Hugo Navarro Silva |
Não foram de bom alvitre ou pelo menos não mereceram os
aplausos gerais da patuleia as comemorações que Dia Mundial da Água. O 22 de
março foi marcado de grandes atividades. Fervilharam defensores, e com tal força, que
muitos procuraram o Ponto do Zequinha e outros locais apropriados e elegantes
na esperança de esclarecimentos. Pensavam que era o fim da Lei Seca. Empresas
privadas e órgãos do governo redobraram esforços na propaganda da defesa do
líquido julgado essencial à vida. O assunto despertou até o interesse da
Câmara. Destoou, apenas, ex-prefeito, atualmente fornecedor de leite ao
programa “Fome Zero”, que se queixou da falta de pagamento do governo, o que
deixa demonstrado que não há pecador sem castigo.
A festa, entretanto, não deve ter agradado a parte da
população do Estado do Rio de Janeiro, vítima da recente indústria que apareceu
no Brasil, a da inundação e do desabamento de encostas, e pode ter causado até
revolta entre nordestinos, cansados da
centenária e certamente rendosa indústria da seca.
Quem teme que a água possa
desaparecer, entretanto, não está levando em conta que gente importante,
cientistas renomados, estão a prever que as calotas polares em breve derreterão
e que a água destruirá todas as cidades costeiras do mundo, contra o que já
tomamos providências. Quando a ruinosa inundação chegar a Amélia Rodrigues estaremos
de mudança para Mairí, que há muito necessita de praia. Não ficaremos aqui, como
Isaias, o da Bíblia, a pedir socorro ao Senhor contra a água que nos ameaça de
morte.
Na mesma ocasião o noticiário foi alarmante em torno do
banho nosso de cada dia, ao afirmar que brasileiro gasta, em média, duzentos e
quarenta litros de água no banho, o que é considerado desperdício contra a natureza.
O alerta, entretanto, não deixa de ter motivos sérios. Na França, que já foi o
país mais famoso e mais forte do Planeta, ninguém jamais tomava banho completo
ou semicúpio. Fez guerras, a Revolução,
às vésperas de cujo Centenário lhe entregamos Copa do Mundo de modo
inexplicável, com um dos jogadores brasileiros dando chilique na hora do jogo,
e inventou o perfume para disfarçar o bodum que emanava principalmente das
chamadas partes baixas de seu honesto, valente e fedorento povo. Aprendeu a se
lavar com a ocupação alemã e perdeu tudo. O único francês surpreendido em banho, na vasta
história do povo francês, foi Jean Paul
Marat, lider revolucionário, morreu na banheira, quando Charlotte Cordeay
passou-lhe a faca. Ambos, assassina e vítima, mereceram quadros de artistas
famosos e referências que ainda sobrevivem na literatura na dramaturgia, novela
e história, inclusive a dos Girondinos de Lamartine, não tanto pela morte, mas
pelo banho, que segundo alguns nem era
de higiene e asseio, mas tinha motivos medicinais. Marat sofria de incômoda
doença de pele certamente causada pela imundície de nobres e plebeus em sua
época.
Os portugueses, quando
aqui chegaram e ainda por muito tempo ficaram escandalizados porque os nativos
banhavam-se várias vezes por dia.
A água encerra simbolismo imenso, inesgotável na História da
humanidade. Muitos dizem que dela nasceu o mundo. Foi a grande matéria prima
primordial. “O ovo do mundo é chocado na superfície das águas.” Serve para
purificar e para as danações eternas. Fertiliza e mata. Oseias compara deus às
chuvas de primavera, às águas que descem das montanhas, ao orvalho que faz
crescer as flores. O homem justo é como a árvore plantada à beira de águas
correntes. A Bíblia é rica em referências á água: “Aquele que beber de minha água
não terá mais sede”, abundantes, também, no Corão.
Os promotores do Dia Mundial da Água deveriam saber que “em
casa de enforcado não se fala em corda”.
Hugo Navarro da
Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis.
Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte".
Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida
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