Hugo Navarro Silva |
A notícia correu célere nas ondas hertzianas com o seu
inevitável conteúdo de decepção e comédia: escola municipal estava funcionando
com “gato” de energia elétrica, fato constatado pela empresa concessionária,
que aplicou multa à Prefeitura em agosto de 2.012, conforme papel recentemente
achado, entre tantos outros, na desarrumação da Secretaria a que se tenta dar,
agora, algum aspecto de ordem. Há fatos imperdoáveis dentro e fora do serviço
público e escola movida a “gato” (furto de energia elétrica), não, é exatamente,
acontecimento educativo a merecer medalhas.
Interessante é que o
“gato” é outro bicho a figurar nos anais do governo municipal. O primeiro da
História foi a vaca, nos anos vinte, que se desgarrou de manada, no Campo do
Gado, pôs em polvorosa a feira da Praça João Pedreira, invadiu a Prefeitura,
decretou correria e quebrou a perna de “seu” Moreira, secretário municipal.
Outro foi o bode preto. Não faz muito tempo, quando a Prefeitura arrostava
acusações de ordem diversa e impopularidade generalizada, altas figuras do
governo teriam se reunido em celebração de magia negra na tentativa de afastar
o azar e liquidar as adversidades, a que estaria presente um bode preto,
indispensável em tais e solenes ocasiões. Figura envolvida no caso do “gato”
teria sido um dos mais proeminentes participantes do ebó, a mesma que se
acostumou a fazer dívidas, em fim de governo, certo de que jamais seriam
quitadas.
O bode nem sempre foi
fornecedor de carne seca, material para umbanda, buchada e, ultimamente,
sarapatel, dizem que de propriedades terapêuticas. Já figurou, embora como
vítima indefesa, em grandes momentos da História Sagrada, em sacrifícios, no
tempo em que os deuses, por certo cansados de sangue humano, passaram a se
satisfazer com o sangue do caprino. Deuses transformavam-se em bode, como
Dionísio, e o animal chegou a ser consagrado a Afrodite, provavelmente por sua
sexualidade havida por inesgotável. Depois de figurar até na Bíblia,
transformou-se em símbolo de luxúria, ingressou nas religiões primitivas e
passou a representar o próprio Diabo, a quem deu face, chifres e pés fendidos.
Alexandre Herculano conta a saga de fidalgo português que se apaixonou, dramaticamente, por dama misteriosa,
belíssima, mas que tinha pés de bode. Era o Diabo.
Não está claro, entretanto, porque gato assumiu o sentido de
ladrão, dando lugar a palavras como gatuno, gatunagem e gatunice. Contam que
Noé gerenciava a sua arca quando foi obrigado a se queixar ao leão. É que os
ratos, que havia levado a bordo, estavam a talar alimentos e a roer o casco da
embarcação pondo em perigo a segurança de todos. O leão, diante dos fatos,
espirrou com violência, lançando das narinas dois gatos, que imediatamente moveram
guerra aos ratos e Noé teve condições de completar a sua tarefa. A lenda,
narrada por Jean Chevalier e Alain Gheerbrant, mostra que o perigo não está nos
gatos, inda que os de energia elétrica, mas nos ratos, não apenas nas
ratazanas, bichos grandes e temíveis por sua fome, visíveis e identificáveis,
mas, principalmente, nos calunguinhas, animais pequeninos, simpáticos,
humildes, que passam quase despercebido por seu aspecto inofensivo mas,
roedores pertinazes e perigosos, são capazes furar o casco de qualquer barca,
não roendo diretamente, que isto faz ruído e desperta atenção, mas agindo no velho sistema da propina para beneficiar
ratões, que pensam agir acobertados pela velha, sabida e desonesta matreirice.
Como aconselha velho
samba, “cuidado Horácio!”
Hugo Navarro da
Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis.
Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte".
Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida
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