garantia, de modo que a vida humana é cercada de normas relativas à ordem, sem a
qual a existência seria eterna batalha
contra tudo e contra todos.
A noção do próprio e do alheio cada um aprende cedo, salvo
algumas exceções, mas é fato que o homem vive tentando dar ordem à vida pública
e privada, dentro dos negócios e do lar, no trabalho ou no lazer. A ordem é
princípio básico de tudo, principalmente nos órgãos de governo e no campo da
política. Sem a ordem o forte esmagaria o fraco e o audacioso, o temerário,
tomaria nas mãos o governo do mundo, a vida, a liberdade e os bens do próximo
sem receio de punição e de reprimenda.
Agiu acertadamente, portanto, a Câmara dos Vereadores, esta
semana, ao negar a palavra a um deputado federal em sessão ordinária. Errou,
apenas, em admitir que o plenário pode decidir contra expresso dispositivo do
Regimento. Não pode e não deve em nome da ordem e da segurança jurídica. No
mais, cada macaco que fique em seu galho. Já é grande serviço à pátria amada.
Hugo Navarro da
Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis.
Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte".
Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida
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