Hugo Navarro Silva |
Curiosa, pelo menos, a notícia de blog local de que os
corpos de supostos bandidos, abatidos pela polícia em tiroteio nas proximidades
da sede do Distrito de Humildes, recentemente, seriam velados no prédio da
Câmara Municipal de Ibirapitanga, naturalmente com as demais homenagens
póstumas costumeiramente prestadas a mortos ilustres pelos relevantes serviços
prestados à comunidade, mas não deixou de provocar pasmo e revolta em muitos
dos que ainda não conseguiram se acostumar à bagunça e incrível inversão de
valores que vão marcando setores da vida moderna, no Brasil, onde não está
havendo limites para o que se entende por liberdade.
O crime, a marginalidade, a lesão aos direitos do próximo,
se o fato realmente se concretizou como noticiado, assumem, desta forma,
posição que ultrapassa o heroísmo, a dedicação ao trabalho honesto, o que
demonstra até que ponto a permissividade está fazendo crescer, neste país, a
noção de que tudo é permitido, desde que seja ilegal e desonesto.
Alguns poderão dizer que essa esdrúxula situação vem de
cima, dos políticos, outros, que da falta de policiamento, sempre
insatisfatório e sujeito e falhas, havendo quem aponte o Judiciário como o grande
culpado. É verdade que certos políticos, alguns de enorme influência no seio do
povo, procedem de modo a insuflar ou a justificar o crescimento da
criminalidade e que a polícia, quase sempre vencida por sua própria
organização, dividida, lutando contra baixos salários e carências de ordem
diversa, nem sempre pode fazer frente à criminalidade florescente e
triunfante. E o Judiciário tem a
limitá-lo a Lei, que deve ser obedecida, e, neste Estado, quase todas as dificuldades semelhantes
às do setor policial.
A apuração da responsabilidade criminal geralmente realizada
em dois e às vezes em três processos (inquérito policial, sumário de culpa e,
em casos específicos, a repetição de tudo perante o Júri) é um absurdo, perda
de tempo e de dinheiro, aceitável apenas
nos tempos do rei.
Feira de Santana não deixa de ser um resumo do Brasil de hoje.
Aqui o sujeito entende de erguer barraca na rua. Procura local movimentado como
a Rua Mal Deodoro ou a Av. do Senhor dos Passos, monta estabelecimento no
passeio, às vezes com alicerce, fossa e cama para uso diverso, até para alugar
por tempo limitado. Outro, monta tremendo sistema de som no fundo do carro, que
estaciona onde quer e entende e perturba, dia ou noite, a tranquilidade de toda uma população
desesperada e ainda há igrejas, salvadoras de almas, que procedem da mesa
forma, infernizando a vida de adultos e crianças com seus alto-falantes
diabólicos. Há abusos que se generalizam pela permissividade, passando, para
certa parte da população, o ideia de que tudo é
permitido.
Estamos caminhando para buraco de que em pouco tempo não
haverá saída, se as autoridades competentes não se unirem para punir,
efetivamente, as infrações à lei, por menores que sejam, porque as pequenas
infrações abrem caminho para as grandes. É o que se chama de tolerância zero,
já utilizada em outras partes do mundo com resultados satisfatórios.
Somos país em que a Lei estabelece que adolescente não
comete crime, outorgando diploma de idiota a todos os brasileiros. É como na fábula:
é muito bonito mas não tem cabeça. Mudanças radicais, portanto, são
urgentemente necessárias.
A atuação do secretário Tourinho contra os que perturbam a
paz e a tranquilidade alheias com os seus decibéis exagerados, sagrados ou
profanos, é louvável, mas insuficiente. É necessária a união de todas as forças
e a eleição, para o Congresso Nacional, de quem pense nas agruras e
necessidades do povo. Não de serviçais do Executivo.
Hugo Navarro da
Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis.
Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte".
Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida
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