Símbolos do Santanópolis

FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

sexta-feira, 21 de março de 2014

ORDEM OU CADA MACACO EM SEU GALHO

Hugo Navarro da Silva

A Revolução de 1884, na França, teve um chefe de polícia,  Marc Caussidière, que imediatamente convocou para seus auxiliares indivíduos criadores de problemas, suspeitos de conspiração, tramoias e confusões e ex presos políticos. Convocado a dar explicações, disse que pretendia manter a ordem com a desordem. Causou pânico e perplexidade. Poeta obscuro  na Itália, Matastacio herdou fortuna de  senhora   casada, cantora famosa. Renunciou à herança em benefício do viúvo  alegando respeito  à ordem e temor do inferno, segundo ele “lugar de confusão e desordem”.

Lauro Müller, em discurso de posse na Academia Brasileira de Letras exaltou a inscrição republicana da Bandeira Nacional “como lição patente aos que ignoram ou esquecem” de que não haverá progresso sem ordem, verdade “para a nação como para os indivíduos”.   

Durante séculos se apregoou que o universo, criado em poucos dias (apenas sete), nasceu perfeito, ordenado e tranquilo, cada astro em sua órbita. Os gregos acreditavam haver uma preponderância da ordem, sujeita a interrupções e perturbações. O neo platonismo afirmava que tudo decorria de ente perfeito de quem a perfeição emanava. A verdade, porém, talvez esteja como Ovídio, que dá início à suas “Metamorfoses” afirmando que no começo era o caos. E certamente era, confirmando a teoria do big-bang, da qual físicos e astrônomos dizem, agora, ter encontrado ecos nos confins do mundo. O universo, portanto, teria se harmonizado, em parte, ao acaso, no decorrer dos milênios, sem perder as características de hecatombe, que lhe traçaram as regras da existência desde o início e colocam o planeta Terra, com tudo o que tem conquistado a humanidade, em risco perpétuo de destruição como já teria ocorrido quando a vida cessou, inclusive a dos dinossauros, em catastrófica colisão provavelmente com meteoro. A suposta ordem do universo existente hoje, portanto, seria simples resultado do acaso e da sorte.

Entre as lendas populares brasileiras há inúmeras que tratam do macaco, como a de que macaco não fala e não anda de duas  patas para não ser obrigado a trabalhar. É expressiva a quadra recolhida por Luiz da Câmara Cascudo: “Todo mundo se admira/ Do macaco andar em pé;/ O macaco já foi gente/ Pode andar como quiser”. Conhecido ditado, existente sob diversas formas e línguas, recomenda que cada macaco deve ficar em seu galho. É apelo à ordem.

Os seres vivos, em geral, fugindo das incertezas do universo instintivamente trataram de criar o  hábito da ordem e regras para a sua observância e garantia, de modo que a vida humana  é cercada de normas relativas à ordem, sem a qual a  existência seria eterna batalha contra  tudo e contra todos.

A noção do próprio e do alheio cada um aprende cedo, salvo algumas exceções, mas é fato que o homem vive tentando dar ordem à vida pública e privada, dentro dos negócios e do lar, no trabalho ou no lazer. A ordem é princípio básico de tudo, principalmente nos órgãos de governo e no campo da política. Sem a ordem o forte esmagaria o fraco e o audacioso, o temerário, tomaria nas mãos o governo do mundo, a vida, a liberdade e os bens do próximo sem receio de punição e de reprimenda.

Agiu acertadamente, portanto, a Câmara dos Vereadores, esta semana, ao negar a palavra a um deputado federal em sessão ordinária. Errou, apenas, em admitir que o plenário pode decidir contra expresso dispositivo do Regimento. Não pode e não deve em nome da ordem e da segurança jurídica. No mais, cada macaco que fique em seu galho. Já é grande serviço à pátria amada.
Hugo Navarro da Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis. Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte". Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Filme do Santanopolis dos anos 60